Morre “Seu” Teodoro – mestre do “Bumba-meu-boi” e da cultura popular

Foto de Daiane Souza/UnB Agência

Morreu na madrugada de ontem (15), aos 91 anos, Seu Teodoro, um dos mestres da cultura popular do DF. Maranhense, Seu Teodoro chegou a Brasília em 1962, trabalhou na UnB e criou o Centro de Tradições Populares, em Sobradinho, onde seguiu mantendo viva a cultura do Bumba-meu-boi na cidade. Abaixo, um perfil publicado alguns anos atrás

Vida dedicada ao bumba-meu-boi

Cristiane Bonfanti*

A paixão de Teodoro Freire pelo bumba-meu-boi nasceu ainda na infância. O maranhense, nascido na cidade interiorana de São Vicente de Férrea, teve o primeiro contato com a tradição do folclore nordestino aos oito anos. Embora sua mãe o proibisse de assistir às apresentações por medo de brigas nas ruas, ele não resistia e saía de casa às escondidas. Hoje, aos 86 anos, ‘seu Teodoro do Bumba-Meu-Boi’, como é conhecido, não esconde o encanto pela tradição. “Além da família, tenho três paixões na minha vida: o bumba-meu-boi (na cultura), o Flamengo (no esporte) e a Mangueira (no carnaval)”, confessa Seu Teodoro.

Seu Teodoro mudou-se para Brasília em 1962, quando começou a trabalhar na Universidade de Brasília (UnB) como contínuo. Em dezembro do mesmo ano, deu início ao projeto do bumba-meu-boi na cidade. Em 1963, criou o Centro de Tradições Populares, em Sobradinho, cidade localizada a 20km de Brasília, para difundir festas e danças do folclore nordestino.

DEDICAÇÃO – Mas o que tornou seu Teodoro conhecido foi mesmo o bumba-meu-boi, uma espécie de auto que encena o rapto, a morte e a ressurreição do boi. A primeira apresentação foi realizada antes mesmo de ele mudar-se para a capital. “Vim para o primeiro aniversário de Brasília, em 1961. Trouxe o boi para brincar e fiquei uma semana aqui”, lembra-se Seu Teodoro. Na época, ele foi convidado para trabalhar no Congresso Nacional, mas não aceitou e preferiu começar na UnB no ano seguinte. “Gosto muito de liberdade, de ser bem tratado pelas pessoas. Não se pode comparar a universidade com nenhum lugar do mundo. A educação, o respeito e o companheirismo das pessoas daqui são muito especiais”, diz.

Hoje, o Centro de Tradições Populares reúne cerca de 45 pessoas e faz apresentações de bumba-meu-boi, de Tambor de Crioulo e comemora as festas de São Sebastião e São Lázaro, entre outras datas. Dos 44 anos em que Seu Teodoro está em Brasília, 28 foram dedicados à UnB. Mesmo aposentado há 16 anos, ele declara o amor pela instituição.

Seu Teodoro acorda cedo todos os dias. Às 6h30, já tomou banho e café da manhã. Às 7h, sai de casa, em Sobradinho, e vai para a UnB. “Não consigo me desvincular da universidade. Vou a locais como o Instituto de Artes (IdA), a Faculdade de Comunicação (FAC) e à Diretoria de Esporte, Arte e Cultura (DEA) para conversar com as pessoas e saber notícias da UnB”, comenta.

PERSISTÊNCIA – A esposa dele, a aposentada Maria Sena Pereira Freire, 74 anos, lembra que Seu Teodoro ficou triste quando chegou a Brasília porque teve de interromper as apresentações do bumba-meu-boi que realizava no Rio de Janeiro, onde morou entre 1953 e 1961. Mesmo diante das dificuldades, ele insistiu e, em 1963, começou a reunir, em casa, conhecidos e pessoas que quisessem brincar o boi. “No início, foi muito difícil conseguir apoio e dinheiro. Eu fazia comida, cuidava das roupas e tive até de aprender a bordar”, recorda Maria.

Ela lembra ainda que o Centro de Tradições Populares, em 1963, era feito de paredes de taipa e coberto de palha. Hoje, é de alvenaria e oferece boa estrutura para o desenvolvimento do projeto do boi. Para ela, a mudança para Brasília foi importante, tanto para a família quanto para o boi: além de concretizar o sonho de divulgar o folclore nordestino, os dois tiveram boas condições de educação e emprego para os nove filhos. “Gosto daqui. Podemos divulgar a cultura num lugar onde é tudo muito voltado para a política e faltam manifestações artísticas”, afirma.

APOIO – Dois momentos marcaram a vida de Teodoro Freire. Um foi uma apresentação do bumba-meu-boi na enseada de Botafogo, Rio de Janeiro, em 1957. Na ocasião, ele emocionou-se ao ver a bandeira do estado do Maranhão. Outro foi a primeira apresentação do boi depois da fundação do Centro de Tradições Populares, antes conhecido como Fundação de Folclore Brasiliense. “Vencemos uma batalha porque enfrentamos muita dificuldade na época”, observa Teodoro.

Mas ele não ficou sozinho durante a caminhada. O bumba-meu-boi foi motivo para a família da dona de casa Graça Maria Monteiro Ferreira, 52 anos, mudar-se de São Luiz (MA) para Brasília, há 12 anos. Ela veio com a mãe, três filhos e o marido, que foi convidado por Seu Teodoro para compor e cantar toadas do boi no Centro. “Sempre gostei da tradição, que representa o folclore da nossa terra. Eu acompanho os ensaios e ajudo na organização das apresentações”, afirma Graça.

*Estagiária da UnB Agência

http://www.seppir.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2012/01/morre-seu-teodoro-mestre-do-bumba-meu-boi-e-da-cultura-popular

Comments (1)

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.