Organizações Sociais do Norte de Minas realizam manifestação contra os projetos de mineração

Por Helen Borborema

Organizações sociais e entidades populares reunidas no Fórum Regional de Desenvolvimento Sustentável do Norte de Minas realizaram na última sexta (15) uma manifestação em Montes Claros contra os grandes projetos de mineração anunciados na visita do governador do estado, Antônio Anastasia, à região. A manifestação marcou a finalização da última reunião do Fórum, que teve início na última quinta-feira. O protesto foi organizado em parceria com o Sindicato dos Professores da Rede Estadual de Educação.

Lideranças de vários municípios da região estiveram presente, reivindicando a falta de diálogo e descaso do governo e empresas mineradoras com as comunidades atingidas. Para Marilene Souza, também conhecida como Leninha, da coordenação executiva da Articulação no Semiárido de Minas Gerais (ASA Minas), a presença de diversas organizações representativas das famílias agricultoras da região demonstra a posição contrária ao modelo de desenvolvimento colocado para o norte de Minas.

Segundo ela, o objetivo “é mostrar para o governador e para os donos das mineradoras que não é possível continuar deteriorando e depredando as nossas riquezas e transportando para outros países”. Para José Rufino, da comunidade Cova de Mandioca, do município de Taiobeiras, “a preocupação com esses grandes projetos é muito maior que a expectativa”.
O Norte de Minas, nos últimos tempos, tem sido visado pelas grandes empresas mineradoras pelo potencial de exploração mineral. Em sua visita à Montes Claros, o governador aproveitou para assinar protocolos de intenções com empresas que irão explorar a microrregião do Alto Rio Pardo e Serra Geral.

Para Braulino Caetano, representante da Rede Cerrado e coordenador do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas – CAA/NM, essa manifestação foi um alerta. Segundo ele, estamos passando para um processo que novamente o agronegócio apertando o cerco. “No Norte de Minas temos grandes empresas reflorestadoras de eucalipto e as grandes barragens, que já vem sufocando o nosso povo e encurralando as nossas populações tradicionais, e agora vem as mineradoras para acabar ainda com o que restou.”

De acordo com Braulino, enquanto o povo luta, “o governo investe nessas grandes empresas, que vem completamente destruir o nosso ecossistema acabar com a nossa biodiversidade, o restinho que há,” desabafa.

Como a região do Norte de Minas faz parte do semiárido brasileiro, uma das grandes preocupações é a questão hídrica. Segundo Alexandre Gonçalves, da Comissão Pastoral da Terra, uma das empresas mineradoras possui uma outorga preventiva de utilização de água de 30,7 bilhões de litros por ano, quase o que consome a população inteira de Montes Claros, cidade pólo da região com mais de 360 mil habitantes. De acordo com Alexandre, estão anunciadas mais de três projetos, “é insustentável, além disso, as mineradoras sempre deixam um rastro de contaminação do solo, ar e água”.

Uma outra preocupação é a possibilidade de implementação de um minerioduto, que levará o minério até o Porto de Ilhéus, na Bahia. Segundo José Rufino já existem trabalhos na região em função disso. Para ele, “a preocupação maior é que vai passar em muitas comunidades onde tem cabeçeiras, nascentes, água, lagoas e esse duto pode trazer grandes tragédias para nossa região”.

Segundo Cleonice Ferreira Souza, riachense da Pastoral da Criança, Riacho dos Machados é uma prova de que mineração não traz desenvolvimento para o povo do lugar. Segundo ela, a Vale do Rio Doce extraiu ouro durante muitos anos, porém, mesmo depois de tanto tempo, o município não tem nem sequer um hospital, não tem estradas, nem infraestrutura. Para ela, o que a empresa deixou foi crateras no subsolo e poluição das águas, além de tirar as famílias do campo e levar para a cidade.

Cleunice afirma que “a riqueza que deixou, só se for para os políticos, porque de obras não deixou nada”. Diante do novo projeto de reativação da mina pela empresa canadense Carpation ela diz: “com a Vale foi assim e se gente não se unir, não nos prepararmos, conscientizar as famílias que estão na zona rural, que estão recebendo pressão, com essa empresa vai ser do mesmo jeito”.

Para Maria de Lourdes Souza Nascimento, diretora do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porteirinha, “esse desenvolvimento que os políticos querem destrói a natureza, destrói os recursos hídricos e deixa as crateras, a destruição, impacto ambiental forte e com muita prostituição e doença ao redor”. Indignada, completa: “Ninguém nos pergunta nada, quando foi que vieram aqui saber o tipo de desenvolvimento que queremos? Porque isso nós sabemos: queremos um desenvolvimento sustentável para proteger nossos filhos e nossa natureza” afirma.

Elisângela Alves dos Santos, diretora do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Taiobeiras, também participou da manifestação e desabafou: “o nosso povo precisa de terra e água, não de buracos, se todos deixarem o campo e forem para a cidade, e aí o que as pessoas vão comer?”

Junto à manifestação foi realizada também um protesto contra o 27º pior salário de professores do Brasil, pago pelo governo do estado de Minas. Os educadores estão em greve e afirmam que só voltarão às aulas quando for cumprida a lei 11.738/2008 que estabelece o piso salarial.

O Fórum Norte, junto com os parceiros da manifestação, lançou uma Carta Aberta à População sobre os motivos da reivindicação. Este Fórum compõe, junto ao Fórum de Convivência com o Semiárido do Vale do Jequitinhonha, a Articulação no Semiárido de Minas Gerais (ASA Minas.)

http://www.saofranciscovivo.com.br/node/809

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