Petição – Jornal O Tempo, de Belo Horizonte: “Direito de resposta aos Guarani-Kaiowá JÁ!”

Petição: Recebemos estarrecidos, no último dia 8, o artigo “Guarani Kaiowá é o c… Meu nome agora é Enéas”, de Walter Navarro, publicado no jornal O Tempo. O texto é repleto de assertivas de cunho racista como: “índio bom é índio morto”; “é o povo mais primitivo do mundo, nem chegou à Idade da Pedra”; “além de incestuosos, trocam os filhos por um reles anzol”. Ante a gravidade da situação, exigimos a demissão de Walter Navarro e o direito de resposta aos Guarani Kaiowá. A ‘liberdade de errar’, supõe, em um Estado de direito, a garantia de que esses mesmos erros sejam exemplarmente punidos. Afinal, como escreveram os índios Guarani e Kaiowá numa carta endereçada à revista VEJA “A escrita, quando você escreve errado, também mata um povo”. É inadmissível, portanto, que ‘a liberdade de errar’ converta-se num assustador ‘direito de matar’. Portanto, solicitamos, que os órgãos competentes tomem as providências necessárias para que Walter Navarro e o jornal O TEMPO respondam pelo crime de racismo.

Para assinar, clique AQUI. Os protestos imediatos já provocaram a demissão do jornalista. Isso não extingue, entretanto, os danos e os crimes cometidos. Assim, é importante assinarmos, para que fatos como esse sejam tratados conforme a lei e parem de se repetir, como aconteceu ontem na Folha de São Paulo, em coluna escrita por um “acadêmico” portador de doutorados e pós doutorados. Abaixo, mais informações sobre o episódio de O Tempo. TP.

“Por que isto é importante

No último dia 08 de novembro o jornal O Tempo publicou o artigo “Guarani Kaiowá é o c… Meu nome agora é Enéas, p…”, de autoria de Walter Navarro. Veiculado na versão impressa e digital do jornal às vésperas do Ato Nacional Contra o Genocídio dos Guarani e Kaiowá – que reuniu milhares de pessoas em diversas capitais do país, no dia 9 de novembro de 2012 –, o artigo é repleto de afirmações marcadamente preconceituosas, humilhantes e mentirosas, figurando como o mais recente (e, talvez, o mais grave) atentado contra os direitos indígenas, em particular, e aos direitos humanos, em geral, perpetrado pela imprensa. Assertivas truculentas como “gosto é dos Nambiquara, que estão extintos?” (sic); “índio bom é índio morto”; “matar, se preciso for, morrer, nunca!”; acumulam-se no referido artigo, configurando-o, sem qualquer sombra de dúvida, como um crime de ódio, inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de 1 (um) a 3 (três) anos de reclusão e multa, conforme a Lei 7716/1989 (Art. 1; Art. 20), o Código Penal (Art. 140, III) e a Constituição Federal. A passagem abaixo, extraída do artigo, dimensiona bem o absurdo do fato:

“Os guaranis kaiowá não passam de recolhedores de mel no meio do mato. É o povo mais primitivo do mundo, nem chegou à Idade da Pedra. Petistas “avant la lettre”! Comem cupim. Intimidam até malária! Pigmeus, parecem formigas gigantes e caracterizam-se pela insuportável pneumatose intestinal, o que faz deles companhia deveras desagradável. Além de incestuosos, trocam os filhos por um reles anzol. Por isso, o Brasil é assim, uma mistura de índios flatulentos com criminosos portugueses… Andam nus, exibindo suas vergonhas; os homens portam nem mesmo um estojo peniano. As mulheres são libidinosas e se vão com qualquer um. As moças tomam banhos coletivos, fazem suas necessidades nas moitas, fumam juntas e entregam-se a brincadeiras de gosto duvidoso, como cuspir uma na cara da outra. […] A vadiagem dos guaranis kaiowá pelo menos é lucrativa. Ontem, troquei um canivete suíço (falso) por várias toras de mogno de sua reserva”.

Tal demonstração gratuita de ódio nos traz o assombro e a questão: por quê? Por quê sujar as mãos de sangue desse modo? Pois é isso o que Walter Navarro faz ao assinar essa série de humilhações públicas aos índios Guarani e Kaiowá e a todos os povos indígenas no Brasil. Índios que enfrentam atualmente uma situação de genocídio (como denuncia o próprio MPF), “sobreviventes que querem sobreviver”, vítimas dos maiores índices de assassinatos a indígenas registrados em todo o país, confinados em reservas superlotadas, sem acesso a recursos básicos, ou relegados a viverem à beira de estradas, sob barracas de lona, perseguidos por fazendeiros e pistoleiros no Mato Grosso do Sul. Qual sentimento horrível seria esse o que moveu Navarro a se regozijar em atacar, humilhar e, enfim, esforçar-se em derrotar essas pessoas que já amargam as piores condições de vida imagináveis?

Para alguns leitores, no entanto, tudo se trata de um enorme engano. Foram os “chatos de plantão”, “politicamente corretos” e “militantes de sofá” quem não percebemos as “nuances perspicazes do humor” de “Waltinho”, como afirmou um amigo íntimo do autor, no Facebook. Emprega-se a ironia quando se pretende dizer algo, dizendo o contrário. Ora, tal propriedade essencial dessa figura de linguagem tem servido de álibi a toda forma de violação de direitos e disseminação de preconceitos nas mídias. Mais do que isso, serve perfeitamente àqueles que, como Navarro, dizem o que bem entendem e se protegem dizendo que o disseram, “querendo dizer” o inverso. Caberia aqui perfeitamente a distinção proposta por A. C. Sponville entre ironia e humor: “…a ironia não é uma virtude, é uma arma – voltada quase sempre contra outrem. É o riso mau, sarcástico, destruidor, o riso da zombaria, o riso que fere, que pode matar”. Aqueles que riram e até gargalharam ao lerem o artigo de Navarro, mataram, eles também, um pouco de todos nós – os índios, sobretudo.

Sim, sr. Walter Navarro: somos todos Guarani-kaiowá!”

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