Nota de protesto contra o racismo praticado contra Quilombolas e Indígenas no sul do país

CIMI – O Rio Grande do Sul amanheceu (no dia 13 de junho) com as informações de que 23 jovens foram presos durante as manifestações em defesa do Transporte Público em Porto Alegre e de que “pequenos agricultores” bloqueariam rodovias no sul do país para protestar contra demarcações de terras quilombolas e indígenas. Os bloqueios efetivamente ocorreram no Litoral Norte, BR-101, município de Maquine, na região Norte do estado, BR-285, município de Getúlio Vargas e em outras quatro rodovias federais e estaduais.

As manifestações desencadeadas em sete capitais por transporte público eficiente e de qualidade foram apresentadas como ações de vandalismo pela grande mídia. No entanto, as cenas de truculência e vandalismos demonstram de forma explícita que a Polícia Militar as praticou para defender e garantir a sanha de lucros dos empresários dos transportes públicos. Centenas de pessoas que protestavam foram agredidas e presas. O transporte público, em todo o país, é caro e de baixa qualidade, em função disso os protestos se avolumam pelo Brasil.

As manifestações dos agricultores, patrocinadas pelos setores do agronegócio, têm como objetivo pressionar as autoridades para que estas não demarquem terras quilombolas e indígenas, desrespeitando com isso, preceitos constitucionais. Seus protestos têm as mesmas características dos demais setores da sociedade, no entanto contam com o aval e complacência dos poderes públicos.

Lamentavelmente os meios de comunicação referem-se, quanto aos protestos que acontecem no país, de forma diferenciada. No caso das manifestações pela defesa do transporte público a mídia criminaliza as pessoas. No caso daqueles que bloquearam as estradas, incentivados e patrocinados pelos deputados ruralistas, causando enormes transtornos para a população, os meios de comunicação adotaram a posição de que os “pequenos agricultores” protestam porque não querem perder direitos, criminalizando, como consequência, os povos indígenas e quilombolas como se estes afrontassem “os direitos dos agricultores”.

A manifestação dos “pequenos agricultores” é orquestrada pelo agronegócio através da Farsul, CNA e pela bancada parlamentar ruralista através dos deputados federais Alceu Moreira (PMDB/RS) e Luiz Carlos Heinze (PP/RS), ambos da base aliada do governo Dilma Rousseff, para se contrapor à demarcação das terras indígenas e quilombolas.

Calúnias, infâmias e difamação são veiculadas aos quatro cantos contra quilombolas, indígenas, antropólogos, ativistas e advogados defensores dos direitos humanos. A legislação é flagrantemente desrespeitada por quem deveria cumpri-la e tudo isso aprofundando o clima de violência contra os povos tradicionais.

Quilombolas e indígenas vivem nas beiras de estradas, fazendo parte, comprovadamente, do grupo social do país com menor IDH e ainda com seus territórios invadidos por grileiros, fazendeiros e agricultores, que não raras vezes, contratam jagunços para ameaçar, intimidar, agredir e até matar lideranças. E tudo isso com a inércia dos poderes constituídos.

No caso da Comunidade Quilombola de Morro Alto, Associação Quilombola Rosa Osório Marques, com território delimitado em4.660 hectares (território ancestral 10% da área real dos quais 23 ex-escravos herdaram) sofreu um processo de esbulho e violência continuada, sendo a União e o Estado, mesmo tendo conhecimento desses fatos, responsáveis pela implementação de projetos de colonização na área.

Mesmo os “proprietários” sabedores de que na legislação Quilombola, especificamente, o Decreto 4887/2003, prevê a indenização para a terra por preço de mercado, além das benfeitorias, eles optam por se mobilizar, junto com os latifundiários e especuladores imobiliários, contra os direitos dos povos indígenas e quilombolas.

Utilizam-se de aparatos dos poderes locais, prefeituras, sindicatos rurais para fazer uma verdadeira campanha de terrorismo dizendo que escolas serão fechadas e vidas perdidas se terras forem demarcadas. Ou seja, fazem terrorismo e intimidação e além disso ofertam vantagens e dinheiro para que famílias quilombolas abandonem seus direitos.

No caso dos povos indígenas, o Estado promoveu sobre suas terras a colonização. Entregou títulos de propriedade aos agricultores. Cabe, portanto, ao estado promover o pagamento da indenização e o reassentamento das famílias afetadas por demarcações de terras. Não se pode jogar sobre os povos indígenas a responsabilidade pelos equívocos e práticas criminosas do Estado e seus colonizadores.

