Para alguns (como o motorista de táxi que acaba de me trazer da UERJ para casa), são todos baderneiros, assim como os índios são todos “de araque”. Aliás, ele acabara de ouvir numa rádio que ninguém da tal aldeia sequer nascera perto de floresta; “eram todos bebês de maternidade”. A enxurrada de asneiras acabou quando eu gentilmente disse que se calasse, pois estava falando de ‘amigos’, e que pouco antes eu havia chorado por causa deles.
Ironicamente, eu saía da Reunião anual do Fórum Justiça – uma articulação de movimentos e entidades da sociedade civil, apoiada por Defensores Públicos, principalmente -, na qual havíamos discutido o planejamento para 2013 considerando nosso objetivo maior: a democratização do sistema de Justiça. Digo ironicamente porque foi exatamente uma decisão não-democrática da Justiça (ou um acúmulo delas) que permitiu o cenário de guerra e a destruição da Aldeia Maracanã, no antigo prédio do Museu do Índio.
Confessadamente dividida entre a reunião sobre a Justiça e as injustiças acontecendo a 15 minutos de caminhada de nós, acompanhei via internet a chegada do Bope, a invasão que não respeitou sequer a cerimônia final, os ataques de spray de pimenta, de gás lacrimogênio e de balas de borracha que, na minha única e curta fala, comentei. Mas foi somente quando um rapaz entrou no auditório e pediu tempo para um rápido informe, pois tinha que ir embora, que soubemos que, uma vez esvaziada a Aldeia, seus apoiadores haviam sido perseguidos e atacados até a UERJ, inclusive com bombas de gás lacrimogênio jogadas entre suas pernas, enquanto corriam. E lá estavam, abrigados no hall da universidade, aguardando a partida da polícia para seguirem para a Alerj.
Não vou falar aqui da monstruosidade praticada contra os indígenas, para engrossar as contas bancárias de uns e de outros. Será o assunto do dia, com inúmeras versões, inclusive prós e contras. Quero só falar, brevemente, das pessoas que com eles ficaram, nesses últimos dias, horas e, principalmente, nesta última madrugada/manhã de tensão. Das pessoas que não seguiram os conselhos de Anonymous Rio (postados ontem aqui neste Blog), se preparando para o que certamente viria. Que cometeram os mesmos erros ingênuos que cometi, com outros companheiros e companheiras, quando boa parte del@s estava nascendo ou ainda se preparando para nascer. Mas chega disso; a lição está aprendida e, com certeza, da próxima vez os cuidados serão tomados para diminuir os efeitos do gás e do spray, pelo menos.
Escrevi que falaria brevemente, e é o que farei, homenageando a tod@s a partir de uma figura só. Há pessoas que a gente tem orgulho de dizer que conhece, gosta, é companheira de luta e/ou amiga…
Olhando a foto acima, não se deixem enganar pela altura ou pelo rostinho aparentemente desalentado: ela retrata uma guerreira. Uma guerreira que deveria estar também presente na reunião do Fórum Justiça, mas com quem só me encontrei rapidamente quando saía, no hall da UERJ, de olhos inchados, mas se preparando para ir adiante para a Alerj. Uma guerreira que, além de companheira de lutas, também me repassa informações, como as do início desta madrugada, postadas bem aqui neste Blog. Uma guerreira, enfim, que ainda ousou pedir desculpas por ter faltado à reunião, enquanto eu ria e dizia que ela havia me representado na Aldeia, e eu a representara ali. Só não acrescentei que minhas pernas de correr Avenida Rio Branco e adjacências afora com certeza não dariam mais conta sequer de um trecho da Radial Oeste, com ou sem as lágrimas do gás…
Termino este texto com muito carinho, personificando em alguém por quem tenho grande respeito minha homenagem àquelas pessoas que já começaram a perceber que, lamentavelmente, tudo indica que de diferentes e variadas formas será necessário tomarmos novamente as ruas. E estão topando a parada. Na luta, Mônica!
Que resposta linda! Todo o meu carinho, hermana! Y que vengan!
Tania, no meu portunhol, vou falar da Aldeia, onde a gente fiz irmãos, aprendeu, deu risada, foi invitada a jantar muitas oportunidades. Fizimos conhecer a existencia da luta dos irmãos com uma courta documental em Venezuela e o continente na Telesur, a 4 anos ja. Nos não esquecimos Garapira, não esquecimos o JoseXoha… Si eu estivesse oje em Rio, tenha certeza que estaria no Museo, a Casa dos nossos irmãos, com muita raiva e minha experiencia de anos de lutta na rua… Mas, estou em Montevideo, dando lutta pelas nossas terras, sem indio, com campones, amante do solo que os nossos pes aman. Estou perto de voces, meu coraçao faz braulho no meu peito. Nossas luttas teram um final feliz, vamos no senso da vida e a vida sempre sera por encima de todo. Dou abraço geral, compartilha com quem merece.