Entre as conquistas da luta de resistência da comunidade estão água, luz e tecelagem para as mulheres do local
A comunidade do quilombo da Família Fidélix tem uma história recente. Nos anos 80, os fundadores, oriundos do município de Santana do Livramento, fronteira do Rio Grande do Sul, Sérgio Ivan Fidélix, Milton Waldir Teixeira Santana e Hamilton Correa Lemos chegaram à Porto Alegre e ocuparam o local, que fica na antiga Ilhota, atualmente bairro Cidade Baixa, do início do século 20. Hamilton, que foi o primeiro a chegar, conta o que encontrou no terreno.
– Era só mato. Tinha umas bananeiras por perto e, como era época de ditadura, fiz minha casa atrás das bananeiras para não me enxergarem. Aí fiz uma casinha de madeira, que ficou para a minha guria. Aí o Sérgio veio e trouxe a casa dele – diz.
A união do grupo se dava, principalmente, pela cultura e pelo futebol. O campo de jogo ficava perto da avenida Érico Veríssimo, uma das principais vias da cidade, onde atualmente existem condomínios residenciais. Em 2006, parte da comunidade chegou a ser despejada do local.
Segundo o presidente da associação do quilombo, Sérgio Fidélix, com a diminuição dos espaços, os moradores começaram a se aprofundar mais sobre a história do local e as próprias histórias de vida quando perceberam a relação com a terra.
– A gente tinha quase todas as coisas da cultura africana para nos organizarmos como quilombolas. Mas a gente não sabia que com esta nossa história nós tínhamos credencial como remanescentes. Foi aí que vimos o programa Brasil Quilombola e levamos a documentação, como carta de alforria e locais aonde se encontravam nossos antepassados – salienta.
Entre as atividades da comunidade, está uma horta comunitária. Em uma parceria com a Secretaria de Saúde de Porto Alegre, forneciam para o Posto de Saúde Modelo. Mas, conforme Fidélix, a produção foi temporariamente suspensa.
– Quando a gente chegou tinha um rapaz que plantava por aqui. Hoje temos uma horta comunitária que está desativada porque o rapaz que cuidava se encontra adoentado. Temos ervas medicinais nos canteiros – informa.
Este é um dos projetos que o quilombo pretende retomar. As conquistas da luta da resistência da Família Fidélix são marcadas com um “xis” em uma faixa na associação. Entre os itens marcados estão água, luz e tecelagem para as mulheres da comunidade. Ainda buscam educação e habitação.
Mas o “xis” mais esperado pelas 35 famílias do local, de acordo com dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), é no quadrado da titulação. Fidélix diz que este passo é importante para a comunidade.
– O título é coletivo, não é individual. Não é para uma família só, é para todas as famílias, tanto que a Família Fidélix é assim: almeja para todos serem beneficiados pela terra que nos encontramos – enfatiza.
https://gestaoseppir.serpro.gov.br/noticias/clipping-seppir/25-05-2011