Manifesto de apoio aos indígenas de Guaíra e Terra Roxa no Paraná

A Associação dos Geógrafos Brasileiros, Seção Local de Marechal Cândido Rondon, vem se manifestar em relação à luta dos indígenas nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, no Estado do Paraná. Em visita realizada por uma comissão da AGB – Seção de M.C. Rondon, no dia 15 de março de 2013, foi verificada uma situação que demanda de medidas urgentes para a solução das dificuldades enfrentadas pelas 140 famílias indígenas da etnia Avá-Guarani que estão organizadas em 13 ocupações de áreas urbanas e rurais nos referidos municípios.

As famílias indígenas não têm a garantia de condições e direitos básicos mínimos como acesso à água potável, energia elétrica, escola, saúde, etc. Existem situações, como no caso de duas ocupações urbanas em Guaíra, que as famílias se encontram em situação extremamente insalubres, pois estão instaladas próximas ao “lixão” e aterro sanitário. Em outras situações, escolas das comunidades são mantidas pelos próprios indígenas, pois o poder público estadual, principalmente, não aprova a instalação de “escola itinerante” para os indígenas porque considera que suas ações e ocupações são ilegais.

Embora estivessem presentes na região desde passado distante (os vários sítios arqueológicos são cabal evidência da sua presença na região), os indígenas são acusados pelos setores dominantes locais de serem paraguaios que estão invadindo terras no Brasil. Na realidade, estes indígenas foram expulsos de seu território no Paraná a partir da década de 1950 com a Frente de Expansão e muitos migraram para outras regiões, sobretudo para o Estado de Mato Grosso do Sul. Em vista da expansão do agronegócio, sobretudo de cana-de-açúcar, e a bárbara violência cometida contra os indígenas naquele Estado, muitos indígenas estão retornando para seu antigo território nos municípios de Guaíra e Terra Roxa. Portanto, o retorno dos indígenas é motivado pelo contexto de expansão do agronegócio e a violência nele implícita, bem como pela retomada das suas raízes territoriais e culturais, enfim retomada de sua organização social, política, econômica, etc.

Para garantir sua sobrevivência, além de medidas assistenciais, como o Programa Bolsa Família, por exemplo, as comunidades se organizam para produção de subsistência nas áreas ocupadas. Muitos indígenas também buscam trabalho na construção civil, propriedades agrícolas, frigoríficos, colheita de maçã em Santa Catarina, dentre outras. Mas, para dificultar a luta e ocupações, recentemente, empresários e alguns proprietários rurais mobilizam-se na região para a não contratação da mão-de-obra indígena.

Acrescenta-se que os indígenas são vítimas de um bárbaro e sórdido preconceito das elites locais e regionais que se reproduz em meio à população, sobretudo a partir de notícias veiculadas na imprensa. Aliás, geralmente os indígenas são apresentados como invasores de propriedades “produtivas” que visam tomar 100 mil hectares de “legítimos proprietários” e por isso ameaçam o desenvolvimento e o bem estar da sociedade local e regional. Também os segmentos que apoiam as lutas indígenas, inclusive a Funai local, são vistos pelos ruralistas locais organizados nos Sindicatos Rurais Patronais como inimigos do progresso e do desenvolvimento da região.

Mas, ao contrário do que é divulgado, os indígenas não estão reivindicando a demarcação de 100 mil hectares de terra na região Oeste do Paraná. Sua luta é pela demarcação de terras que sejam o suficiente para a garantia de sua existência e reprodução da cultura, modo de vida, tradições, religião, costumes, enfim, do seu território.

A demarcação de terra e o atendimento da reivindicação dos indígenas trará um conjunto de benefícios ambientais à região, pois sua relação com a natureza é harmônica, enquanto a agricultura convencional de negócio (agronegócio), que caracteriza o Oeste do Paraná é altamente dependente do uso de agrotóxicos e venenos nas lavouras, que contamina a água e o solo e destrói a vegetação, fauna, rios, etc. A demarcação dessa área de terras para os indígenas será oportunidade impar para a formação de um território livre de agrotóxico e venenos diversos. Assim, toda a sociedade, e não somente os indígenas, será beneficiada com essa demarcação.

