Por Daiane Souza para Combate ao Racismo Ambiental
Nesta terça-feira (20), o público do Jornal de Brasília teve na capa da edição uma notícia que fugiu à ética jornalística. O título dizia “Nomeação bem suspeita”, e o texto trazia em seu conteúdo a malícia de uma notícia vendida por fazendeiros contrários à certificação do Quilombo Mesquita, situado no município da Cidade Ocidental, localizado a 45 quilômetros da capital federal.
Não menos repugnante foi a notícia dada pelo ClicaBrasília, veículo da mesma empresa de comunicação, que acabou por prejudicar uma população de cerca de 600 quilombolas ao atacar Sandra Pereira Braga, liderança local e recém-comissionada da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial do Distrito Federal (Sepir/DF). A notícia trouxe como tema uma cobrança de indenização ao Governo do DF sobre um condomínio situado na Região Administrativa de Santa Maria/DF.
Em torno dessas informações, gira uma série de questões que sequer foram apuradas, pois o objetivo dos interessados em denegrir a imagem da funcionária fugiu à imparcialidade e estava, de fato, muito acima da ética. Isto porque não se trata apenas da imagem de Sandra, mas igualmente do grupo étnico ao qual pertence. A comunidade Mesquita é um Quilombo reconhecido e certificado pelo Governo Federal por meio da Fundação Cultural Palmares (FCP), órgão vinculado ao Ministério da Cultura, e que desde 2006 aguarda sua titulação definitiva pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
O Quilombo há anos sofre com vários tipos de especulação, e a notícia da aproximação da titulação pelo Incra coloca à prova o humor de fazendeiros que moram na região. São pessoas que acreditam que grandes plantações de soja valem mais que a história, a cultura e a dignidade de um povo que resiste com dificuldades nesse espaço, há cinco gerações, e que aguardam, sim, uma indenização de terras situadas em Santa Maria, mas que é de direito de vários herdeiros quilombolas e não apenas da funcionária citada.
Aos membros da bancada ruralista instalados no território do Quilombo Mesquita muito convém não contar com a presença de uma quilombola em qualquer que seja o órgão do governo. Por esse motivo, as apelações chegam ao nível em que estão e ampliam os riscos a que já estão expostas as famílias do Quilombo. Entre outras ameaças sofridas por essa população estão as manipulações feitas pelos fazendeiros que, se aproveitando da simplicidade das famílias, não se cansam de instigar o medo sobre a titulação.
Eles afirmam que com ela as escrituras das terras serão perdidas definitivamente. Diante desse cenário, a ação coletiva que deveria ser compreendida como motivo de proteção e desenvolvimento da comunidade passa a ser questionada como procedimento duvidoso por pessoas que têm como único bem as terras onde residem.
Manipulação – Anteriormente à divulgação das notícias (cerca de uma semana) estiveram na comunidade um jornalista, além de um fotógrafo do Jornal de Brasília, que, acompanhados por José Teotônio da Silva, um não-quilombola interessado nas terras, visitaram uma única família para “apurar” os fatos. As aspas citadas nos textos foram expostas conforme os interesses dos pertencentes ao movimento ruralista. Mesmo os argumentos apresentados para justificar a situação são os que circulam pela comunidade no formato de boatos, de cartas distribuídas às famílias e até de ameaças com uso de armas de fogo a moradores da comunidade que, como Sandra, lutam pela titulação do território.
Nenhum quilombola favorável à titulação foi entrevistado a fim de confrontar as informações dadas ou a opinião de Erlandia Pereira Braga, outra personagem citada em uma das matérias. A vítima (Sandra) não foi procurada pela reportagem e portanto se defenderá com o apoio da Secretaria para a qual trabalha. A FCP, órgão competente pela certificação das comunidades quilombolas, não foi consultada, e o tratamento dado à população foi apenas de “povoado”, como os vereadores ruralistas da Cidade Ocidental tratam a comunidade. Tamanho foi o descaso que as matérias sequer foram assinadas pelo jornalista que as escreveu.
Diante desse histórico, fica fácil questionar a credibilidade transmitida por tal veículo de comunicação e a gravidade dos danos causados à população de Mesquita. Cabe a partir de então, a cada leitor, avaliar como é simples destruir a imagem de uma pessoa ou de um grupo de pessoas não levando em consideração a vulnerabilidade a que estão expostas. Porém, quanto custa reconhecer e corrigir os erros “profissionais” de um importante veículo de comunicação?
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Seguem abaixo os links com as matérias do Jornal de Brasília citadas neste texto:
http://www.jornaldebrasilia.com.br/edicaodigital/pages/20130220-jornal/pdf/05.pdf
http://www.jornaldebrasilia.com.br/flip/nahorah/pages/20130220-jornalnahorah/pdf/06.pdf
Ainda falta muito para ver se sai essa titulação. A Sandra Braga não é vitima não. vitima são as pessoas que compraram e pagaram por essas terras e em uma grande maioria é a unica coisa que tem na vida: um terreno com um barraco e a Sandra com alguns parentes hoje tentam tomar o pouco que essas familias tem. Foi citado nesta matéria a insatisfação apenas dos fazendeiros, mas ha uma comunidade inteira e pessoas da própria familia da Sandra que estão insatisfeitas com todo esse processo. nuinguem é contra que eles sejam quilombolas, somos contra sim do processo em que eles exigem terras na qual já não tem mais direito, pois foram vendidas por eles mesmos, e estão tirando a paz e o sossego dos moradores locais. dizem trabalhar e sobreviver do que produzem o que não é verdade, hoje uma grande maioria trabalha aqui no Df. então perguntamos para que querem tanta terra se não estão dando conta de cuidar nem do já tem.
parem para pensar em todas essas familias em que a Senhora Sandr Braga que tirar de suas casas.
Essas coisas ocorrem por todo o Brasil. Ao solicitar a DAP Jurídica da Associação dos Agricultores Familiares do Quilombo N. Sra. do Rosário de Três Pontas, Minas Gerais, fui ironizado pelo extencionista da EMATER e ouvi o seguinte comentário: Quilombo? Você esta de brincadeira…
Comunidades Quilombolas sofrem enormes preconceitos e agora, com as novas Leis do PNAE e PAA, onde terão prioridade diante de outras associações, estão sendo boicotadas em diversos processos de obtenção de documentos e de participação nas discussões de elaboração de cardápio e chamadas públicas. Estamos a mais de 10 dias tentando obter a DAP Jurídica junto a EMATER e ainda não conseguimos, fomos desclassificados na Chamada Pública do Município para entrega de PNAE por não termos a DAP. Pior… reclamar para quem?!?!?
Essa matéria mostra claramente o interesse dos mass mídia em jogar a opinião pública contra as minorias e os movimentos sociais.
Para ke isso termine, devemos lutar pela democracia, pela imparcialidade nos meios de comunicação, e colocarmos de fato a comunicação a serviço da sociedade.
A REGULAÇÃO das midias é urgente neste país..
REGULAÇÃO NÃO é CENSURA.