Participação do Cacique Carcará-Uru e sua mulher Vanilda na Rio+20

Prof. Douglas Carrara

O cacique Carcará-Uru (Arachá) e sua esposa Vanilda (Caiapó) já voltaram para sua casa em Araxá em Minas Gerais. Durante a realização da Rio + 20 acompanhei e participei de todos os eventos possíveis, juntamente com eles e a Prof. Dalva de Castro. Estivemos na Oca Carioca na Colônia Juliano Moreira, na aldeia Maracanã, antigo prédio do Museu do Índio, abandonado pela Funai, e agora reocupado pelos índios desaldeados residentes no Rio de Janeiro, com a participação entre outros de Dauá Puri, Tiniá (Fulniô)  e diversos representantes desta etnia e finalmente na Cúpula dos Povos no Aterro do Flamengo.

Eles chegaram na segunda-feira à noite de ônibus e estavam muito mal alojados no Sambódromo. Vanilda chegou passando mal, vomitando e com diarréia, sem alojamento adequado para poder se recuperar e participar do evento. Portanto conseguimos através da Prof. Dalva de Castro do Instituto Ecologia da Mente, estadia em seu apartamento em Botafogo. No dia seguinte já estava recuperada e pode participar plenamente dos debates e conferências.

O mais interessante do evento foi a possibilidade de encontrar lideranças indígenas de todo o Brasil e contribuir para a discussão da sustentabilidade do planeta e tentar superar os descaminhos da “Rio menos 20”. O cacique e sua esposa ficaram muito agradecidos pela ajuda recebida, sem a qual teriam voltado no dia seguinte de ônibus, e foi por isso que tentei obter recursos para que pudessem ficar mais tempo e participar do evento. Inúmeros contatos foram feitos e novas atividades foram programadas, especialmente, entre as etnias que possuem inúmeros indígenas desaldeados e que a Funai não reconhece.

Durante o processo de conquista, colonização e ocupação do território, originalmente ocupado por diferentes etnias no Brasil, perfazendo um total de 6 milhões de indivíduos no início da conquista, os povos originários da América tiveram suas terras invadidas e a população dizimada pela guerra sem trégua e pelas doenças sorrateiramente introduzidas nas aldeias. Com isso muitos deles se refugiaram em locais distantes, escondendo inclusive suas origens para que não fossem perseguidos e assassinados pelo simples fato de ser índio.

Após a Constituição de 1988, muitos deles assumiram sua verdadeira identidade e agora buscam resgatar suas tradições e sua dignidade perdida ao longo da história. E as histórias de vida individuais quase sempre se repetem. Seus ancestrais, especialmente, jovens crianças e meninas, eram sequestradas das aldeias e levados para as cidades para serem escravas serviçais das famílias de brasileiros e portugueses. Este crime vem acontecendo desde o início, e até mesmo em datas mais recentes, no século XIX e no início do século XX.

Na cidade de Araxá, os sobreviventes do antigo massacre de 1776, lutam agora para obter uma pequena extensão de terra onde poderão realizar seus rituais religiosos. Apesar da Prefeitura ter doado um terreno com esta finalidade, a Câmara dos Vereadores rejeitou a proposta e a doação mais do que justa foi infelizmente cancelada. Mas o processo continua e os índios ainda tem esperança de sucesso.

Enviada por Andaia Araxá.

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