O título entre aspas não foi dado por este Blog. Veio na denúncia abaixo, pedindo ajuda. Hoje, às 14 horas, haverá audiência pública sobre o conflito em Arraial d’Ajuda, Bahia. Os pescadores contam com poucos aliados até o momento, como pode ser visto pelo texto abaixo, e muitos desconhecem inclusive seus direitos. Mas comparecerão levando um abaixo assinado com mais de 400 assinaturas, exigindo justiça, direito de acesso ao mar e ao seu trabalho e o fim das ameaças pelos “seguranças” do especulador imobiliário. Esperamos que o CPP, a CPT e os advogados populares da Bahia se mobilizem, para ajudar a comunidade. TP.
No vilarejo turístico famoso, povo quer diálogo, mas empresário insiste com seus seguranças
Os Pescadores de Trancoso possuem uma área de frente para o mar onde ficam ancorados seus barcos e por onde chegam com o fruto de seu heroico trabalho. Para chegar até lá utilizam um acesso denominado CAMINHO DOS PESCADORES, existente há muitos e muitos anos. Este caminho começa na Estrada do Rio Verde e vai até a Praia dos Coqueiros, e é utilizado diariamente por turistas e moradores e passa por dentro de uma linda área de mangue denominada PORTO LIVRE, onde pretendem construir um hotel de luxo e certamente restringir as praias. Outra forma “sutil” de Racismo Ambiental.
O lugar é ideal para se fazer um parque público, pois se trata de um corredor ecológico. Nesse parque poderia ser implantado, por exemplo, o Centro Mundial de Proteção dos Oceanos. O que seria, para o lugar, uma ideia muito melhor, uma vez que a área se encontra entre a barra do rio Trancoso e as barracas de praia da praia dos coqueiros, e bem próximo ao Quadrado Histórico.
Mas, recentemente, o atual proprietário da área, sem apresentar nenhum tipo de estudo ou projeto e usando de métodos autoritários, truculentos e de intimidação, deu início ao fechamento do acesso. Apenas deu início, porque seu representante, mesmo com truculência, foi incapaz de completar seu trabalho. O povo foi lá, se manifestou e desmanchou o serviço executado. Isso foi agora, no início deste mês de dezembro.
No outro dia retornaram do mesmo modo, hostis e ameaçadores, sem diplomacia, e começaram a construir um corredor estreito, em arame farpado, e lá se posicionaram com autoridade e modo de quem já se prepara para controlar o acesso. No fundo pretendem é colocar uma cancela.
Indignados com essa situação os pescadores marcaram uma reunião que aconteceu no último dia 21, às 20h, no Salão de Festas do Quadrado. Toda a população foi convidada, por meio de ampla divulgação, para discutir os incidentes ligados ao referido acesso.
Depois de muitos discursos e aplausos, encerrou-se a reunião com a promessa de que a diretoria da Associação iria conversar com o proprietário da área e pedir que este apresentasse um projeto ecológico para fechar sua propriedade, mas deixando a estrada para o acesso de veículos dos pescadores, de outras pessoas e para o acesso de pedestres.
Mas não deu tempo, pois logo após a reunião dos pescadores uma parcela do povo foi até o local, desmanchou as cercas e queimou algumas estacas.
A multidão trabalhava no escuro e não foi possível identificar ninguém, apenas a chegada de uma viatura da Polícia, que fez uma ronda e se afastou em silêncio.
Agora, algumas pessoas presentes à reunião estão sendo intimadas a prestar esclarecimentos à Polícia Civil. Enquanto isso, os serviçais do proprietário comemoram a chegada de mais um caminhão de estacas e hoje, dia 26, retornaram às suas atividades. Estão lá reconstruindo outra cerca, no mesmo molde autoritário e com a proteção dos seguranças.
Enquanto isso, a Associação dos Pescadores está providenciando denúncia junto ao Ministério Público Federal, informando o Deputado Marcelino Galo (ativista dos movimentos populares ligados ao meio ambiente), espalhando a notícia pela internet e pedindo socorro a todos os movimentos sociais fortes da Bahia e do Brasil.
O proprietário desta área de mangue parece ser o Sr. Ricardo, ligado ao Empreendimento Altos de Trancoso, à Construtora RFM e ao Club Med.
Trancoso/Porto Seguro/Bahia, 26 de dezembro de 2011.
Enviado pela Associação dos Pescadores, através da Defensora Pública Neyla Ferreira Mendes, de Mato Grosso do Sul.