O começo do fim da alma carioca. Primeiro foram os pobres, agora as escolas de samba. Quem serão os próximos?

Jorge Borges*

A sanha maldita da Prefeitura do Rio amplia seu leque de ataques. Agora, na zona portuária, além de milhares de famílias pobres da Providência, Saúde e Gamboa, são as escolas de samba mirins e dos grupos de acesso é que perdem seu chão. Neste exato momento, sob a força de uma ordem judicial, a alma carioca perde um pouco mais do seu sorriso e da sua esperança. Diversas agremiações estão sendo despejadas da localidade conhecida como “Formosa” na região do projeto “Porto Maravilha”.

Os prédios e antigos barracões usados por escolas das mais tradicionais do carnaval do Rio de Janeiro pertenciam a órgãos públicos e agora serão cedidos a preços módicos para empreiteiras e incorporadoras darem continuidade ao seu ciclo de reprodução ampliada do Capital — concentrando mais renda, gerando mais pobreza financeira e cultural para nossa Cidade. Quem realmente ama o Rio de Janeiro sabe da importância que os barracões das escolas de samba têm para a economia carioca. Escolas como a Pimpolhos da Grande Rio (mirim), Vizinha Faladeira e quase todas dos grupos C, D e E geram empregos, cultura, História há mais de cem anos na nossa Cidade.

Mas para o Prefeito Eduardo Paes e sua caterva, História e passado só servem se couberem num retrofit barato, fundido num prédio de milhões e milhões de reais em escritórios de multinacionais e outras formas da especulação imobiliária.

Todos ao ato pela CPI das Remoções!

Nesta terça-feira, 28/06/2011, às 14h, representantes de diversas comunidades que já foram destruídas ou estão ameaçadas pela Prefeitura do Rio vão à Câmara Municipal tentar sensibilizar os vereadores a instalarem a Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as irregularidades verificadas nos diversos processos de remoção das comunidades nos últimos meses.

O requerimento para a instalação da CPI foi apresentado há mais de um mês pelo Vereador Eliomar Coelho, mas apenas 13 vereadores se dignaram a apoiá-lo. São necessários 17 vereadores. Até mesmo vereadores de partidos ditos “populares” como o PT e o PDT evitaram comprometer-se com a CPI, que certamente não é desejada pelo Poder Executivo municipal.

O ato constará de uma projeção de videos sobre as remoções, distribuição de materiais e pressão direta sobre os vereadores.

A luta ainda será árdua. Ainda que se consigam as assinaturas, há o risco da CPI nem ser instalada devido a manobras de partidos governistas, tal como se deu com a CPI do Pan2007, ou ser instalada, mas nem sequer funcionar, também por boicote dos vereadores da base do Prefeito.

Por tudo o que se vê, a luta contra esse projeto excludente, encarecedor da cidade, não é apenas dos mais pobres. Eis uma luta que deve ser assumida por toda a sociedade. Se você ou sua entidade não puderem estar na Câmara Municipal nesta terça, ligue para os vereadores da base do Prefeito, envie emails, não desista de lutar pela sua Cidade. A alma do carioca está em risco, o Estado Democrático de Direito está em risco.

Jorge Borges é Geógrafo, Assessor Técnico.

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