A água enlameada das privatizações

Luiz Augusto Rodrigues/Advogado

São quatro as multinacionais que controlam o cartel das privatizações da água no mundo. Elas são associadas a um grupo considerável de grandes trustes que apostam na água como uma mercadoria tão ou mais importante que o petróleo.

O cartel que busca a privatização da distribuição da água no Brasil é composto por empresas conhecidas do grande público: o grupo francês Vivend está associado à Dominó Holdings S.A., que compõe com a Andrade Gutierrez, com o Banco Mundial, o Banco Oportunity (aquele do escândalo do mensalão) – ligado ao City Bank – e a Copel Participações. A Águas do Brasil, subsidiária da Odebrecht, que pretende atuar na nossa região, também participa do cartel das águas.
Quando o leitor ouvir falar em privatização da distribuição em Santa Cruz e Rio Pardo, pode associar esse processo a esse cartel.

Somente Inglaterra e França têm água privatizada na Europa. Em Paris, o prefeito está exigindo a devolução porque as tarifas penalizam a população.

No Paraná, o governo do Estado vendeu 39,71% das ações da Sanepar ao cartel citado. Isso foi um desatino. O governador Requião, recentemente, teve que reaver na Justiça porque a população não suportava as tarifas.

No Brasil, nos municípios que privatizaram, o usuário vive um inferno. A diferença de tarifa chega a 2.600%. Em Campos-MG (onde o cartel domina), a distribuição custa cinco vezes mais que nos municípios vizinhos de água pública. No município de Embak-MG, a administração não cobra a distribuição.

Em Carandaí-MG, existem dois bairros com todos os encanamentos instalados, mas a distribuição não acontece porque a empresa entende que não há retorno financeiro. A Suez (pertencente ao cartel das águas) tem a concessão da distribuição na capital da África do Sul, Joanesburgo. Lá a empresa instalou torneiras nos bairros pobres, em vez de instalações nas residências. Mas os usuários só podem abrir as torneiras depois de comprarem um cartão pré-pago, tal qual a telefonia.

Com o tempo assistiremos à rarefação da água, não pela quantidade, mas pela qualidade. Há milhões de anos que a quantidade de água no mundo é a mesma. Esse marketing de melhorar a qualidade com a privatização é falso, tal qual o marketing sobre a água mineral. Essa não é potável e só a propaganda cria a ilusão de que ela é melhor que a potável.
Transformar a água numa mercadoria significa mercantilizar a vida. Trata-se, também, de privatizar o poder político. Como vamos confiar as decisões sobre a vida a indivíduos privados? Essa sanha de privatizações tem como palco os cofres dos cartéis que disputam mercadorias com liquidez segura.

Na Itália, mais de um milhão e meio de assinaturas em abaixo-assinado contra a privatização. Em todo o mundo, há fortes movimentos pela água pública. Em Manaus, a Suez protagonizou uma CPI por causa dos danos à população.

As prefeituras que patrocinam a privatização estão longe do conceito republicano de democracia. Inserem-se nesse contexto internacional insano do lucro à custa da vida.

Os valores em defesa da vida exigem a água fora do mercado, o mercado fora das águas. Como disse Charles Chaplin: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios”.

[email protected]. Enviada por Ricardo Verdun.

 

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