Toda a solidariedade aos famintos e sedentos do Itaim Bibi, Morumbi, outros bairros nobres e outras doze capitais brasileiras que fizeram um panelaço. De fato, não demarcar as terras indígenas, construir grandes obras para agradar as empreiteiras, cortar direitos dos trabalhadores, não fazer a reforma agrária, são exemplos típicos que merecem o povo nas ruas.
Mas, a fome e a sede excedem qualquer motivação das anteriormente citadas. Aqui pelo sertão do Semiárido Brasileiro lá pelas décadas de 1980 ainda tínhamos muita fome e muita sede. Vimos gente migrando, trabalhando em Frentes de Emergência, buscando uma lata d’água quilômetros distante de suas casas, saqueando cidades, morrendo literalmente de inanição, isto é, fome e sede. As principais vítimas eram as crianças e nossos índices de mortalidade infantil estavam em níveis da África Subsaariana. Agora não. Estamos nos níveis toleráveis dos padrões da ONU.
Impossível que alguém que ainda se julga humano não reaja indignado a tanta miséria e sofrimento. Hoje essas cenas macabras da miséria já não existem mais aqui em nossa região. Trabalho simples de captação de água de chuva, tanto para beber como para produzir, ajudaram a superar ao menos a fome e a sede. Problemas graves ainda existem, não mais essas desumanidades.
Portanto, se hoje a fome e a sede se deslocaram dos nossos sertões para o Itaim Bibi e outros bairros nobres de São Paulo – panelaço é uma forma de protesto de famintos e sedentos – e outras capitais, então, merecem todo respeito. E merecem nossa solidariedade. Afinal, fome e sede tem que ser página superada da história e não voltarmos atrás, agora se replicando onde menos imaginávamos.
Portanto, estamos com todos aqueles que protestaram. Fome e sede nunca mais.
*Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.