Para difundir seu discurso, poluidora Vale formará lideranças no sul do ES

Desde que iniciou as movimentações para a implantação da Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), em Anchieta (sul do ES), a Vale se utiliza de instrumentos para cooptar lideranças da região, seja fazendo terrorismo espalhando mentiras, seja com pressões para criar clima de desespero entre os moradores.

Passada a fase inicial do processo de licenciamento e de posse da Licença Prévia (LP), a transnacional arrumou uma nova maneira de seduzir representantes da sociedade civil e difundir seu discurso irreal sobre os impactos do empreendimento. Trata-se de curso de formação de lideranças, que oferecerá gratuitamente, em parceria com o Ministério Público do Estado (MPES).

Para divulgar a iniciativa, a empresa espalhou folders pela região com a proposta do curso. O conteúdo já deixa sinais das reais intenções da Vale, ao vender informações distorcidas do contexto vivenciado na região. 

Apesar de o processo de licenciamento ter sido marcado por irregularidades e atropelos do governo do Estado, o que inclui ignorar demandas das comunidades envolvidas, o material da Vale enfatiza o que chama de diálogo próximo e permanente com os diversos setores que compõem a sociedade, como marca da implantação da siderúrgica.

A empresa vai ainda mais longe ao citar que essa relação seria inclusive condição para que o projeto fosse construído em Anchieta, omitindo os favorecimentos aos grandes projetos instalados no Estado oferecidos pelo governo do Estado, que aprova em tempo recorde os licenciamentos em questão, no Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema).

Empreendimentos impostos à sociedade capixaba independentemente do passivo ambiental que representam ou da rejeição das comunidades que sofrem com os prejuízos ambientais, econômicos e sociais gerados por plantas industriais impactantes.

O folder com o título “Programa de Formação e Fortalecimento de Lideranças” também detalha a parceria com a Coordenadoria da Primeira Microrregião do Ministério Público do Estado, que propôs a realização do curso, como informa a Vale.

Durante 14 meses, a transnacional realizará seminários para capacitação sobre o processo de desenvolvimento local que considera correto. Ao todo serão 75 pessoas, em dois eixos, um direcionado a lideranças e outros a jovens. Podem se inscrever moradores de Anchieta, Alfredo Chaves, Guarapari, Iconha e Piúma – cidades que serão afetadas pela construção da CSU -, que sejam atuantes. O que significa participarem de entidades, instâncias oficiais, processos de licenciamentos de empreendimentos na região, conselhos municipais e Plano Diretor Urbano. O curso será oferecido pelo Instituto Fonte para o Desenvolvimento Social.

A siderúrgica da Vale se instalará em uma região onde os índices de poluição do ar já chegaram ao limite máximo permitido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e a capacidade hídrica já se esgotou, resultados da atuação da Samarco Mineração, em processo de implantação de sua quarta usina em Anchieta.

A área onde a CSU será instalada abrange as comunidades tradicionais de Chapada do A e Monteiro, território indígena. A Fundação Nacional do Índio (Funai) esteve no local em março deste ano, para avaliar o pedido de reconhecimento das terras, de origem Tupinikim.

O empreendimento terá capacidade para produzir 5 milhões de toneladas/ano de aço. A região já sofre com a falta de infraestrutura básica, aumento da criminalidade e inchaço populacional.

Fonte: Manaira Medeiros, Século Diário, 03/06/2011

http://www.justicanostrilhos.org/nota/747

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