Os 103 anos da Umbanda

Por Alexandre Braga*

O Brasil, maior país católico do planeta, tem uma religião de feições afro-indígenas e características nacionais. A Umbanda completa 103 anos no dia 15 de novembro de 2011, segundo o censo do IBGE de 2001 ela tem 432 mil adeptos. Sob o lema do Amor, Humildade e Caridade essa religião superou todos os obstáculos como credo popular, haja vista os difíceis momentos em que sua prática virou caso de polícia, pois era proibida. Durante o Estado Novo, na década de 30, Getúlio Vargas criou a Inspetoria de Entorpecentes e Mistificações para combater seus cultos, época em que eles aconteciam de forma clandestina.

A Umbanda, que significa para todas as bandas, nasceu no Rio de Janeiro no dia 15/11/1908, através do médium Zélio Fernandino; então com 17 anos, cuja inspiração para o início das práticas mediúnicas vieram por meio do caboclo das Sete Encruzilhadas que afirmara que estava vindo naquele momento para oficializar uma nova religião onde não existiria nenhum tipo de discriminação e que estaria aberta para qualquer um. A Umbanda é composta de um único Deus (Olorum, que é o criador de tudo e todos), onde seus frequentadores (os “filhos de fé”) reverenciam entidades superiores denominados orixás, sendo o principal Jesus (Oxalá). 

A associação da religiosidade africana aos elementos do catolicismo aconteceu principalmente como estratégia de sobrevivência nas senzalas contra os maus-tratos e os castigos fisícos impostos aos escravos; pois os senhores de engenho não admitiam cultos que não fossem os de fé européia. Daí nasceu o sincretismo religioso, pelo qual os negros associavam os orixás aos santos de seus senhores, mas na verdade estavam mesmo é praticando a fé dos ancestrais africanos. Essa fusão da Umbanda com os elementos das culturas afro ( jêje, nagô, banto e mina), pajelança, cardecismo, catolicismo e da natureza são as bases dos rituais umbandísticos.

Os cultos da Umbanda eram feitos em tendas, posterioremente terreiros. O primeiro deles foi o Centro de Umbanda Nossa Senhora da Piedade, quando a religião passa a ser conhecida como “macumba”, tipo de madeira usada para fabricar o atabaque, principal instrumento musicial tocado na Umbanda e outras religiões de matrizes africanas. Em nossos dias a denominação macumba tem, em algumas regiões brasileiras, conotação pejorativa.

Em 1946, graças à emenda na Assembleia Constituinte proposta pelo escritor-deputado Jorge Amado, do PCB, hoje PCdoB, a liberdade de culto foi aprovada. Porém, foi o ex-governador de São Paulo, Adhermar de Barrros, “o defensor da Umbanda”, quem deu apoio, nos anos 50, aos terreiros para que eles se registrassem nos cartórios, inaugurando um breve período em que a religião deixou de ser “caso de polícia”. Após o Concicilio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965, a Igreja Católica passa a dialogar com as religiões de inspiração afro-indígena, mas o preconceito e a perseguição só começam a ser tipificados como crimes de intolerância religiosa a partir da promulgação da Constituição de 1988.

*Alexandre Braga é Presidente da UNEGRO – União de Negros Pela Igualdade e Tesoureiro do FOMENE – Forum Mineiro de Entidades Negras. Email:[email protected].

http://www.unegro.org.br/site/colunista.noticia.php?id=57&id_colunista=4&id_content=60

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