Morales promete consulta a indígenas sobre estrada polêmica

Carlos A. Quiroga

LA PAZ (Reuters) – O presidente da Bolívia, Evo Morales, prometeu na sexta-feira realizar uma ampla consulta aos povos indígenas amazônicos, inclusive com observadores internacionais, antes de iniciar as obras de uma polêmica rodovia que atravessará um parque nacional.

Com essa promessa, ele tenta convencer centenas de indígenas a interromperem uma marcha de protesto que já dura um mês. Os nativos da área afetada dizem que o projeto, parcialmente financiado pelo Brasil, irá destruir a sua região e contradiz o habitual discurso de Morales em defesa da “Pachamama” (Mãe Terra). Eles exigem discutir o assunto diretamente com Morales, e não com seus ministros.

O presidente, que também é indígena, fez o anúncio durante sua primeira visita ao Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis). Morales é da etnia Aimará, majoritária no Altiplano boliviano, enquanto os manifestantes pertencem a grupos indígenas minoritários.

“Talvez eu esteja chegando muito tarde a esta região (…), estou aqui para conhecer de perto como estão as comunidades desta região”, disse Morales no parque, onde se reuniu com indígenas que há uma semana abandonaram a marcha.

O parque não tem eletricidade nem telecomunicações, por isso em princípio o discurso de Morales teve apenas um pequeno trecho transmitido por telefone pela rádio estatal Pátria Nueva.

Depois, o ministro de Obras Públicas, Walter Delgadillo, disse à agência estatal de notícias ABI que o teor resumido do discurso do presidente foi de que “tudo funciona e passa pela consulta com as comunidades do Tipnis”.

Delgadillo disse que o objetivo da visita de Morales não era buscar compromissos imediatos com os indígenas, e sim “iniciar um grande processo de consulta para estabelecer soluções” envolvendo as 66 comunidades indígenas do parque, com um total de 13 mil habitantes.

Enquanto isso, a centenas de quilômetros dali, os manifestantes – que representam pelo menos 10 por cento dos moradores da área – discutiam se deviam reiniciar a marcha ou aceitar o novo convite do governo para retomar o diálogo sobre o projeto rodoviário e outros conflitos.

“Temos uma nova carta do governo convidando uma comissão dos participantes da marcha para se reunir com o presidente Morales em Cochabamba, e vamos analisá-la”, disse a jornalistas Jenny Suárez, porta-voz dos manifestantes, sem informar quando a resposta será dada.

O grupo partiu em 15 de agosto da localidade amazônica de Trinidad, com a intenção de percorrer os 600 quilômetros até La Paz. Mas, após 280 quilômetros, os manifestantes pararam na localidade de La Embocada, última cidade da planície antes do início da extenuante subida dos Andes.

O movimento é contra a construção da rodovia de 306 quilômetros ligando a região amazônica de Beni a Cochabamba – uma obra de 420 milhões de dólares, a ser financiada principalmente pelo Brasil -, além de exigirem a paralisação de projetos petrolíferos nas áreas protegidas, entre outras reivindicações.

http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/09/16/morales-promete-consulta-indigenas-sobre-estradas-polemica-925382390.asp

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