Documentário retrata saga quilombola na luta por suas terras

“Imprensados”, gravado com comunidades do norte do Estado, reúne depoimentos de lideranças quilombolas sobre conflito por terras

Any Cometti, Século Diário

O título do documentário descreve bem a atual situação enfrentada pelos quilombolas no norte do Estado, que têm suas terras invadidas pelas plantações de eucalipto da Aracruz Celulose, atual Fibria, e pelos latifundiários da região. Imprensados: A luta pelo território quilombola do Sapê do Norte – ES foi gravado em agosto de 2007, nas comunidades de Divino Espírito Santo, em São Mateus, e São Domingos, em Conceição da Barra, mas só no ano passado conseguiu apoio do Edital 012/2012 do Fundo Estadual de Cultura para finalização de obras de audiovisual. Em julho deste ano, o documentário foi finalizado e, nesta semana, será exibido no Museu Capixaba do Negro (Mucane), em Vitória.

A luta pela terra, ocupada por seus antecedentes antes e após a escravatura, é a principal discussão levantada pelos líderes quilombolas retratados no vídeo. Tião Xará, um dos produtores do documentário, destaca que os quilombolas recebem com entusiasmo a ideia do documentário e aprovam a visibilidade que um projeto como esse dá à  sua luta.

O Sapê do Norte, região onde estão localizadas as 39 comunidades quilombolas dos municípios de São Mateus e Conceição da Barra abrigava 12 mil famílias nos anos 1970. Justamente nesse período foi iniciada a monocultura do eucalipto, que isola as comunidades e causa transtornos e impactos sociais, ambientais e culturais que afetam essas comunidades.

Hoje, restam apenas cerca de 1500 cadastradas pela Comissão Quilombola do Sapê do Norte, que continuam manifestando sua cultura secular, apesar dos percalços. Não à toa, um dos dias de gravações coincidiu com o Festival do Beiju, realizado anualmente na comunidade São Domingos.

Desde 2005, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) iniciou os processos de estudo e pesquisa de reconhecimento de território quilombola na região que, segundo Tião, são contestados veementemente pela Aracruz Celulose que, apesar de ter iniciado o plantio de eucalipto muitas décadas após à chegada dos quilombolas, ocupa um território muito maior do que o legítimo desse povo. Áreas de rico valor antropológico, como cemitérios quilombolas e indígenas, e córregos, foram prejudicados pela monocultura do eucalipto.

Tião também ressalta que agricultores do Movimento Paz no Campo, contrário à reforma agrária, resistem à desocupação de terras comprovadamente quilombolas. Cerca de 15 mil hectares de ocupação no entorno das comunidades resistentes seriam de ocupação fraudulenta.

Antes da exibição na capital, o documentário já foi apresentado em duas outras ocasiões à comunidade de São Domingos e só não foi apresentado no município de Divino Espírito Santo por conta de uma enchente que acometeu os locais de acesso no dia marcado. Mesmo assim, foram entregues cópias do documentário.

Gravado originalmente em português, o vídeo de duração de 20 minutos também conta com versões legendadas em espanhol, francês e inglês. Os organizadores buscam uma ampla divulgação da luta dos quilombolas em festivais e cineclubes em todo o mundo. O documentário foi produzido com apoio da Federação de Órgãos Para Assistência Social e Educacional (Fase), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) de São Mateus e das Faculdades Integradas Espírito-Santenses (FAESA).

Serviço

Documentário:Imprensados: A luta pelo território quilombola do Sapê do Norte – ES

Exibição em Vitória: 29/08/2013 (quinta-feira), às 19h30.
Museu Capixaba do Negro (Mucane): Avenida República, 121, Centro.
Entrada Gratuita

Comments (1)

  1. É possível conseguir ter acesso ao documentário fora do ES?
    Eu pesquiso o tema de impactos hídricos das monoculturas de eucalipto em São Paulo e quero trabalhar agora com impactos socioambientais.
    abs,

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