Ibama ignora 90% dos vazamentos na Baía de Ilha Grande

De cada dez vazamentos de óleo ocorridos na Baía da Ilha Grande, um dos trechos mais nobres do litoral brasileiro, apenas um costuma ter a fonte de despejo identificada. E a identificação não é resultado de investigações dos órgãos ambientais. O próprio responsável pelo derramamento – embarcação ou empresa – toma a iniciativa de relatar o fato ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ou à Marinha. Na maioria das vezes, os casos não são sequer contabilizados.

A reportagem é de Sérgio Torres e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 20-12-2011.

A estimativa é do escritório do Ibama em Angra dos Reis (litoral sul do Estado do Rio de Janeiro), onde na sexta-feira o navio-tanque Cidade de São Paulo despejou ao mar uma carga de óleo combustível avaliada inicialmente em cerca de 10 mil litros. A embarcação seguia para Angra, onde seria transformada em navio-plataforma para utilização na Bacia de Santos pela Petrobrás a partir de 2013.

Poluição

Parte do óleo chegou anteontem à praia do Bonfim, a 2,5 km do centro de Angra, manchando a areia e o costão de pedra. Dona da embarcação, a Modec, empresa mundial de prestação de serviços à indústria do petróleo, recolheu o óleo no mesmo dia, mas ontem de manhã cascalho, conchas, folhas e gravetos na linha de arrebentação continuavam enegrecidos. O óleo também sujou as boias de sinalização da praia, que, por ser de poucas ondas, é um atracadouro natural de barcos de pesca e passeio.

Para o chefe do Ibama em Angra dos Reis, José Augusto Morelli, a grande maioria dos vazamentos de óleo na Baía da Ilha Grande não chega ao conhecimento do órgão, que não tem estrutura para fiscalizar a circulação marítima na região. O escritório tem cinco funcionários, entre eles Morelli, e uma só lancha. Nenhum dos cinco tem formação dirigida ao setor de petróleo.

“Os problemas de estrutura são muito graves. O quadro é muito reduzido, e os recursos são mínimos. A lancha é antiga, não temos verba para os reparos necessários. Mas não adianta ter lancha sem pessoal. A equipe tem de estar disponível para seguir a qualquer momento para o mar. Neste fim de semana não havia ninguém de plantão. Eu, como chefe do escritório, fiquei com o telefone ligado”, disse ele.

Pré-sal

Com a retomada da indústria naval, o crescimento econômico do País e a descoberta de grandes reservatórios de petróleo na camada pré-sal, aumentou a circulação de grandes embarcações e de plataformas pelas baías da Ilha Grande e de Sepetiba, onde estão localizados portos importantes, estaleiros, complexos industriais e um terminal da Petrobrás. Por mês, só na Baía da Ilha Grande, passam cerca de 40 embarcações vinculadas à indústria petrolífera. Há cinco anos, não chegavam a dez.

“Os vazamentos não são novidade. Você anda de barco e vê manchas de óleo. É comum. A frota que circula aqui é gigantesca, são milhares de embarcações, todas elas com potencial de soltar óleo no mar”, lamentou Morelli.

O superintendente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) na Baía da Ilha Grande, Júlio Avelar, negou a informação do secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, de que a Modec já foi multada em R$ 10 milhões. Segundo ele, a quantia refere-se ao valor máximo da multa. A Secretaria do Ambiente informou que o valor da multa citado por Minc poderá aumentar ou diminuir de acordo com as conclusões dos técnicos do Inea.

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/505214-ibamaignora90dosvazamentosnabaiadeilhagrande

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