Pedido de prisão de mulher de Amarildo é tentativa de criminalizar a vítima, diz advogado

Elizabeth Gomes da Silva, esposa do pedreiro Amarildo Souza, morador da Rocinha desaparecido desde 14 de julho, em ato no Rio (Daniel Marenco/Folhapress)
Elizabeth Gomes da Silva, esposa do pedreiro Amarildo Souza, morador da Rocinha desaparecido desde 14 de julho, em ato no Rio (Daniel Marenco/Folhapress)

Paula Bianchi, do UOL, no Rio

Para o advogado João Tancredo, que defende a família do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, o pedido de prisão temporária de Elizabete Gomes da Silva, mulher do morador da favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, feito pelo delegado Ruchester Marreiros, da 15ª DP(Gávea), é uma tentativa de “criminalizar a vítima”. Amarildo está desaparecido desde o dia 14 de julho, quando foi levado algemado por policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha.

Marreiros, ex-adjunto da 15ª DP e atualmente na DRCI (Delegacia de Repressão a Crimes de Informática), solicitou a prisão temporária de Elisabeth por associação ao tráfico, pedido desconsiderado pelo titular da delegacia, Orlando Zaccone, e pelo Ministério Público.

“Isso é uma clara tentativa de criminalizar a vítima, não tenho dúvidas”, afirmou o advogado, ao lembrar um momento da investigação do caso da engenheira Patrícia Amieiro, também desaparecida, em que surgiu uma testemunha dizendo que ela havia ido comprar drogas em uma favela. “Você fala que a pessoa tinha ligação com o tráfico como se assim pudesse justificar a morte.”

Tancredo lembra as condições de extrema pobreza de Amarildo e da mulher, que dividiam um barraco de um cômodo com os seis filhos, sendo sustentados pelos cerca de R$ 600 mensais que ele ganhava como ajudante de pedreiro.

“Se você puder enquadrar a Bete e o Amarildo em tráfico, então esse é o pior negócio do mundo, um exemplo para os jovens do Brasil. A casa deles não tinha nem banheiro com água encanada”, afirmou.

Segundo a Polícia Civil, o pedido de prisão contra Elisabeth foi desconsiderado por falta de provas que comprovassem que a “Bete” citada nas investigações era a mulher de Amarildo e usado apenas como peça de informação do inquérito, já que o delegado Marreiros não estava mais lotado na delegacia. Há, segundo a polícia, apenas um relatório final, produzido por Zaconne e encaminhado ao Ministério Público na quarta-feira (7).

POLÍCIA CIVIL BUSCA PISTAS

Em entrevista à rádio “CBN” nesta quinta (8), o delegado Marreiros disse ter “absoluta convicção” do envolvimento de Amarildo e da mulher com o tráfico na Rocinha. Segundo ele, o ajudante de pedreiro, conhecido como “Boi”, teria aparecido em uma investigação da 15ª DP sobre a quadrilha que agia na comunidade antes do desaparecimento, sendo identificado em depoimentos como uma pessoa que colaborava com criminosos.

De acordo com Marreiros, a mulher do pedreiro “guardava material para o tráfico em casa, utilizava subterfúgios durante as abordagens policiais na favela, avisava sobre a chegada da polícia e participava de reuniões e festas de bandidos”.

Marreiros afirma que 80 acusados de tráfico foram identificados na investigação, alguns apenas por apelidos, caso de Amarildo e da mulher, que teriam tido a identificação completa realizada graças ao registro de ocorrência do desaparecimento.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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