Dona Raimunda: “Eles acham que para criar o gado tem que acabar com o babaçu”

Local: São Paulo – SP
Fonte: Amazonia.org.br
Link: http://www.amazonia.org.br
Bruno Calixto
Dona Raimunda, conhecida pela sua luta na defesa dos    direitos das mulheres extrativistas.
Raimunda Gomes da Silva, ou dona Raimunda, como ficou conhecida, pode parecer à primeira vista uma mulher simples, do campo.  Mas é só iniciar a conversa para se ver uma mulher forte, politizada, que conhece bem a sua realidade e sabe que deve lutar para conseguir mudá-la.
Dona Raimunda ficou conhecida pela sua luta na defesa dos direitos das mulheres extrativistas, as Quebradeiras de Coco babaçu.  Essa luta trouxe resultados, como a Lei do Babaçu Livre, que proíbe a derrubada de palmeiras de babaçu, e permite que as quebradeiras possam extrair o fruto das palmeiras mesmo em propriedades privadas.
Mas mesmo com a Lei, fazendeiros continuam derrubando as palmeiras, que levam cerca de noventa anos para dar frutos, o que inviabiliza o reflorestamento.  “Eles acham que para criar o gado tem que acabar com o babaçu”, explica Dona Raimunda.
A quebradeira conversou, por telefone, com o site Amazonia.org.br, e relatou a experiência que teve na luta pelo direito das mulheres da região do Bico do Papagaio, Tocantins, e de sua experiência na criação de associações das mulheres dentro do sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Ela contou que a situação das mulheres melhorou, com projetos como a “Casa da Quebradeira” e o Bolsa Família.  Mas ainda assim, não deixa de ver com crítica a questão.  “Por causa dessa assistência social do governo, a situação está melhorando.  Está muito longe de ser suficiente, mas que dá pra calar a boca das pessoas que não conhecem os seus direitos, isso dá”.
Confira a entrevista.
Amazonia.org.br – A senhora é conhecida por defender a causa das mulheres extrativistas.  Hoje, esses direitos estão sendo mais respeitados do que antigamente?
Dona Raimunda – Sim, estão.  Mas olha, é na luta, defendendo.  Hoje temos a lei [Lei do babaçu Livre], mas tem que fazer respeitar a lei, porque a lei foi criada no Estado e no município, e mesmo assim continuam derrubando coco.
Amazonia.org.br – E o que tem sido feito para defender o babaçu?
Dona Raimunda – O que você imaginar, a gente fez.  Agora, nesses últimos tempos, a gente tem lutado através dessa lei.  Antigamente a gente fazia mutirão, entrava na frente de trator, denunciava.  Hoje a gente está denunciando em cima dessa lei.
Mas depois da denúncia, os caras são multados, pagam a multa e depois fazem de novo.  Eles botam veneno nas palmeiras.  A chuva chega, os animais bebem da água com o veneno, a gente come os animais…
Amazonia.org.br – Quem faz isso?
Dona Raimunda – São os donos da terra, os fazendeiros.  Eles acham que para criar o gado tem que acabar com o babaçu.
Amazonia.org.br – E como ficam as mulheres que trabalham nessa atividade?  Elas conseguem sustentar família com o babaçu?
Dona Raimunda – Agora melhorou, porque tem Bolsa Família, elas recebem Bolsa Escola.  Melhorou muito a condição, até mais do que as que querem entrar na quinta dos fazendeiros.  Aquela atividade muito pesada diminuiu depois que elas começaram a receber essa ajuda de custo, salário maternidade, essas coisas.
Por causa dessa assistência social do governo, a situação está melhorando.  Melhorando, não, esta dando pro pessoal ficar lá um pouco mais, pra ir sobrevivendo.  A gente sabe que não é o suficiente, está muito longe de ser suficiente, mas que pra calar a boca das pessoas que não conhecem os seus direitos, isso dá.
Amazonia.org.br – A senhora foi a primeira mulher a ser presidente do sindicato dos extrativistas.  Como foi essa experiência?  Os homens te respeitavam?
Dona Raimunda – A gente não tinha para quem se queixar, então o jeito era criar o sindicato do trabalhador rural.  E depois a gente criou o movimento de mulheres dentro do sindicato.  Os companheiros sempre me respeitaram, mas às vezes tem uma pessoa que é respeitada, mas outras não são.
Você tem que fazer com que a sua categoria seja respeitada.  E por isso nós criamos Associação de Mulheres e Secretaria da Mulher dentro do sindicato, dentro do Conselho Nacional dos Extrativistas.  Fomos criando essas associações para lutar para que os companheiros respeitem o direito dessas companheiras.  Hoje já tem muita companheira consciente dos seus direitos, da sua vida, de ser mulher.
Amazonia.org.br – Qual o papel da mulher da Amazônia hoje?
Dona Raimunda – Hoje aqui a gente luta por emprego, por saúde, por educação.  Contra a violência, pela paz.  Então nossa luta é grande.  Lutando para que as pessoas fiquem no campo, não tenham que ir pra cidade pra criar os filhos.  Lutando para ter educação aqui.  Principalmente com a questão de ter tanta tecnologia, questão da internet, nossos filhos estão longe de poder usar a internet, de estar trabalhando com tecnologia.
Por isso a gente batalha muito dentro da questão da educação, para que tenha universidade aqui na região, gratuita, para as quebradeiras de coco.  Porque elas não têm condição de pagar quinhentos, seiscentos reais numa matrícula, numa escola, pra botar o filho na universidade.
Amazonia.org.br – As quebradeiras já conseguiram algum resultado com essa luta?
Dona Raimunda – Aqui na região a gente conseguiu a questão da moradia.  Nós, mulheres, conseguimos 803 casas de quebradeira de coco.  Isso para nós foi uma conquista muito grande.
Quem construiu foi o governo, federal e estadual, mas foi por causa da nossa luta, cobrando no dia a dia.  Até foi feito um filme [o vídeodocumentário “Raimunda, a quebradeira”, do cineasta Marcelo Silva], e o governo viu a situação das quebradeiras de coco.  Este ano devem sair mais 96 casas.  Agora a gente está pleiteando mais casas, cinco mil casas só na região do Bico do Papagaio.

