Universidade Federal é dominada por alunos de classe média

Universidade é caminho natural para alunos de escolas privadas, mas árduo para os carentes
Anatilde Félix e o filho Natanael, ajudante de cabeleireiro, mas gostaria de se formar em Medicina

Daniela Garcia – Do Hoje em Dia

Apenas uma rua separa os colégios onde estudam Sérgio Ribeiro, de 17 anos, e Natanael Viana Félix, de 18, no Bairro Cidade Jardim, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Mas a proximidade geográfica entre as instituições esconde a imensidão que separa os garotos da realização do mesmo sonho. Formandos na 3ª série do Ensino Médio, os adolescentes pretendem estudar Medicina. O primeiro acredita ter condições de passar no vestibular na primeira tentativa, enquanto o segundo classifica o plano como “impossível” e prefere investir no trabalho como ajudante de cabeleireiro.

A decisão do que fazer após concluir o Ensino Médio é distinta quando se comparam alunos de escolas públicas e privadas da Capital. As perspectivas de Sérgio e Natanael – que estudam, respectivamente, no Colégio Pitágoras e na Escola Estadual Professor José Mesquita de Carvalho – ilustram esse comportamento que se repete entre a maioria dos jovens que concluem a vida escolar. Segundo o último Censo Escolar, mais de 28 mil alunos terminaram o Ensino Médio em Belo Horizonte em 2010. Foram 22.215 formandos na rede pública e 6.439 em instituições privadas.
Alunos das escolas particulares costumam tratar a entrada na universidade como um caminho natural, segundo Gelson Antônio Leite, mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “A classe média tem como universo central a educação”, sustenta.

Candidato a uma vaga em Medicina na UFMG, Sérgio afirma que não reforçou a rotina de estudos em casa no último ano da escola. “Só prestava muita atenção na aula e estudava na véspera das provas”, lembra. Desde que entrou de férias, no começo de dezembro, ele conta que deixou de estudar, mesmo sem saber se foi classificado para a segunda etapa do vestibular. “Eu estou tranquilo com isso. Se não conseguir, vou fazer cursinho ano que vem e também tentar em outras universidades”, planeja.

Autor de uma pesquisa sobre o perfil de estudantes do Ensino Médio na rede privada em BH, Gelson explica que jovens de classe média acreditam que o investimento na educação seja a melhor opção para a ascensão social. E a família do estudante tem papel fundamental na escolha acadêmica, pois os adolescentes acabam por reproduzir o que observam em seu círculo social. “Alguém da família tem um escritório de advocacia, então o menino decide fazer Direito, ou o pai é engenheiro e faz dele um exemplo”, diz.

Já os alunos da rede pública têm dificuldade de encontrar alguém próximo para se espelhar, como explica o coordenador do Observatório da Juventude da Faculdade de Educação da UFMG, Juarez Dayrell. “A maioria desses meninos pertence à primeira geração da família que está se formando no Ensino Médio”, pontua.

É o caso de Natanael, que concluiu a 3ª série no último dia 15. Há 22 anos, com pouco estudo, os pais dele se mudaram da Bahia para Minas, com o sonho de ter uma vida melhor. “Aqui, nós fizemos o EJA (Educação de Jovens e Adultos) e terminamos o Ensino Fundamental”, conta a mãe Anatilde Viana Félix, de 45 anos. Ela, que é auxiliar de serviços gerais na escola onde o filho estuda, está orgulhosa pela conquista de Natanael. “Estou muito feliz de ver o meu filho mais velho se formar”, destaca.

Quanto aos planos após a conclusão do Ensino Médio, o jovem fica com vergonha ao dizer: “Parece bobo, mas eu gostaria de ser médico”. Apesar de ser um bom aluno, não acredita ter condições de passar na UFMG para a turma de 2012. “Não conheço ninguém daqui que passou na Federal”, justifica. Por enquanto, ele pretende continuar no trabalho de auxiliar de cabeleireiro e, no futuro, estudar as possibilidades de programas do Governo federal, como o Fundo de Financiamento Estudantil do Ensino Superior (Fies) e o Programa Universidade para Todos (Prouni).

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