Funai tenta manter sobrevivência de índios que vivem isolados na floresta

índio (Foto: imagens cedidas pela Funai)
índio (Foto: imagens cedidas pela Funai)

Um rio estreito é tudo que separa os índios kawahiva da civilização. Em uma margem fica a aldeia, na outra uma fazenda de gado

G1 – Funcionários da Funai conseguiram registrar imagens inéditas da tribo Kawahiva, uma das últimas tribos isoladas que ainda vivem no Brasil. Até conseguir filmar os índios, os sertanistas só tinham indícios da existência deles. Os kawahiva não praticam a agricultura e são nômades. Quando a caça some, mudam de acampamento. Por isso precisam de um território grande.

As expedições feitas na região encontraram vários acampamentos provisórios na floresta, que revelam os hábitos desse povo. Os objetos feitos por eles usam apenas matéria-prima encontrada na mata.

O teto das habitações e os cestos são feitos de folhas de palmeira. A faca primitiva usa a unha de um animal para cortar. Até pouco tempo atrás, eles utilizavam machados de pedra para derrubar árvores.

Os sertanistas passaram a deixar na mata, presentes para os índios. Eram objetos para ajudá-los nas tarefas do dia a dia, como foices, machados e facões, mas agora eles se assustaram ao encontrar garrafas pet nos acampamentos, um indício claro de que a civilização está cada vez mais perto dos kawahiva.

O território dos índios isolados fica no município de Colniza, na divisa de Mato Grosso com o estado do Amazonas.

A rodovia MT-206 foi aberta para escoar a produção agrícola dessa parte de Mato Grosso, mas por ela chegam também os madeireiros, os grileiros e os garimpeiros ilegais. A vegetação vem sendo destruída em uma área de mata fechada.

Uma das invasões é tão recente que nem a Funai nem o Ibama sabiam de sua existência, segundo Werickson Trigueiro, chefe de fiscalização do IBAMA-MT. “Peguei as coordenadas do local para a gente mandar a equipe por terra fazer uma vistoria. Com os conhecimentos da Funai nesse trabalho em equipe, a gente vai conseguir chegar na área”, explica.

Uma fazenda com galpão e mais de 15 casas foi construída dentro da terra dos índios. Para evitar o contato dos fazendeiros com os kawahiva, a Justiça determinou a suspensão imediata de todas as atividades.

A Funai só se aproxima de uma tribo isolada quando ela corre risco de extermínio. Foi o que aconteceu em 2005, quando a terra dos kawahiva começou a ser vendida ilegalmente.

A Funai estima que o grupo de índios isolados tenha pelo menos 32 indivíduos e quer que o governo declare esse território como área indígena. “As fazendas que estão lá, se mantêm até que a terra indígena seja declarada. Quando a terra for declarada, aquelas benfeitorias de boa fé têm um processo para indenizar essas pessoas. Os outros terão de sair mesmo”, diz Elias Biggio, coordenador de Índios Isolados da FUNAI-MT.

O Brasil é o país com maior número de povos que ainda vivem isolados: são mais de 30, segundo a Funai. Para o coordenador geral de Índios Isolados da FUNAI, Carlos Travassos, a chegada da civilização pode por em risco a sobrevivência dessas tribos. “Esses povos não têm imunidade e resistência e quando há um contágio, um surto epidêmico, ele é fulminante. Grande parte ou mesmo a totalidade desse povo pode vir a morrer”, declara.

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