Adital – Deslocamentos forçados, sequestros, assassinatos, perseguições. Essas são apenas algumas situações vividas por colombianos e colombianas no marco do conflito armado no país. Violações que nem mesmo as populações indígenas conseguem escapar. No mês passado, a Unidade Indígena do Povo Awá (Unipa) chamou atenção da comunidade nacional e internacional para a ameaça de extermínio sofrida pela população.
No comunicado, a organização indígena solicita aos grupos armados, como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN), que respeitem a vida e o território indígena. Da mesma forma, pede às forças de segurança pública que protejam as populações colombianas, inclusive as indígenas.
Unipa também aproveita o comunicado para exigir do Governo Nacional o cumprimento da garantia da sobrevivência física e cultural do povo e o respeito aos direitos humanos, fundamentais e coletivos dos indígenas. Solicita ainda a retirada das munições do território sem explodi-las, a realização de investigações para relevar a relação entre exército, polícia e paramilitares, e a adoção do Plano de Salvaguarda Étnica elaborado pelos Awá.
À comunidade internacional, a organização pede que ela acompanhe e monitore a situação dos Direitos Humanos e do Direito Internacional Humanitário do povo indígena e que solicite do Governo colombiano as garantias efetivas de cumprimento dos direitos dos povos indígenas.
“Chamamos, ademais, povos e organizações indígenas a se unir em resistência pacífica e empreender ações de incidência ante qualquer feito de violência que afete a sobrevivência, os direitos e a dignidade de nossos irmãos indígenas”, reforça.
De acordo com o comunicado de Unipa, somente no mês passado que as autoridades nacionais e departamentais manifestaram repúdio aos crimes cometidos contra as populações indígenas em 2009. Isso depois que conseguiram encontrar, nos computadores de membros das Farc, provas de que os assassinatos contra os indígenas foram cometidos por integrantes do grupo armado, e não por ocasião de brigas internas entre os próprios indígenas, como queriam justificar.
“Deixando na opinião pública nacional e internacional uma mensagem implícita ‘os assassinatos que estão se apresentando no povo indígena Awá é um problema interno, estão matando entre eles mesmos’. O que nunca [os meios de comunicação de massa] manifestam é que, igual aos wisha (não indígenas), a vinculação dos atores armados legais e ilegais se faz de maneira individual e não obedece aos mandatos de um povo”, ressalta.
A organização revela que os assassinatos e as violações ao povo Awá não terminaram no ano passado. “A estratégia de extermínio contra nosso povo continua. Faz seis meses, na defesa Chinguirito Mira e nos conselhos comunitários das imediações, as Farc advertiram à comunidade que, se os erradicadores entrassem com força pública, iriam bombardear”, relata.
As violações, entretanto, não são cometidas somente por grupos guerrilheiros. De acordo com Unipa, em outubro passado, o exército entrou no território Awá de Chinguirito Mira e invadiu as casas das famílias indígenas, levando pertences da população.
Além disso, os bombardeios e enfrentamentos realizados nas áreas indígenas e proximidades afetam as comunidades. “Desde que o exército está presente na zona, os habitantes da reserva não podem realizar suas atividades cotidianas, como semear, caçar e pescar. Por causa desses enfrentamentos e bombardeios, as pessoas têm medo”, comenta.
O temor não é exagero. De acordo com a organização, no último dia 14, um enfrentamento entre Farc, ELN e Exército Nacional, ocorrido no município de Barbacoas, departamento de Nariño, deixou, no mínimo, um morto e dois feridos.
Violações em 2009
As violações cometidas neste ano não são novidade para os Awá. Em 2009, a população indígena foi alvo de pelo menos dois massacres, resultados dos conflitos entre guerrilheiros e forças armadas. Em fevereiro do ano passado, integrantes das Farc invadiram o município de Barnacoas, em Nariño, e mataram 15 indígenas, incluindo mulheres grávidas. Em agosto do mesmo ano, um novo ataque matou 12 Awá e deixou dezenas de feridos.
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=52894