Congonhas respira poeira

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A nuvem de poeira marrom encobre o céu de Congonhas, na Região Central de Minas

Em um ano, a quantidade de poeira retirada na varrição das ruas aumentou em 50%

Renato Fonseca – Do Hoje em Dia

Ela está em todo lugar. Provocada pelo homem e levada pelo vento, a poeira da mineração tinge de marrom os 12 profetas de Aleijadinho, encarde a roupa dos estudantes, deixa casas imundas, lota unidades de saúde e dá prejuízo aos comerciantes. Congonhas, na Região Central de Minas, respira pó de minério e transpira problemas.

Mais de um século de contínua extração mineral a céu aberto resultou em enormes buracos nas montanhas e milhares de partículas tóxicas dispersadas no ar, diariamente. Em apenas um ano, a quantidade de poeira retirada mensalmente na varrição das ruas da cidade aumentou em 50%.

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Moradora do Bairro Casa de Pedra mostra poluição causada pelo pó do minério (Foto: Marcelo Prates)

Exatamente em setembro de 2010, o Hoje em Dia mostrou, com exclusividade, que cerca de 120 toneladas de resíduos de rocha e do solo eram recolhidas pelos garis municipais. O último balanço oficial medido pela prefeitura apontava, até agosto passado, uma média de 180 toneladas por mês.

A nuvem de poeira marrom encobre o céu de Congonhas e as partículas de pó embaçam a visão de quem gostaria de admirar, com nitidez, o conjunto arquitetônico tombado como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco – órgão cultural da Organização das Nações Unidas (ONU). As imagens de pedra-sabão esculpidas por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, estão impregnadas pelo resíduo.

Mas não é só o tesouro barroco da praça da Basílica do Bom Jesus de Matosinhos, no Centro da cidade, que sofre a degradação. Moradores do entorno, como a dona de casa Ana Flávia Lima, de 30 anos, são obrigados a lavar suas calçadas várias vezes ao dia. “O gasto com água é enorme, mas nem mesmo lavando três vezes por dia fica tudo limpo”, diz Ana Flávia.

A poluição é ainda mais perceptível em bairros próximos das minas, como Casa de Pedra e Pires. Este último, que fica às margens da BR-040, sofre com a entrada e saída constante de caminhões no acesso de terra do outro lado da rodovia para uma mina que fica na região de Ouro Preto.

O operador de máquinas Valdeti Eugênio Gonçalves, de 46 anos, que mora com a esposa e dois filhos no Bairro Pires, conta que a casa precisa ser limpa pelo menos três vezes por dia, mas pouco adianta o trabalho. “Meia hora depois está tudo sujo novamente. É uma mistura da terra seca da estrada de chão com o minério carregado pelos caminhões”, reclama o morador.

http://www.hojeemdia.com.br/minas/congonhas-respira-poeira-1.339377

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