Neste sentido, Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Local de Marechal Cândido Rondon, manifesta seu apoio à luta dos indígenas considerando legítimas suas reivindicações e convida a sociedade civil e entidades organizadas (associações, sindicatos, movimentos sociais, etc.) a se somar favoravelmente a essa luta. Também se manifesta repudiando veemente ao preconceito e agressividade de setores da sociedade local e regional, como alguns meios de comunicação, segmentos políticos, lideranças ruralistas e empresariais organizadas em entidades diversas, que atuam de variadas formas para deslegitimar a luta dos indígenas pelo direito ao seu território.

  • Está na hora das Prefeituras, Câmaras de Vereadores, Deputados da Região Oeste e do Governo do Estado se posicionarem a favor da luta dos indígenas!
  • Dilma precisa se posicionar e demarcar já as terras indígenas!
  • Já são mais de 500 anos de massacre e destruição contra os indígenas! Já passou da hora dos povos indígenas serem respeitados em seus direitos!

Marechal Cândido Rondon, 20 de março de 2013.

Entidades que assinam e apoiam o Manifesto:

Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Local de Marechal Cândido Rondon/PR
Associação dos Estudantes de São Pedro do Iguaçu – AESPI
Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Local de Curitiba
Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Local de Aracaju
Associação dos Portadores de Lesões Por Esforços Repetitivos – AP-LER
Associação Regional em Defesa da Ecocidadania e da Cidade Sustentável – ARDECS
APP de Luta e Pela Base – Oposição Alternativa/Oposição à direção da APP-Sindicato
Centro Acadêmico de História UNIOESTE M. C. Rondon “Zumbi dos Palmares” – Gestão: “Quem vem com tudo não cansa”.
Centro Acadêmico de Geografia UNIOESTE M. C. Rondon “CAGeo Chico Mendes”
Centro Acadêmico de Ciências Sociais UNIOESTE Toledo
Centro Acadêmico XVIII de Novembro – Direito – Unioeste M. C. Rondon
Centro de Direitos Humanos – CDH – Foz do Iguaçu
Coletivo de Estudos sobre Conflitos pelo Território e pela Terra – ENCONTTRA – UFPR
Diretório Central dos Estudantes UNIOESTE – Marechal Cândido Rondon
Diretório Central dos Estudantes UNIOESE – Toledo
Laboratório de Geografia das Lutas no Campo e na Cidade – GEOLUTAS – UNIOESTE
Laboratório de Pesquisa Trabalho e Movimentos Sociais – LTMS – UNIOESTE
Laboratório de Estudos Rurais e Urbanos – LABERUR/UFS
Partido Socialismo e Liberdade – Cascavel
Partido Socialismo e Liberdade – São Pedro do Iguaçu
Partido Socialismo e Liberdade – Toledo
Partido Socialismo e Liberdade – Marechal Cândido Rondon
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – PSTU/Oeste do Paraná
Sindicato Docente da UNIOESTE – ADUNIOESTE/Seção Sindical do ANDES-SN

Enviada por Alenice Baeta para a lista CEDEFES.

Comments (5)

  1. então levem esses índios pra casa de vocês e cuidem deles,pedem pra fazer comentários,mais apagam aqueles que não o favorecem.

  2. Vou encaminhar o pedido de apoio para o GT Combate ao Racismo Ambiental. Veja bem: dedico este blog ao GT, mas são duas coisas inteiramente diferentes, embora com um objetivo comum…
    Penso que não haverá problemas, uma vez que esta luta é muito nossa, mas não me cabe responder.
    Tania.

  3. Olá camaradas! Muito obrigado pelo apoio na divulgação!
    Será que o GT Combate ao Racismo Ambiental assina o manifesto em conjunto com todas as outras entidades?
    Se sim, enviem um email para nós [email protected].
    Desde já muito obrigado pelo apoio.
    Saudações
    Coletivo AGB M. C. Rondon

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