Reportagem de Bruno Calixto

Raimunda Gomes da Silva, ou dona Raimunda, como ficou conhecida, pode parecer à primeira vista uma mulher simples, do campo.  Mas é só iniciar a conversa para se ver uma mulher forte, politizada, que conhece bem a sua realidade e sabe que deve lutar para conseguir mudá-la.

Dona Raimunda ficou conhecida pela sua luta na defesa dos direitos das mulheres extrativistas, as Quebradeiras de Coco babaçu.  Essa luta trouxe resultados, como a Lei do Babaçu Livre, que proíbe a derrubada de palmeiras de babaçu, e permite que as quebradeiras possam extrair o fruto das palmeiras mesmo em propriedades privadas.

Mas mesmo com a Lei, fazendeiros continuam derrubando as palmeiras, que levam cerca de noventa anos para dar frutos, o que inviabiliza o reflorestamento.  “Eles acham que para criar o gado tem que acabar com o babaçu”, explica Dona Raimunda.

A quebradeira conversou, por telefone, com o site Amazonia.org.br, e relatou a experiência que teve na luta pelo direito das mulheres da região do Bico do Papagaio, Tocantins, e de sua experiência na criação de associações das mulheres dentro do sindicato dos Trabalhadores Rurais.

Ela contou que a situação das mulheres melhorou, com projetos como a “Casa da Quebradeira” e o Bolsa Família.  Mas ainda assim, não deixa de ver com crítica a questão.  “Por causa dessa assistência social do governo, a situação está melhorando.  Está muito longe de ser suficiente, mas que dá pra calar a boca das pessoas que não conhecem os seus direitos, isso dá”.

Confira a entrevista.

Amazonia.org.br – A senhora é conhecida por defender a causa das mulheres extrativistas.  Hoje, esses direitos estão sendo mais respeitados do que antigamente?

Dona Raimunda – Sim, estão.  Mas olha, é na luta, defendendo.  Hoje temos a lei [Lei do babaçu Livre], mas tem que fazer respeitar a lei, porque a lei foi criada no Estado e no município, e mesmo assim continuam derrubando coco.

