UnB lança campanha contra o uso de agrotóxicos no Brasil

Foto: Alexandra Martins/UnB Agência

Especialistas apontaram os riscos no uso de insumos químicos para a saúde e os intereses de empresas em um mercado bilionário

João Campos – Da Secretaria de Comunicação da UnB

A UnB Planaltina lançou nesta quarta-feira, ontem, a campanha Agrotóxico Mata: Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida. O objetivo do movimento, que reúne diversas entidades da sociedade civil, é conscientizar a população sobre os riscos dos produtos químicos lançados sobre as lavouras. Segundo o professor César Koppe, do Departamento de Genética e Morfologia da UnB e especialista em Biossegurança, boa parte dessas informações não chegam ao conhecimento da população pela omissão. “Os riscos são conhecidos, mas mesmo em um país com vocação agrícola nós não estamos protegidos”, alerta César, que já trabalhou na agências federais reguladoras, como o Ibama e a Anvisa. “Infelizmente não há liberdade de acesso à informação”.

Desde 2008, o Brasil se tornou o maior consumidor de Agrotóxicos do mundo. Segundo dados do Ministério da Agricultura, da Pecuária e do Abastecimento (Mapa), só em 2009 foram cerca de 800 mil toneladas de produtos químicos lançadas sobre as lavouras. A estatística faz com que, em média, cada brasileiro consuma cerca de 5,2 litros de agrotóxicos por ano. Produtos como os organoclorados, banidos de vários países por suas propriedades cancerígenas e pela sua facilidade de contaminação.

“50% do morango e 80% dos pimentões consumidos no país estão contaminados com níveis de agrotóxicos acima do permitido por lei. O veneno está na nossa mesa”, afirma o professor Fernando Carneiro, do Departamento de Saúde Coletiva e do Núcleo de Estudos de Saúde Pública da UnB. Dados do Ministério da Saúde apontam que o número de intoxicação por agrotóxicos, por ano, aumentou de mil para 6 mil por ano na última década.

AGRONEGÓCIO – Os especialistas presentes ao lançamento da campanha também do lobby político das grandes empresas que comandam o mercado de defensivos agrícolas. “O mercado de agrotóxicos no Brasil movimenta US$ 5,4 bilhões por ano. O poder político dessas empresas sobre a manutenção do negócio é muito grande”, afirma César Koppe. “Não é só os alimentos que estão contaminados, todo o sistema está”.

Fernando Carneiro destaca que o capital de algumas empresas, como a Monsanto e a Bayer, chegam a superar o PIB de alguns países em desenvolvimento. “Esse poder de mercado cria uma rede de influência inclusive dentro do Congresso Nacional”, observa. Estudioso do assunto, ele ainda apresentou dados mostrando que o comércio de agrotóxicos, feito em grande parte por empresas estrangeiras, não gera empregos no país.

BIOTECNOLOGIA – César Koppe diz que os transgênicos são a principal alternativa para substituir os agrotóxicos na lavoura sem comprometer a produção. “Hoje já temos sementes seguras com alta produtividade e baixa demanda de insumos, mas ainda faltam esforços para sua aplicação como uma alternativa”, avalia. Para ele, outra ferramenta para reduzir o uso de produtos químicos é a agroecologia, responsável pela produção de orgânicos no campo.
Segundo o representante do Movimento dos Pequenos Agricultores, Raul Krauser, o modelo de produção de base familiar apresenta uma série de benefícios sobre o modelo baseado nos agrotóxicos. “Além de gerar mais renda e emprego, a agroecologia garante a segurança alimentar por não usar veneno na produção dos alimentos”, aponta. Hoje, a agricultura familiar já responde pela produção de 70% dos alimentos consumidos no Brasil.

Atento à fala dos palestrantes, o estudante de Gestão do Agronegócio Carlos Rafael Pires ficou surpreso com as informações. “É uma questão de grande importância, pois passa pela saúde da população. Não tinha noção da gravidade do problema”, comenta o jovem de 21 anos. Segundo o professor Juarez Rodrigues, estimular o debate é foco da atividade. “É papel da universidade garantir o acesso à informação, apontar novos caminhos e formar profissionais com senso crítico”.

A campanha, que conta com representantes de diversas entidades governamentais e não-governamentais, continua nesta quinta-feira, 7 de abril, com uma manifestação contra os agrotóxicos e em defesa do Código Florestal, às 9h, no Congresso Nacional.

 

 

 

 

 

 

 

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