Diante da opressão e da violência que estão sendo praticadas contra as comunidades indígenas e quilombolas no Rio Grande do Sul, assim como em outras regiões do Brasil, a constatação mais preocupante é a de que os problemas são bem mais profundos do que as questões fundiárias. Estão na raiz destes conflitos o preconceito e a intolerância contra quilombolas, indígenas e pobres. Nossa sociedade é racista, não aceita os diferentes e não reconhece seus direitos fundamentais a vida, a liberdade, a terra. Os governos seguem, em suas políticas públicas, as práticas que negam esses direitos.

Porto Alegre, RS, 13 de junho de 2013.

FRENTE NACIONAL EM DEFESA DOS TERRITÓRIOS QUILOMBOLAS

CIMI SUL – CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO – REGIONAL SUL – EQUIPE PORTO ALEGRE

Comments (2)

  1. Participo de uma associação que trabalha com recursos próprios em defesa da comunidade de Morro Alto (Maquiné).
    Formamos uma comunidade composta em sua maioria por euros e afrodescendentes,convivendo socialmente a mais de 150 anos com a consequente miscigenação destas etnias.
    Causa espanto que alguém em nome de instituições como CIME C.N.B.B., escreva um artigo tão equivocado demonstrando total ignorância (desconhecimento do processo requerido) ou má fé, tornando-se conivente com as falcatruas que deram origem a este processo.
    Talvez não conheças o significado das palavras :Quilombola e Grileiro ou por outra , desconheça esta comunidade que é composta em sua maioria de pequenas propriedades de agricultura Familiar ou residências. Meu caso herdeiro de área de 11 ha.,agricultura Familiar escritura e registro em cartório ha mais de 120 anos.
    Esta comunidade é formada por 950 famílias , 110 são de afrodescendentes dos quais 102 são proprietários dos seus terrenos e casas. Para sua orientação 75% delas são contra a esse processo de demarcação, porque estão consciente que também perderão suas propriedades que passariam a pertencer ao governo. Poderiam permanecer no local entretanto não seriam mais proprietárias .
    A quem interessa isto? Sabe como se processa esta falcatrua?
    Três ou quatro pessoas se reúnem e contam uma historia para um antropólogo que comprometido com a causa elabora um laudo memorial , tecnicamente chamado de memória implantada . Este laudo é aprovado pela Associação Palmares que apoiada num decreto inconstitucional do ex-presidente Lula que da direito a auto-intitulação e denominação. O processo vai para as mãos do INCRA que conivente com a falcatrua começa a demarcação.
    Fique sabendo que através de laudo altamente técnico e realizado por profissionais conceituados se comprovará que nunca houve Quilombo nesta comunidade. (procure o real significado da palavra )
    Você acha justo e honesto que meia dúzia de pessoas tentem se aproveitar de um “canetaço ” para dizimar toda uma comunidade de aproximadamente 4.000 pessoas que vivem em harmonia entre raças ,para criar território exclusivo de afrodescendentes? Isto não é fomentar preconceito racial e ambiental? Já pensou quantas famílias são compostas pelas duas etnias? A quem interessa isto, ao CIME, C.N.B.B. ou o próprio governo?
    Os nossos protestos são para que estes processos de demarcações fraudulentas sejam regidos por leis e regulamentos justos e não por maracutaias que em nome de justiça comente outras injustiças ferindo o estado de direito.
    Pense mais e escreva artigos sobre o que você realmente conhece ou poderá ser avaliada como ignorante ou mentirosa.
    Saudações em nome da comunidade de Morro Alto.

  2. Amiga, que coisa cretina este artigo. A propriedade da minha familia tem 4ha, é um sítio de lazer e foi comprado há 40 anos, com escritura pública e tudo. Eu nasci nesta terra e aí? ainda vais manter entre aspas o “proprietario”?? Veja, a terra foi comprada, escruturada e temos 40 anos de impostos. Eu tenho vínculo com a terra, além da propriedade. Hum? Que acha? Quem são os negros? o que querem com a terra? não há vocação agrícola na região… e “latifundio” então foi a pior de todas… totalmente fora da realidade… olha, pensa antes de publicar, pensa…

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