ENSP usa linguagem audiovisual na educação em saúde

Isabela Schincariol

Para promover o uso da linguagem audiovisual como estratégia de educação em saúde, foi lançada a série Mais Saúde – Cidade do Rio de Janeiro. A produção, desenvolvida pela ENSP em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMSDC), é utilizada em cursos presenciais de formação de recursos humanos em saúde e também na modalidade a distância, além de estar disponível para acesso na internet. De acordo com Luisa Regina Pessôa, professora da Educação a Distância da ENSP e idealizadora do projeto, os vídeos são considerados um poderoso instrumento para a construção do saber.

Segundo Luisa, a ideia de criar vídeos teve início em 2005, quando o Ministério da Saúde (MS) a convidou para desenvolver um programa de qualificação com diferentes cursos. O convite foi feito após o prêmio Tecnologia para o SUS, oferecido pelo Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT) do MS, que Luisa recebeu por sua tese de doutorado em Saúde Pública, defendida na ENSP, sobre desperdícios de gasto público em saúde. “De lá para cá, fomos nos estruturando, ganhando qualidade e desenvolvendo projetos cada vez melhores. Mas não sou uma produtora, sou uma educadora que se utiliza da imagem no seu processo pedagógico”, afirmou.

Essa série da prefeitura contém oito DVDs com temas voltados para a atenção primária em saúde. Sua produção começou em 2010, com recursos provenientes da iniciativa Teias – Território Integrado de Atenção à Saúde. Porém, o primeiro vídeo da série Habitação Saudável – Tuberculose na Rocinha foi feito em 2009. Luisa explicou que este primeiro vídeo foi desenvolvido com apoio do Grupo Hospitalar Conceição, mas, com o início da parceria com a prefeitura, foi possível fazer uma edição melhor, com legenda e outros detalhes. Seu enredo trata de uma criança de 5 anos com tuberculose e a trajetória de sua família para melhorar as condições de salubridade da casa onde moram para superar a doença e evitar novos riscos. Durante algum tempo, este vídeo também foi utilizado no sítio eletrônico do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e do Fundo Global da Tuberculose.

Durante todo o ano de 2010 foram produzidos mais sete vídeos, são eles: Clínicas da Família30 anos de saúde na RocinhaHá Gente na Vigilância em SaúdeAcademia Carioca da Saúde; SMSDCRJ no Congresso Rede Unida; Promoção da Saúde em Portugal, com Luis PiscoObservatório de Tecnologias de Informação e Comunicação em Sistemas e Serviços de Saúde (Otics). O último vídeo, ainda em fase de finalização, é um relatório de atividade e prestação de contas do ano de 2010 para a Superintendência de Promoção, Atenção e Vigilância em Saúde (Subpav/SMSDCRJ).

“Para a elaboração dos vídeos, são feitos trabalhos de pesquisa; baseamo-nos em algumas bibliografias da saúde pública e muitas entrevistas para desenvolver os roteiros. Com isso, esses documentários ultrapassam as salas de aula e já estão sendo utilizados e replicados pelos alunos e todas as outras pessoas que tomam conhecimento e se interessam pelos temas. O vídeo dos 30 anos da saúde na Rocinha, por exemplo, traz uma fala muito rica do diretor da ENSP, Antônio Ivo de Carvalho, sobre a atenção primária.

O documentário Academia Carioca da Saúde foi contemplado na categoria ‘Saúde Corporal’, do Prêmio Videomed 2010, que aconteceu na Espanha. Este concurso de cinema na área médica, em saúde e em telemedicina tem como foco os cuidados para a saúde. Esta produção traz filmagens nos bairros de Santa Cruz, Recreio dos Bandeirantes e também no Complexo do Alemão, antes da ocupação pela Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Com esta premiação, o vídeo, que tem legenda em português e em espanhol, passou a integrar o acervo europeu de iniciativas na área de Saúde Pública do Brasil.

O início da utilização de um novo modelo

A inserção da linguagem audiovisual na educação e, mais especificamente, na construção de materiais didáticos vem sendo utilizada desde muito tempo por diversos cursos com bons resultados. De modo geral, está presente em capacitações com desenhos instrucionais inovadores e sensíveis às possibilidades de troca com outras áreas. Segundo Luisa, a linguagem audiovisual traz para o processo ensino/aprendizagem a estrutura narrativa do cinema e da TV – tão familiares às sociedades, além de ampliarem as possibilidades de discussões no âmbito dos processos de criação – e estimulam mecanismos cognitivos de reflexão e análise, ajudando na formação para o exercício consciente e crítico da cidadania.

