A quem interessa a queda da Ministra Luiza Bairros?

Paulo César Pereira de Oliveira*

Com certeza não interessa ao povo negro brasileiro, nem ao movimento negro autônomo, comprometido e protagonista, que luta por políticas públicas efetivas de combate o racismo e à discriminação racial, e que se pauta pelo compromisso indelével com a população negra, que, apesar dos propalados avanços da última década, ainda enfrenta a violência racial em sua vida cotidiana.

No momento em que circulam fortes rumores na ESPLANADA, de que o PLANALTO pretende “esvaziar” os ministérios voltados para a defesa de direitos (SDH, SPM, SNJ e SEPPIR), que seriam substituídos por um único GRANDE MINISTÉRIO, jogando mulheres, negros, juventude, torturados da ditadura, entre outros, mais uma vez, numa vala comum, no famoso CALDEIRÃO DA DIVERSIDADE, o que tem um grande apelo no imaginário racista brasileiro, que insiste em nos negar identidade, história, cultura e especificidades, não é de se estranhar, que o ‘jornal a Folha de São Paulo’, cumprindo o seu papel histórico, inicie o processo de desgaste de três ministras, exatamente de três das pastas “INDESEJADAS”.

O que nos surpreende é ver determinados segmentos do Movimento Negro cerrando fileira com esta reação conservadora, dando um verdadeiro tiro no pé. Entendemos o descontentamento desses setores, acostumados a uma relação de compadrio, de balcão, sem editais ou chamada pública, e que agora se sentem “desprestigiados”, “não apoiados”, na gestão da ministra Luiza Bairros. A Função da SEPPIR não é, e não pode ser, a de atender às demandas individuais e individualistas, de uma ou outra pessoa, de uma ou outra Entidade. Um ministério de promoção da igualdade racial só se justifica se for capaz de pensar e traçar políticas públicas para a maioria desta nação, formada por nós, negros e negras.

PORQUE CONFIAMOS NA GESTÃO LUIZA BAIRROS

Primeiro, por ser a ministra Luiza Bairros uma mulher negra, fruto genuíno das lutas e contradições da nossa história, e da luta do Movimento Negro; e também por que a mesma se cercou de militantes que aliam capacidade técnica e compromisso com a luta pela igualdade racial.

Aos que criticam uma suposta deficiência e falta de habilidade política, afirmo que estão confundindo politicagem com o fazer político, no seu sentido maior da busca do bem comum. Graças à articulação desta gestão da SEPPIR, a expressão “enfrentamento ao racismo”, entrou no PPA, pela primeira vez, subvertendo a histórica negativa do Estado Brasileiro em reconhecer a existência do racismo como elemento estruturante da desigualdade brasileira. E assim, também pela primeira vez, os povos tradicionais de matriz africana, os chamados povos de terreiro, sustentáculos da nossa sobrevivência simbólica e física no país, entraram no PPA, o documento que “determina” para onde e para quem será destinado o orçamento do país nos próximos 4 anos.

Ministra Luiza Bairros, espero que a SEPPIR continue nessa trajetória de construção de políticas públicas para o povo negro, e que não ceda à pressão das vaidades de pessoas e “grupinhos”, sem compromisso real com o nosso povo e com a nossa cultura.

À?? Púpù Gbogbo wá (1).

Ribeirão Preto, outubro de 2011.

PAULO CÉSAR PEREIRA DE OLIVEIRA é SACERDOTE DA TRADIÇÃO YORÙBÁ.

“Enquanto os leões não tiverem os seus contadores de histórias, as histórias das caçadas glorificarão os caçadores” (provérbio Yorubano).
[1] Muito axé pra todos nós.

http://revistaafricas.com.br/archives/32678

Comments (1)

  1. a minha indignação e com a maneira que criticam as pessoas que lutam por uma causa tão difícil nesse pais que o racismo institucional, racial e social, sabemos que falta muita coisa mais não podemos querer muda 500 anos de historia ruim e vergonhosa de um dia para a noite , mais como os frutos de um bom trabalho esta aparecendo surgem os judas da vida para querer atrapalha mais fique tranquila ministra DEUS e pai e nos samos mais que vencedores

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