Amazonia.org.br – E o que tem sido feito para defender o babaçu?

Dona Raimunda – O que você imaginar, a gente fez.  Agora, nesses últimos tempos, a gente tem lutado através dessa lei.  Antigamente a gente fazia mutirão, entrava na frente de trator, denunciava.  Hoje a gente está denunciando em cima dessa lei.

Mas depois da denúncia, os caras são multados, pagam a multa e depois fazem de novo.  Eles botam veneno nas palmeiras.  A chuva chega, os animais bebem da água com o veneno, a gente come os animais…

Amazonia.org.br – Quem faz isso?

Dona Raimunda – São os donos da terra, os fazendeiros.  Eles acham que para criar o gado tem que acabar com o babaçu.

Amazonia.org.br – E como ficam as mulheres que trabalham nessa atividade?  Elas conseguem sustentar família com o babaçu?

Dona Raimunda – Agora melhorou, porque tem Bolsa Família, elas recebem Bolsa Escola.  Melhorou muito a condição, até mais do que as que querem entrar na quinta dos fazendeiros.  Aquela atividade muito pesada diminuiu depois que elas começaram a receber essa ajuda de custo, salário maternidade, essas coisas.

Por causa dessa assistência social do governo, a situação está melhorando.  Melhorando, não, esta dando pro pessoal ficar lá um pouco mais, pra ir sobrevivendo.  A gente sabe que não é o suficiente, está muito longe de ser suficiente, mas que pra calar a boca das pessoas que não conhecem os seus direitos, isso dá.

Amazonia.org.br – A senhora foi a primeira mulher a ser presidente do sindicato dos extrativistas.  Como foi essa experiência?  Os homens te respeitavam?

Dona Raimunda – A gente não tinha para quem se queixar, então o jeito era criar o sindicato do trabalhador rural.  E depois a gente criou o movimento de mulheres dentro do sindicato.  Os companheiros sempre me respeitaram, mas às vezes tem uma pessoa que é respeitada, mas outras não são.

Você tem que fazer com que a sua categoria seja respeitada.  E por isso nós criamos Associação de Mulheres e Secretaria da Mulher dentro do sindicato, dentro do Conselho Nacional dos Extrativistas.  Fomos criando essas associações para lutar para que os companheiros respeitem o direito dessas companheiras.  Hoje já tem muita companheira consciente dos seus direitos, da sua vida, de ser mulher.

Amazonia.org.br – Qual o papel da mulher da Amazônia hoje?

Dona Raimunda – Hoje aqui a gente luta por emprego, por saúde, por educação.  Contra a violência, pela paz.  Então nossa luta é grande.  Lutando para que as pessoas fiquem no campo, não tenham que ir pra cidade pra criar os filhos.  Lutando para ter educação aqui.  Principalmente com a questão de ter tanta tecnologia, questão da internet, nossos filhos estão longe de poder usar a internet, de estar trabalhando com tecnologia.

Por isso a gente batalha muito dentro da questão da educação, para que tenha universidade aqui na região, gratuita, para as quebradeiras de coco.  Porque elas não têm condição de pagar quinhentos, seiscentos reais numa matrícula, numa escola, pra botar o filho na universidade.

Amazonia.org.br – As quebradeiras já conseguiram algum resultado com essa luta?

Dona Raimunda – Aqui na região a gente conseguiu a questão da moradia.  Nós, mulheres, conseguimos 803 casas de quebradeira de coco.  Isso para nós foi uma conquista muito grande.

Quem construiu foi o governo, federal e estadual, mas foi por causa da nossa luta, cobrando no dia a dia.  Até foi feito um filme [o vídeodocumentário “Raimunda, a quebradeira”, do cineasta Marcelo Silva], e o governo viu a situação das quebradeiras de coco.  Este ano devem sair mais 96 casas.  Agora a gente está pleiteando mais casas, cinco mil casas só na região do Bico do Papagaio.

Fonte: Amazonia.org.br

Link: http://www.amazonia.org.br

Comments (1)

  1. Gostaria de saber se é possivel me passar o contato dela, pois tenho um projeto social e gostaria de apresentar para ela
    porém não estou conseguindo contata-lá.
    Grato

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