No ano de 2005, quando Luisa começou a desenvolver vídeos, houve a estruturação do Programa de Qualificação da Incorporação de Tecnologias em Saúde/MS. Em uma parceria do Ministério com a ENSP, foram desenvolvidos cinco vídeos profissionais com o apoio do Canal Saúde, intitulados: Caleidoscópio do Desperdício, Rede, Planejando e Avaliando e Executando. Desde então, esses vídeos são utilizados por diversas pessoas, pois fazem parte do material didático de todos os nossos cursos.

O primeiro vídeo elaborado pela equipe do projeto, Encontro com os gestores da macrorregião de saúde de Montes Claros, lançado em 2007, integra o relatório de prestação de contas dos primeiros anos do Programa de Qualificação, apresentado em formato de vídeos. Este vídeo amador foi contemplado com o Prêmio Especial Diploma para Vídeo durante o IV Certamen Internacional de Cine Medico, Salud y Telemedicina e o III Taller Internacional de Cine y Video Cientifico, realizado em Havana, Cuba, pelo Centro Nacional de Investigações Científicas e Fundo Nacional de Bens Culturais. Ele está disponível na internet e é dividido em partes 12.

Com duração de quatorze minutos, este documentário possibilita a percepção da problemática da Gestão do Parque Tecnológico da Saúde em municípios de pequeno e médio porte. “O grande desafio na produção do documentário foi o de superar a precariedade do áudio das filmagens, problema equacionado com a colocação de legendas em português no filme.”

O Programa, que tem entre suas ações os cursos de Gestão de Recursos Físicos e Tecnológicos (Refit) e Gestão de Projetos de Investimentos em Saúde (Investidores), é oferecido no âmbito da Escola de Governo (EGS/ENSP) pela Educação a Distância da Escola.

Em 2007, nossa prestação de contas foi entregue ao Ministério da Saúde em formato de DVD, com documentos, planilhas, relatórios, depoimentos de alunos e professores em vídeo. Luisa resolveu fazer neste formato como uma maneira de provocação: “Por que não ter um relatório em formato audiovisual? E deu certo”, lembrou ela, dizendo ainda que “a conjugação destes diversos recursos de comunicação transformou-se em um imenso desafio para a Coordenação do Programa e, sobretudo, para a equipe pedagógica. A nosso ver, os resultados se mostraram muito positivos. Nessas primeiras produções, utilizamos dois processos distintos e integrados: um profissional de vídeos-clipe e um processo amador de produção de documentários.

Em 2008, foi iniciado uma nova fase no Programa, desta vez com a Gerência de Ensino e Pesquisa do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), cujos gestores da instituição na época eram egressos das turmas de 2006. “Nesta parceria, foi possível a formação de 220 alunos nas oficinas com 40 horas, e tivemos 40 alunos do Curso Refit e 40 alunos do Curso Investidores. Com a verba do GHC, foram financiados mais dois vídeos: Gestão de Investimentos em SaúdeTuberculose na Rocinha. Logo depois desses documentários, começamos o trabalho com a prefeitura para a série Mais Saúde – Cidade do Rio de Janeiro, cuja primeira produção foi uma reedição do documentário Tuberculose na Rocinha”, detalhou Luisa.

E novos projetos não param de surgir. Agora em 2011, está sendo desenvolvido o vídeo A Saúde do Viajante, que tem o propósito de aprimorar os mecanismos de promoção da saúde e prevenção de doenças ocasionadas pela circulação de pessoas pelos países, em especial no Rio de Janeiro, que é uma das principais cidades turísticas. Além disso, a equipe pretende elaborar mais vídeo-aulas, como a do Professor Luis Pisco, e vídeos temáticos sobre serviços de média e alta complexidade no SUS.

Luisa disse que esses vídeos integrarão o material didático para uma nova parceria da ENSP com o Ministério da Saúde, que poderá ser anunciada em breve. Para encerrar, ela destacou que mais de mil profissionais já foram formados nas oficinas, cursos de aperfeiçoamento e especialização e a proposta apresentada ao Ministério – que está em negociação – é para formar 450 equipes de oito alunos cada, totalizando 3.600 alunos e 400 docentes/gerentes.

http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/materia/index.php?origem=2&matid=24556

 

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