“É gratificante colocar minha fotografia a serviço da luta do povo ”

São Francisco Vivo – Como teve início esse projeto de fotografar o Rio São Francisco?

João Zinclar- Sempre tive vontade de fazer um ensaio fotográfico sobre o rio.  Quando ressurgiram as discussões sobre a equivocada proposta do governo federal de efetivar as obras da Transposição e os movimentos sociais da região se colocaram em movimento questionando o projeto, percebi que tinha chegado a hora. Como considero o rio São Francisco patrimônio nacional e acredito que o debate acerca de seu futuro deveria ser nacionalizado, senti necessidade de dar minha contribuição através da fotografia.  A imagem sempre ajuda a formar opinião. Em janeiro de 2005 teve inicio essa jornada, que dura até hoje.

SFV- A idéia de publicação do livro esteve presente desde o início?

JZ – Tinha sim, mas era uma idéia indefinida. Um livro fotográfico custa caro e por opção consciente não recorri ao poder público e muito menos ao poder privado para realizar esse trabalho. O apoio à confecção do livro veio de sindicatos de trabalhadores e pessoas amigas que toparam ajudar nesse processo. Com a verificação do rico e vasto material acumulado, as condições materiais de fazer o livro foi se concretizando.

SFV- Durante esses 5 anos de registro o que mais lhe impressionou sobre as populações ribeirinhas e sobre a luta em defesa do rio São Francisco?

JZ – A solidariedade com os de fora e a disposição de luta desse povo, que resiste para defender seu rio, seu trabalho e sua cultura . É algo que realmente impressiona! O contato com essas lutas ampliou meu conceito de luta de classes no Brasil, está sendo um grande aprendizado político para mim. Sobre a luta em defesa do rio, ela é correta e não pode parar.

SFV – O Livro não tem apenas fotografias, mas também textos que debatem o assunto. A que se deve essa escolha?

JZ – Porque é um livro jornalístico também, um livro como esse, com abordagem  sócio-política, não podia prescindir da clássica dobradinha textos e fotos, que se complementam. O formato do “O Rio São Francisco e as Águas no sertão” precisou de contribuições de pessoas com as mais variadas formações e conhecimento de causa de quem mora na beira do rio  para discorrer na forma de ensaios, crônica, poesia e artigos. O livro ficou enriquecido com as fotos acompanhadas da diversidade dos textos.

SFV – A fotografia serviu como instrumento de denúncia em vários momentos, como nas fotografias da Guerra do Vietnã, no livro Terra de Sebastião Salgado, entre outros. Na sua opinião, a que se deve a força dessa linguagem e como espera que o seu livro contribua para a luta em defesa do rio São Francisco?

JZ – Cito também Dorothea Lane, fotografando a dura vida dos trabalhadores no período da grande depressão americana nos anos trinta do século passado. No Brasil também temos expressivos trabalhos nas figuras de João Ripper, Douglas Mansur e Jesus Carlos entre outros, fazendo fotografia engajada, popular, documentários de protesto e denúncia social, expressando uma visão de mundo à esquerda. A força dessa linguagem vem da importância da imagem que retrata, informa, denuncia, procurando influenciar na formação de consciência crítica de uma realidade concreta. Temos bons exemplos citados já na pergunta. A fotografia no Vietnã teve sua parte na contribuição para a derrota imperialista e no fim da guerra, as fotos de Sebastião Salgado contribuíram muito na luta do MST pela reforma agrária no Brasil. João Ripper é importante no combate ao trabalho escravo nas carvoarias e fazendas por esses sertões afora. No caso do livro, acho que ele pode ajudar na reflexão e compreensão crítica dos conflitos provocados envolvendo o tema da água, onde o projeto da transposição é a expressão máxima, pois apesar do início das obras, a luta em defesa das águas do rio São Francisco continua.

SFV – Como foi o processo de seleção das fotos? Qual foi o critério utilizado?

JZ – O processo de seleção das fotos foi difícil, pois diante de tanto material, a dúvida e a certeza sobre qual foto usar, até chegar à escolha definitiva, o vai e vem constante do tira e bota foto, causa certo desgaste, mas isso é natural. O critério utilizado foi a escolha daquelas fotos que expressavam melhor a realidade existente na beira do rio sobre o ponto de vista social, ambiental, cultural, no dia a dia da vida do povo, suas lutas e resistência contra as ameaças que rondam o mundo do rio, tudo isso aliado à estética e informação contida na foto.

SFV – Durante todo esse tempo de registros, as suas fotos estamparam vários cartazes, publicações e sites de varias organizações e movimentos, inclusive o nosso. Como você avalia tamanha repercussão que o seu trabalho tem tido ao longo desses anos?

JZ – A avaliação é positiva, saber que seu trabalho esta cumprindo o objetivo proposto, que é colocar minha fotografia a serviço da luta do povo, é gratificante.

SFV – O Livro terá lançamento em outras cidades além de Campinas?

JZ – O meu objetivo é fazer com que esse livro chegue até a região fotografada, independente de lançamento ou não. Isso dependerá principalmente de iniciativas locais.

SFV – Como será possível adquirir o livro?

JZ – A tiragem do livro é pequena, só 1000 exemplares. A maior parte dele será distribuída entre os apoiadores do projeto, sindicatos, os movimentos sociais e pessoas amigas, que foram muitas.  Uma pequena parte pode ser vendida, é só entrar em contato pelo email [email protected] e pelo telefone 19  91218415.

Serviço:
Para aquisição do livro “O Rio São Francisco e as Águas no Sertão”
Tel.: (19) 91218415
email: [email protected]

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