ES – Arcelor usa propaganda para vender imagem de socialmente responsável

Manaira Medeiros

A resposta da ArcelorMittal aos números divulgados pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) sobre a poluição do ar na Grande Vitória e à cobrança do Ministério Público Estadual (MPES) para que se comprometa a minimizar suas emissões, na última semana, foi rápida. A transnacional se utilizou de uma prática habitual para, mais uma vez, tentar vender uma falsa imagem de empresa socialmente responsável aos capixabas, em propaganda paga de duas páginas publicada nos jornais impressos do Estado, nesse domingo (15). Mas não convenceu.

Contrariando a realidade de qualquer morador da região que é obrigado a lidar diariamente com o incômodo pó preto, a Arcelor estampou no material publicitário a imagem de uma funcionária de seu Laboratório de Energia e Meio Ambiente esticando a mão direita completamente limpa, para se contrapor ao gesto constantemente utilizado por representantes da sociedade civil para mostrar exatamente o oposto, a poluição que gera inúmeras doenças e deixa as casas imundas.

No texto atribuído à funcionária Rubiana Taquete Brandão, são utilizadas informações sobre análises dos materiais coletados, para afirmar que os indicadores da empresa são bons. A peça se vale de outro tipo de apelo, ao afirmar que os dirigentes da Arcelor vivem aqui, os filhos deles respiram esse ar, “por isso, nossos índices estão dentro dos exigidos pela legislação vigente e ainda fazemos muito mais”. Declarações que não têm outro objetivo senão sensibilizar os capixabas com mentiras, já que não correspondem em nada à realidade do Estado.

A empresa vai ainda mais longe ao afirmar que emite 5% da poeira sedimentável na Grande Vitória e que registra redução gradativa das emissões, mesmo com o aumento da produção. O que contraria qualquer constatação feita até então. Os projetos de expansão da empresa, licenciados em tempo recorde pelo Iema, somente agravam o problema da poluição do ar, principalmente porque a Arcelor já deveria ter assinado Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com medidas para minimizar seus impactos, mas, apesar das inúmeras tentativas da sociedade civil e MPES, há dois anos se recusa a formalizar tal acordo.

Para justificar a negação ao TAC, o mesmo assinado com a Vale, que exigiria a instalação das telas Wind Fencers, a Arcelor diz que implantou um cinturão verde que tem a mesma função das telas – o que é rebatido pelo MPES –, ponto também bastante explorado por ela na extensa propaganda.

A peça publicitária omite não só informações sobre a real emissão da empresa, como o comportamento de seus dirigentes ao longo de décadas. Desde que foi implantada no Estado, ainda sob o batismo de Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), a empresa deixou de cumprir condicionantes ambientais, como a instalação de usinas de dessulfuração para tratar os gases que emite, o que não fez apenas por economia. Postura acentuada nos últimos anos, com a negativa da empresa em firmar compromisso em prol do meio ambiente e da saúde dos moradores da Grande Vitória.

Também não há menção na propaganda da Ação Civil Pública impetrada pelo Ministério Público do Estado contra a Arcelor, motivada exatamente pela recusa da empresa em assinar o compromisso ambiental. Processo acusa a empresa de racismo ambiental, por utilizar no Estado tecnologias inadequadas e inferiores às de suas plantas no exterior, e cita ainda o Iema, determinando que o órgão revise as licenças ambientais concedidas à Arcelor e não autorize novas expansões, até que sejam implantadas as telas Wind Fencers.

Na última semana, reunião no MPES com a empresa deliberou pela realização de outra determinação da ação pública, a realização de uma auditoria para avaliar os impactos gerados pela Arcelor, indicando as medidas necessárias para a redução dos incides de poluição. Acordo firmado entre as partes coloca prazo de quatro meses para a auditoria, que será feita por empresa escolhida pela Justiça. Enquanto isso, a ação do MPES fica suspensa.

Segundo dados do Inventário divulgado pelo Iema, 47 toneladas de poluentes são lançados, por hora, no ar da Grande Vitória. Desses, quatro toneladas são de poeira fina, que são mais prejudiciais do que o pó preto, ao penetrar no pulmão e provocar doenças respiratórias. Em relação aos gases emitidos, a Vale e a ArcelorMittal somam, juntas, 69,9 % do dióxido de enxofre (SO2); 47,8 % de óxidos de nitrogênio (NOx) e 49,1% do monóxido de carbono (CO). Já de poeira fina, as duas correspondem a 15,8% e 6,1%, respectivamente.

Apesar dos números, que podem ser ainda mais elevados, o órgão garante que a qualidade do ar na Grande Vitória é boa. Informação não tem coro, porém, entre os promotores do MPES. Para eles, está claro que os parâmetros do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) sobre as emissões atmosféricas estão ultrapassados.

http://www.seculodiario.com.br/exibir_not.asp?id=10921

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.