Carta Capital: Homofobia e racismo do deputado Bolsonaro geram onda de indignação

Para o advogado Eduardo Piza Gomes de Mello, do Instituto Edson Néris, Bolsonaro pode “negociar com parlamentares e partidos para que a corregedoria não abra um processo contra ele”. Foto: Renato Araújo/ABr

Paula Thomaz

As reações de diversos segmentos da sociedade às declarações do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) na TV Bandeirantes, na última segunda-feira 28, foram de “absoluta indignação”. Para Valéria Melki Busin, integrante da ONG Católicas pelo Direito de Decidir, responsável pela articulação com o movimento LGBTT, “esse tipo de manifestação fere os direitos humanos não só da comunidade LGBTT e familiares, como desrespeitou negros, mulheres e homens”, afirma.

Entre outras declarações polêmicas, Bolsonaro disse que “o filho começa a ficar assim, meio gayzinho leva um coro, ele muda o comportamento dele. Olha, eu vejo muita gente por aí dizendo: ainda bem que eu levei umas palmadas, meu pai me ensinou a ser homem” (sic). E também: “ô Preta [Gil], eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja, eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o seu.”

Para Valéria, resta a esperança de que ele seja sancionado pelas declarações racistas, já que atitude homofóbica ainda não é considerada como crime. “Ele sempre fala abertamente assim, se fosse crime a justiça funcionaria e ele seria preso. Depois das repercussões, ele deu uma consertada, mas se escora na impunidade. Só mostra que certos segmentos da sociedade têm cidadania de segunda classe. É como se estivesse dizendo ‘pode ir na avenida Paulista e bater em gay’”, indigna-se.

Na tarde de ontem, a Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ) entrou com um pedido de abertura de processo na Câmara dos Deputados, por quebra de decoro parlamentar, contra o deputado do PP. Mas para o advogado Eduardo Piza Gomes de Mello, do Instituto Edson Néris, ele pode sair impune por ter imunidade parlamentar, que lhe dá o direito de se expressar, já que representa seus eleitores mas, apesar disso o advogado entende que ele pode ser cassado, sim. “Ele se excedeu, cometeu um ato racista e isso é inadmissível. Ele ainda pode negociar com parlamentares e partidos para que a corregedoria não abra um processo contra ele”, fala.

Nesta quarta-feira o deputado disse que não teme ser cassado por causa de comentários racistas feitos em programa de televisão. “O soldado que vai à guerra e tem medo de morrer é um covarde. Eu estou aqui para expor as minhas ideias”, disse. E justificou que entendeu errado ou houve problemas de edição da produção do programa e que não tem medo de ser destituído da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. “Quem manda na minha cadeira é o líder do meu partido. Ele é quem decide, eu não saio de lá. Estou lá para não ter uma comissão só voltada para a demagogia e para defender interesses de quem está à margem da lei, como presidiários. Eu nunca vi defenderem direitos de famílias de vítimas de assassinos”.

Na Fundação Palmares o presidente Eloi Ferreira de Araujo, reagiu com indignação às declarações do deputado. A entidade estuda, com o seu departamento jurídico, a adoção de medidas contra o ato de racismo.

Também nesta quinta-feira 31 a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa promoveu um ato de repúdio às declarações do deputado, durante reunião no Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro. O interlocutor da comissão, Ivanir Santos, disse que é necessário abortar manifestações do tipo das proferidas pelo deputado imediatamente. “Ouvir, em pleno ano de 2011, falas como essas tornam necessário que se atente ainda mais para os perigos que a sociedade corre quando pensamentos fundamentalistas começam a nos rodear. A irresponsabilidade dessas declarações é muito grande”.

Ontem, uma representação assinada por 20 deputados foi protocolada na Mesa Diretora da Câmara pedindo que a Corregedoria da Casa investigue Bolsonaro pelos comentários racistas.

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