Munduruku denunciam roubo de urnas funerárias e violação de lugar sagrado no Teles Pires e pedem ao MPF paralisação dos trabalhos e investigação imediata

AI PusuruCarta da Associação Indígena Pusuru e do Conselho Indígena Munduruku do Alto Tapajós (CIMAT) ao Iphan e ao Ministério Público Federal

Nós, caciques e lideranças do povo Munduruku, reunidos na aldeia Sai Cinza, município de Jacareacanga, Pará, entre os dias 23, 24 e 25 de abril do ano 2013, tivemos conhecimento de fatos transcorridos na cachoeira das Sete Quedas, rio Teles Pires, Estados do Matogrosso e Pará, lugar sagrado para os Munduruku, para onde vão as almas dos nossos mortos, onde vive a Mãe dos Peixes e onde um dos nossos grandes guerreiros Muraycoko, pai da escrita, deixou registrada sua história para as gerações futuras do povo Munduruku.

Esses fatos preocupantes que recentemente chegaram ao nosso conhecimento dizem respeito a uma pesquisa arqueológica de licenciamento ambiental da Empresa Documento – Arqueologia e Antropologia, a serviço da Usina Hidroelétrica Teles Pires, em que foram achadas e retiradas de seu local urnas funerárias integrantes de um cemitério sagrado indígena do nosso povo, unanimemente reconhecido pelos nossos anciões e pajés Munduruku a partir do exame detalhado e coletivo de duas fotografias dessas urnas retiradas por um indígena Apiaká que chegaram ao nosso alcance. Situação esta agravada por não ter havido comunicação nem autorização de nosso povo para isto, que consideramos uma violação de nosso território sagrado e ancestral.

Diante do exposto, exigimos a imediata paralisação da obra, especificamente dessa pesquisa arqueológica nas 7 Quedas, e, principalmente, a interrupção da retirada de nossas urnas funerárias e de quaisquer outras intervenções em nosso sítio sagrado arqueológico, até que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, bem como o Ministério Público Federal acompanhados por uma comissão de caciques, lideranças e Pajés Munduruku apurem esses fatos que nós consideramos da mais alta gravidade e desrespeito para nossas tradições milenares e nosso patrimônio cultural.
Em nosso entendimento este lugar deve ser mantido intocável.

Assim, exigimos ao Ministério Público Federal do Matogrosso e Pará, que é o nosso advogado e arbitra em nossa causa, que tome as providências cabíveis urgentemente, pois sabemos que nosso maior lugar sagrado já se encontra sendo destruído pelas obras da Usina Hidroelétrica Teles Pires, e com isso já estamos perdendo parte importante de nossa história de origem ancestral. Além disso, a violação de nosso cemitério sagrado representa um grande risco espiritual, cultural, social e ecológico, não só para os Munduruku, mas também para os parentes Apiaká e Kayabi, que semelhantemente consideram as 7 Quedas um lugar sagrado para eles, bem como, relevante para o patrimônio cultural e histórico da sociedade brasileira como um todo.

Assinam este documento caciques, lideranças, guerreiros e povo Munduruku.

Enviada por Fernando Forte Stuchi para Combate Racismo Ambiental.

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