Carta de São Paulo: A nossa luta unificada – ANLU

Militantes do Movimento Negro Unificado – MNU, reunidos/as em São Paulo, nos dias 11, 12 e 18 de dezembro de 2010, decidiram apresentar à sociedade os principais pontos de sua proposta política. O posicionamento político a partir de A NOSSA LUTA UNIFICADA – ANLU.

QUEM SOMOS?

Somos um setor do movimento social negro que nasceu de uma construção social coletiva, de um projeto unificado de combate ao racismo.

Resgatando nossa história, a história do surgimento desta entidade do povo negro.Foi no dia 7 de julho de 1978, no ato público realizado contra o racismo nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, que denunciamos para o Brasil e o Mundo a farsa da  DEMOCRACIA RACIAL BRASILEIRA.

Reunimos milhares de pessoas e entidades dos movimentos sociais. Estavam lá as diversas entidades parceiras na luta contra o racismo apontando as bases para a construção de um projeto político para o povo negro como:  Centro de Cultura e Arte Negra, Núcleo Negro Socialista, Brasil Jovem e setores progressistas da igreja e de direitos humanos.

Lutamos contra a ditadura política e a “ditadura” cultural de base eurocêntrica colonialista, que produzia um quadro de violência racial de caráter genocida.

Este momento foi o marco para a organização do MNCDR (Movimento Negro Contra a Discriminação Racial) e que posteriormente passou a ser  Movimento Negro Unificado – MNU.

Nascia o embrião de um projeto de Estado Democrático, contra o racismo e antissexista, ou seja, um projeto libertário. E não estávamos sós, toda a sociedade organizada conclamava um Brasil democrático. O nosso PROGRAMA DE AÇÃO, nascido em setembro de 1978 apresenta as estratégias deste projeto político construído do ponto de vista do povo negro para a sociedade brasileira.

Passados todos estes anos, a sociedade pode se perguntar: por que a reafirmação de “NOSSA LUTA UNIFICADA”, em pleno século XXI?

Primeiro porque nossa origem histórica confirma que sempre trabalhamos unificada e democraticamente.

Conquistamos coletivamente os territórios negros seja na sociedade como um todo, seja através do Estado com políticas públicas de inclusão para as comunidades negras. Na busca das garantias de nossas territorialidades, territorialidades negro-africanas de resistência ancestral como os terreiros de candomblé, quilombos, escolas de samba, capoeira e de diversas outras formas de resistência negra e de manifestação cultural negro-africana.

O que conquistamos e o que queremos de um Estado Democrático?

Defendemos a democracia interna em nossa entidade. Democracia esta que garante  a proporcionalidade das chapas , nos embates saudáveis para construir nossas direções nos diversos níveis de democracia e pluralidade, que na nossa concepção significa reconhecermos diversos pontos de vista políticos, mas que se orientam nos princípios do Programa de Ação do MNU.

Seguimos construindo o MNU como uma organização plural, democrática, anticapitalista, antissexista e principalmente combatente do racismo e da discriminação racial. A intervenção nossa no Estado se dá de forma não oficial, por setores articulados com este objetivo  e a partir de nossos princípios de luta.

Não voltamos as costas para o Estado, devemos nos fazer presente para implodi-lo por dentro e construir um novo Estado a serviço de nosso povo.

O MNU nasceu da unificação de lutas com as entidades co-irmãs, e em inúmeros espaços de manifestação de nossa ancestralidade africana. Dos terreiros às cidades implementamos o combate ao racismo. Isto porque sabemos  que o racismo não escolhe tempo ou lugar e sua destruição também não pode ser diferente.

Temos consciência que muito mais poderia ter sido feito, porém precisamos lutar pela união do movimento negro para pressionarmos o governo a avançar mais na política reparatória e afirmativa em relação à população negra, como em relação às políticas públicas de saúde que contemplam nossas especificidades. Ainda precisamos lutar para regulamentar cotas no ensino superior, trabalho, partidos políticos e televisão.Repudiamos a literatura racista e eurocêntrica que ainda está presente nas escolas brasileiras. Desde 1978 denunciamos os/as escritores/as que folclorizam nossa cultura e animalizam a imagem do povo negro. Essa literatura não poder ser adotada em escolas.
Autores como Monteiro Lobato representam escritores que contribuem para construção de um imaginário estereotipado  e, portanto, de um  SABER RACISTA, mesmo com linguagem lúdica. Neste sentido para a efetivação da lei 10639/03 que estabelece a obrigatoriedade da educação das relações étnico-raciais, nas escolas, é necessário a eliminação de estereótipos racistas e isto não pode se dar sem o fim da produção desse SABER RACISTA  e do currículo eurocêntrico.

Não podemos aceitar isto, exigimos a retirada do acervo racista das escolas, afinal o racismo é crime.

A luta contra a violência policial e o extermínio de jovens negros/as, são algumas das lutas cotidianas para a garantia de nossas vidas. Ambos estão alicerçando o TERROR RACIAL. O desrespeito religioso, neste país, tem reforçado esse quadro de violência. As religiões de origem africana urgem da garantia de seu direito de manifestação e reprodução, e o fim das perseguições cotidianas e do preconceito, que tem atacado os terreiros de candomblé e umbanda e demais denominações e seus seguidores.

É preciso avançar na educação oferecida nas comunidades quilombolas e na construção do Plano Nacional de Educação Quilombola, bem como aplicar o Decreto 4887 que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Enquanto houver capitalismo, existirá racismo e enquanto houver eurocentrismo haverá colonialismo, dominação cultural e fascismo. Jamais toleraremos isto, construímos este país, construímos o patrimônio cultural brasileiro, estamos edificando uma sociedade de direito a partir da diáspora africana. Seguiremos lutando e conquistando o que nos é de direito. A política de combate ao racismo deve ser MULTITERRITORIAL das vilas, favelas, quilombos rurais e urbanos, cidades, até do Estado.

O povo negro relembra o tambor como instrumento de diálogo e comunicação histórica, com povos diferentes. A melodia da justiça étnico-racial continuará retumbando:

BASTA DE RACISMO!

POR REPARAÇÃO HISTÓRICA E HUMANITÁRIA PARA O POVO NEGRO!

ÁFRICA VIVE PARA ALÉM DO OCEANO ATLÂNTICO, POR ISTO A NOSSA LUTA É UNIFICADA!
Militantes do Movimento Negro Unificado – MNU
A NOSSA LUTA UNIFICADA – ANLU.

http://africas.com.br/site/index.php/archives/6863

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