A crise de fome que atinge a Somália espalhou-se ontem para mais três regiões e deve afetar todo sul do país até o final do ano. Segundo a Unidade de Análise de Nutrição e Segurança Alimentar da Somália (FSNAU), órgão da ONU, a desnutrição aguda e mortes ligadas à inanição aumentaram nos últimos dias nos distritos de Balcad, Cadale e em campos de refugiados nos arredores de Mogadíscio. A informação é do jornal O Estado de S. Paulo, 04-08-2011.
Em 20 de julho, a ONU colocou os distritos de Bakool e Baixo Shabelle em estado crítico. Ainda de acordo com a FSNAU, milhares de pessoas já morreram de fome na Somália nos últimos dias e a ajuda humanitária tem sido insuficiente.
“A chegada de suprimentos continua inadequada, parte por causa das restrições às áreas afetadas, mas também por causa da falta de fundos e de dificuldades em ampliar os programas de ajuda urgente”, disse a entidade em comunicado.
A falta de chuva e as mudanças climáticas provocaram uma onda de fome no Chifre da África, região formada também por Etiópia, Quênia e Djibuti. Mais de 11 milhões de pessoas foram afetadas. Na Somália, onde a situação é mais grave, 3,7 milhões de pessoas – metade da população – não têm o que comer. Desse número, 2,8 milhões vivem no sul do país.
A presença do grupo radical islâmico Al-Shabaab no sul da Somália tem dificultado a entrega de ajuda aos famintos. No ano passado, o grupo proibiu a entrega de alimentos na área e expulsou agências humanitárias.
Com o início do Ramadã, o mês sagrado do Islã, tropas de paz da ONU iniciaram uma ofensiva contra os radicais. A violência provocou o deslocamento de 100 mil refugiados para Mogadíscio nos últimos 2 meses.
A agência de refugiados da ONU (Acnur) afirmou ontem que tem condições de distribuir alimentos por meio de redes locais, mas há dificuldades em identificar as necessidades de novos deslocados pelo conflito no sul do país. “O plano deveria dar conta de dez acampamentos, mas a ofensiva restringiu nossa movimentação”, disse o porta-voz do Acnur, Andy Needham.
O Programa Mundial de Alimentos da ONU elogiou ontem a decisão do governo americano de aliviar restrições a grupos de ajuda que atuam na área controlada pelo Al-Shabaab. Quando os EUA colocaram os militantes, que têm vínculos com a Al-Qaeda, na lista de grupos terroristas, agências que poderiam colateralmente beneficiá-los tiveram sua ação dificultada. “Algumas organizações terão mais facilidade. Isso deve fazer com que a ajuda chegue a quem precisa”, disse o porta-voz do órgão, David Orr. Líderes da milícia islâmica têm dados sinais contraditórios sobre a permissão para atuação de ONGs em seus domínios. A ONU teme que a ajuda humanitária seja apreendida pelos radicais se a distribuição não for monitorada.
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