Esta segunda notícia tem razão de ser. Na primeira, tínhamos a versão da Plataforma Dhesca (que endossamos, fique claro). Aqui, temos a cobertura da Agência Câmara e, nela, um dado importante que falta na notícia anterior: a posição do representante da Fiocruz. A mesma Fiocruz que nos brindou, há dois dias, na terça-feira, dia 4, com o Relatório Avaliação dos Impactos Socioambientais e de Saúde em Santa Cruz decorrentes da instalação e operação da empresa TKCSA, expondo de forma corajosa os danos e riscos à saúde à comunidade estudada. Com relação a Caetité, infelizmente, ou nem mesmo há urânio lá, ou foi uma Fiocruz bem diferente a que analisou o caso e, hoje, se apresentou na Comissão da Câmara. Que pena! TP.
Agência Câmara – Um relatório com denúncias da população de Caetité, na Bahia, sobre contaminação da água, falta de transparência e violação dos direitos humanos na extração de urânio no município, foi lançado nesta quinta-feira, pela Plataforma Brasileira dos Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (Dhesca), uma organização da sociedade civil, durante audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
A responsável pelo relatório, Marijane Vieira Lisboa, relatou a conclusão da visita que fez à cidade baiana, que abriga um terço de toda a reserva de urânio do País, mais de 100 mil toneladas do mineral.
“As principais reclamações da população se referem à questão da água. O que nós constatamos é que a população não tem informações fidedignas nem suficientes para se sentir tranquila em relação a sua saúde”, disse Marijane. “Há uma incidência muito grande de cânceres na região, particularmente de leucemia, que é uma doença muito associada à exposição radioativa.”
Afirmação contestada
Já o presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Alfredo Trajan Filho, responsável pela mineração de urânio em Caetité, contestou a afirmação de que a água de Caetité é contaminada. “Essa é uma questão que jamais existiu. A água que está lá é a mesma água que estava há 400 milhões de anos, quando se formou aquela geologia”, disse Alfredo. “O que a gente tem que fazer: se ela contém urânio, que sempre conteve, acima daquele limite que não é saudável para a população, deve ser isolado esse poço e não deve ser usado. Não cabe ao INB como instituição – a INB ajuda no que pode ajudar -, mas aos governos o atendimento das necessidades básicas.”
Entre outros pontos reclamados pelos moradores foram a falta de água e as más condições de trabalho para os funcionários da mineração do urânio. Todas foram contestadas pela presidência da INB, que afirmou cumprir todas as regras de saúde que a legislação impõe.
Sem indícios de contaminação
O coordenador da pesquisa que a Fundação Oswaldo Cruz está fazendo sobre a saúde da população de Caetité, Arnaldo Levy Lassance, afirmou que até agora a Fiocruz não encontrou indicios de contaminação por radiação de urânio na cidade baiana. Mas ele destaca que o estudo só deve ser concluído no ano que vem.
O deputado Penna (PV-SP), que pediu o debate, afirmou que o Partido Verde vai solicitar a realização de um plebiscito sobre o uso de energia nuclear no País. O parlamentar ressaltou as providências que vai tomar a partir do debate sobre a extração de urânio, começando pelo pedido que vai fazer à Comissão de Meio Ambiente para formar um grupo para visitar Caetité.
Segundo ele, será uma comissão externa para visitar, “com os deputados e com aporte científico”, as dificuldades locais. “Vamos procurar o ministro da Ciência e Tecnologia para discutir o caso e vamos fazer um dossiê da audiência pública.”
Os participantes do debate só concordaram em dois pontos: de que é preciso melhorar a forma como a população de Caetité é informada sobre as ações da mineração do urânio; e de que é necessário um órgão independente de fiscalização da energia nuclear no País, função que hoje é exercida pela CNEN, a Comissão Nacional de Energia Nuclear, a mesma que incentiva o desenvolvimento da área.
Reportagem – Ginny Morais/Rádio Câmara
Edição – Newton Araújo