Repressão política no campo terá lançamento no Fórum Social Temático

“Retrato da Repressão Política no Campo – Brasil 1962-1985 – Camponeses torturados, mortos e desaparecidos” conta a saga de homens e mulheres que ergueram a bandeira da reforma agrária e lutaram pelos direitos dos trabalhadores da terra durante a ditadura militar.

A publicação, fruto de parceria entre o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário (NEAD/MDA) e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), será lançada no próximo dia 27, em Porto Alegre (RS), durante o Fórum Social Temático 2012.

O livro reúne relatos de trabalhadores e líderes rurais que sofreram agressões, de familiares e pessoas que testemunharam o período, além de informações de variadas fontes documentais, impressas e audiovisuais. A obra é resultado das iniciativas do governo federal e mostra as investigações conduzidas na última década pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. A publicação é relacionada ainda, com a criação da Comissão da Verdade, instituída pela Lei 12.528, no dia 18 de novembro de 2011.

Memória viva

Recuperar a memória das lutas camponesas no Brasil entre os anos 1960 e 1980 é contar uma história que, pelas características próprias às áreas rurais, como assinalam as autoras da publicação, Marta Cioccari e Ana Carneiro, “foi construída em grande medida no anonimato, em geral ignorada pelos documentos oficiais”.

Para construir a narrativa, elas contaram com a contribuição de pesquisadores de diferentes instituições do país e com a colaboração de lideranças e de organizações sindicais, que há tempos se mobilizam para o resgate dessas trajetórias.

Ambas jornalistas e antropólogas, Marta e Ana tiveram acesso a importantes acervos de pesquisa e centros de memória. Uma base essencial para o trabalho foram os registros do Projeto Memória Camponesa, coordenado pelo prof. Moacir Palmeira e conduzido no âmbito do Núcleo de Antropologia da Política do Museu Nacional (NuAP/MN/UFRJ), com apoio do NEAD.

O Projeto Memória Camponesa realizou diversos seminários nos estados brasileiros, em parceria com universidades e entidades sindicais, e guarda depoimentos de vários líderes sindicais e de trabalhadores. Acervos de outras universidades também foram consultados e, além disso, aqueles criados pelos próprios trabalhadores e líderes locais em lugares que foram palcos de antigos conflitos, tais como Sapé (PB), Brotas de Macaúbas (BA) e Trombas e Formoso (GO).

As autoras também fizeram viagens de campo a São Paulo, a Pernambuco, ao Ceará, ao Distrito Federal e a Goiás. Realizaram 15 entrevistas com líderes sindicais e com assessores de entidades e, adicionalmente, a investigação também se inspirou em filmes, livros acadêmicos e jornalísticos, produções audiovisuais e transcrições de depoimentos colhidos em projetos diversos.

“O fato de termos dado voz aos camponeses neste livro ajuda a fornecer uma dimensão mais rica e impactante dessa página trágica da história do Brasil e a revelar, ainda que parcialmente, algo dessas memórias dolorosas não dizendo respeito aos camponeses, mas a todos os brasileiros. Devemos considerar, ainda, o fato de que essas violências no campo não desapareceram: continuam ocorrendo de forma flagrante e escandalosa em determinadas regiões do país”, ressalta Marta.

Segunda edição

O livro, que está na segunda edição, conta agora com mais referências para o leitor se aprofundar o conhecimento sobre o tema, além de acréscimos de informações e descrições ao longo do texto. A publicação contém duas mudanças que merecem destaque. A primeira diz respeito ao falecimento de Vicente Pompeu da Silva, líder sindical e ex-presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais do Estado do Ceará (Fetraece), que chegou a receber em mãos a primeira edição do livro.

A segunda se refere ao pedido encaminhado à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos (CEMDP) pela família do líder sindical Nativo da Natividade de Oliveira, assassinado por pistoleiros em 1985, em Goiás. Em dezembro de 2010 a Comissão aprovou o pedido por unanimidade e reconheceu o Estado como responsável por sua morte, dando ao sindicalista status de morto político e, à família, direito a indenização.

Essa edição acrescenta informações sobre a repressão no Ceará, ampliando os dados sobre o sindicalista Antônio Rodrigues de Amorim, um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e adiciona dados na parte que reúne casos de advogados que atuavam em defesa dos trabalhadores rurais, com mais quatro histórias desses profissionais que lutaram contra a repressão: Paulo Fonteles de Lima (PA), Agenor Martins de Carvalho (RO), Joaquim das Neves Norte (MS) e Vanderley Caixe (PB).

O lançamento no Fórum, que acontecerá no Memorial do Rio Grande do Sul, integra as atividades da SDH relacionadas à memória no evento. A Secretaria também vai promover uma exposição no mesmo local sobre o projeto Direito à Memória e à Verdade. O livro será lançado com a presença da ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes; de uma das autoras, Marta Cioccari; do representante da SDH, Gilney Viana; de Joaquim Calheiros Soriano, diretor do NEAD/ MDA; de João Altair dos Santos, filho de João Sem Terra – personagem do livro, sindicalista e trabalhador rural gaúcho reprimido pela ditadura; de Francisco Blaudes Sousa Barros, líder camponês e filho de Pio Nogueira – personagem do livro; do ex-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), José Francisco da Silva; além de um representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O livro Retrato da repressão política no campo – 2º edição está disponível para download gratuito no Portal NEAD, no link  http://www.nead.gov.br/portal/nead/publicacoes/

Serviço:
Debate e lançamento do livro “Retrato da Repressão Política no Campo – Brasil 1962-1985 – Camponeses torturados, mortos e desaparecidos”
Data: 27 de janeiro de 2012
Horário: 10h
Local: Memorial do Rio Grande do Sul. Rua Sete de Setembro, 1020 – Praça da Alfândega. Centro Histórico – Porto Alegre (RS). Fórum Social Temático 2012, Mais informações sobre o Fórum Social Temático 2012 podem ser acessadas no site do evento, que acontecerá de 24 a 29 de janeiro: http://www.fstematico2012.org.br/

Enviada por Pablo Matos Camargo.

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