Povo Xukuru do Ororubá realiza assembleia com foco na agricultura pelo Bem Viver

Por uma agricultura militante pelo Bem Viver, que rompa com a perspectiva colonizada de utilização da Mãe terra, o povo Xukuru do Ororubá realizou entre a última quinta-feira, 17, e domingo, 20, a XII Assembleia do povo com a guerreira e tradicional descida da Serra do Ororubá rumo ao município de Pesqueira, Pernambuco, símbolo e memória da luta do povo Xukuru pela ocupação do território. Ao final do encontro, os indígenas escreveram uma carta com os principais pontos debatidos nos quatro dias de assembleia. Leia na íntegra:

Carta da XII Assembleia do povo Xukuru do Ororubá

Nós, Povo Xukuru do Ororubá, iluminados e iluminadas pela força da Natureza Sagrada, nos reunimos na XII Assembleia, que teve como Tema: “Limolaigo Toípe – Terra dos Ancestrais: Agricultura Xukuru praticando o Bem Viver”, no período  de 17 a 20 de maio de 2012, na aldeia Capim de Planta, com representantes das aldeias: Pão de Açucar, Pé de Serra, Cana Brava, Brejinho, Afetos, Caípe, Caetano, Couro Dantas, Oiti, Caldeirão, Capim de Planta, Lagoa, Cimbres, Sucupira, Guarda Jatobá, Pedra d`água, Curral Velho, São José, Gitó, Mascarenhas, Santana, Passagem e Cajueiro; além dos parceiros e aliados do nosso povo, dentre eles: Povo Potiguara, Povo Truká, Povo Xukuru Kariri, Povo Wassu Cocal, Povo Kapinawá, Povo Kambiwá, CIMI, APOINME, Comunidade Quilombo la Negros do Osso, SESAI, SECRETARIA DE AGRICULTURA, SAF/MDA, SEDUC, IPA, CONSEA/PE, ADAGRO, Secretaria Estadual da Mulher, Secretaria Estadual de Educação, SEAF, Movimento Mangue-Crew, Movimento Pé no Chão, Rede Reflectação, Centro Josué de Castro, CDAPP e DIOCESE DE PESQUEIRA.

Preocupados com a morada de nossos Ancestrais, e a nossa relação com a Mãe Terra, realizamos uma reflexão sobre o tipo de agricultura que desejamos. Observando as práticas e usos atuais em nosso território, identificamos e refletimos sobre os elementos que poderiam fragilizar e aqueles que podem fortalecem o Projeto de Futuro de nosso povo. Recuperando a memória de outras assembleias, verificamos que a preocupação com a Mãe Terra sempre esteve presente. Neste encontro, aprofundamos o debate para garantir a nossa autonomia em sintonia com os princípios do Bem Viver e da Natureza Sagrada.

Deste modo, entendemos que a Agricultura Xukuru tem como princípios:

· O respeito à Mãe Terra;

· Garantir o usufruto coletivo do território Xukuru e a Terra livre;

· Atender as necessidades básicas da família e, não o acúmulo de riquezas nas mãos de poucos;

· A consciência de cuidado e zelo, e não de exploração da natureza garantindo a nossa Saúde. Esta consciência tem relação íntima com a Educação do povo, valorizando também o aprendizado com o outro, na convivência diária;

· O diálogo com a Natureza Sagrada, pois é ela quem pode dar as respostas para o tempo de plantio e colheita, além da condução da lavoura; tendo como referência os costumes de nossos ancestrais;

· Prezar pela igualdade de condições no acesso a tudo que a natureza nos oferece;

· Não comercializar, mas, preservar, zelar e cuidar da nossa Mãe Terra;

· Reconhecer os direitos e responsabilidades mutua para o bem comum;

· Tudo deve ser realizado com autonomia e liberdade, livre das regras da produção de mercado e de políticas de governo contrárias ao nosso projeto de vida.

Reafirmamos que para nós a natureza é sagrada, é o local de morada dos nossos encantos. Feri-la é comprometer as nossas próprias vidas e de todos os seres viventes. Enquanto tivermos água, terra e mata nós existiremos e bem viveremos. Para isso, temos que vivenciar práticas que garantam a terra livre, as águas vivas e as matas protegidas.  A religiosidade é nossa fonte de força e sabedoria.

O Povo Xukuru é contra toda e qualquer prática governamental que desrespeite a dignidade e a vida dos Povos Indígenas do Brasil. Portanto, somos contra a aprovação da PEC 215 e a PEC 038, além dos projetos desenvolvimentistas como o PAC. E contra qualquer medida que venha a ferir os direitos indígenas, em especial os artigos 231 e 232 da Constituição Federal de 1988.

Que o governo respeite a decisão dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para que se tenha um tempo para uma discussão mais ampla sobre a regulamentação do processo de consulta como preconiza a convenção 169 da OIT.

Aldeia Capim de Planta, 19 de maio de 2012.

http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=6285&action=read

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