Milico saiu de moda, benhê

Raquel Munayer

O Brasil cresce rápida e ferozmente. Depois de toda uma existência na pobreza e no anonimato, estamos hoje no topo da lista das maiores democracias mundiais, das maiores economias mundiais, das maiores orgias mundiais. Seus filhos se alimentam de conhecimento, e o poder de transformação finalmente deixou de ser privilégio da burguesia paulistana para se espalhar pelos quatro cantos do país, agregando valores culturais à nossa luta. Em meio a tanta modernidade, ainda caminham por aí algumas figuras que parecem não se encaixar neste modelo de progresso. O cortador de cana, o catador de papel, o policial militar…parecem ter fugido de alguma vitrine de museu. O caso do PM é peculiar, pois ele foi o escolhido para nos “proteger”.

Estudantes levam tiro de borracha, multidões tropeçam em seus cartazes quando dispersados por gás lacrimogêneo e, quando os milicos não conseguem encontrar nenhuma desculpa para utilizaram-se de violência, simplesmente ligam seus motores e sirenes em altura máxima para abafar a voz da verdade. A falta de sucesso desse sistema é clara, mas, ao invés de compreenderem que bombas não explodem idéias, o que fazem é aumentar a repressão, para que aqueles que se mantiveram neutros possam agora se colocar contra os ideais daquele tal protesto, que causou tanta confusão.

Os que estão na rua para garantir a “ordem” são aqueles que causam a desordem do sistema. Enquanto isso, batemos as cabeças para tentarmos entender porque é que colocam pessoas tão despreparadas para enfrentarem pessoas de nível intelectual  mais alto do que deles próprios. O diálogo entre as partes é confuso e mistificador, como se falassem idiomas diferentes e, no fim, o que prevalece é aquele que tem mais poder. E quem será este? Aquele que se arma com palavras e argumentos? Ou aquele que balança o cassetete, uma extensão de seu próprio pinto?

Que diferença tem o “Perdeu, Playboy” do ladrão para o “A casa caiu, malandragem” do milico? Tem a mesma arrogância, a mesma entonação daquele que subjuga a parte mais fraca. Muitos se tornaram criminosos porque cansaram de serem e de verem sua família e amigos serem diminuídos, calados, humilhados, e agora querem causar a mesma dor a que foram submetidos. O comportamento da nossa PM instiga a violência e institui uma relação de poder imaginária, porém, difícil de ser quebrada.

Já está na hora de acabar com a velha falácia que justifica o comportamento abusivo e corrupto da polícia ao afirmar que isso tudo é conseqüência de seus salários baixos. Se proteger as pessoas e colocar a vida em risco diariamente desse dinheiro, enfermeiros, domadores de leão, faroleiros e limpadores de janela estavam cheio da grana. E se a tiazinha que limpa os banheiros da rodoviária decidisse espalhar cocô pelas paredes, alegando que seu salário mal dá para as compras do mês, ela provavelmente seria presa ou internada em alguma instituição para doentes mentais. O salários dos PMs são mesmo muito baixos, mas a porra do país inteiro passa pelo mesmo problema! A solução então é virar bandido? Socorro!

E querem saber de uma coisa? O milico também é vítima. É escolhido pelo seu baixo nível de estudos, treinado para o ataque físico, privado de treinamento ético e moral, condicionado a acatar a qualquer tipo de ordem sem questionamento e ainda acreditar na nobreza do seu trabalho. Ao fazer esta análise é que as peças do quebra-cabeça começam a se encaixar. Mas é claro! As instituições de poder precisam dos milicos! Imaginem só se eles compreendessem que nós de fato temos o direito de protestar, e que eles provavelmente têm interesse  pela causas pelas quais lutamos? É de arrepiar os cabelos dos governantes. Tudo do que eles não precisam é de uma polícia que pensa, deixando o país sobre a constante ameaça de uma revolução à la bolchevique. Alguma forma de repressão tem que existir, para sustentar tantas cadeiras ociosas em nosso parlamento. O truque é sujo, porém quase imperceptível: os PMs recebem ordens de seus superiores para atacarem. Quando a reclamação do povo torna-se difícil de ser ignorada, os mesmos superiores que deram as ordens escolhem algumas cobaias, de preferência aqueles que saíram em fotos e vídeos em meio a atos de violência contra inocentes, e informam à mídia que os mesmo estão sendo punidos pelos seus comportamentos abusivos, provenientes da má-interpretação das suas ordens, e serão afastados do serviço público. Dat veniam corvis, vexat censura columbas (só vão à forca os ladrões pequenos).

A era do militarismo tem que acabar. Somos inteligentes demais para este comportamento tão primitivo, tão démodé. Se você também já se deu conta de que a ditadura militar acabou há mais de 20 anos, divulgue este texto. Não pense que o que você faz não faz diferença. O poder está em suas mãos.

Milico saiu de moda, benhê

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