Pimenteira: resistência indígena no Piauí

Muito pouco se conhece sobre os Pimenteiras, povo que foi exterminado no início do século 19, por ocasião da conquista do alto Piauí

Benedito Prezia – Porantim

Muito pouco se conhece sobre os Pimenteiras, povo que foi exterminado no início do século 19, por ocasião da conquista do alto Piauí, rio cujas nascentes faziam divisa com o noroeste da Bahia. Esta área, de difícil acesso, tornou-se o refúgio de alguns povos do sertão, como os Pimenteiras, acossados pelas fazendas de gado, chamados currais, que se instalaram em todo agreste e sertão nordestino.

No final do século 18 a capitania do Piauí era dirigida por uma junta trina, composta pelo Ouvidor da comarca de Oeiras, Antônio de Morais Durão, pelo tenente-coronel João do Rego Castelo Branco e pelo vereador Domingos Bezerra da Macedo. Com intrigas internas, este triunvirato durou pouco, tornando-se o coronel João do Rego Castelo Branco o grande potentado, levantando denúncias contra o ouvidor, que foi preso e enviado para São Luís do Maranhão.

Com grande autonomia e apesar da idade, João do Rego e seus filhos, Félix e Antonio, em abril de 1779 organizaram uma expedição punitiva contra os Pimenteiras, e que foi composta de 40 praças de cavalaria e vários indígenas aliados, como os Akroá, Timbira e Gueguê, num total de 134 homens.

A campanha, que parecia promissora, foi um fracasso, pois não conseguiram localizar estes indígenas, refugiados nas caatingas da região, e nem as minas de ouro, talvez o objetivo mais importante desta ação.

Irritados com esta operação de guerra, os Pimenteiras passaram a desfechar ataques contra as fazendas do alto Piauí, matando muitas pessoas e muito gado.

Quatro anos depois, o governo resolveu mudar de tática, criando escoltas volantes, que eram apoiadas tática e financeiramente pelos fazendeiros. O resultado não foi alentador. Com sete anos de ação, os frutos dessa operação resultaram na prisão de uma dezena de indígenas, que levados para Oeiras, sede da capitania, não se pôde colher nenhuma informação, devido à limitação da língua. Seu idioma não era compreensível a nenhum dos povos aliados dos portugueses.

A resposta guerreira desses indígenas prosseguiu, sendo os currais de gado constantemente atacados.

No final do século 18 o governo local pediu à coroa portuguesa autorização e apoio para uma campanha mais agressiva. Entretanto o governo de Dona Maria I propunha uma política de aproximação com meios pacíficos e a implantação de aldeamentos missionários, como ocorrera em outras épocas. Infelizmente os jesuítas já não estavam mais no Brasil, expulsos que foram por Dom José I em 1759, e quase nenhum sacerdote se dispunha a realizar um trabalho de catequese, sobretudo com os indígenas do Piauí.

A chegada da família real no Brasil fez com que a política “civilizatória” se tornasse mais agressiva e militarizada. Em 1807 o governo do Piauí empreendeu vários ataques na região, sob o comando de José Dias Soares, quando são presos cerca de 30 indígenas, incluindo mulheres e crianças.

Depois de um recuo estratégico, quando se retiraram para Pernambuco, os Pimenteiras voltaram a atacar a região de Parnaguá, no sul do Piauí.

Em 1808, nova expedição punitiva se deslocou para lá, sendo surpreendidos por várias frentes, ocorrendo um grande massacre. Os sobreviventes, em número de 70, foram vendidos em Oeiras e nas fazendas da região, terminando assim a trajetória de mais um povo do Nordeste, que morreu lutando.

Benedito Prezia é historiador e colunista do jornal Porantim.

*Um agradecimento especial a Antônia Vieira, professora em Teresina, pelo importante material enviado, que auxiliou na elaboração deste texto.

Fonte: Brasil de Fato/CEDEFES

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