Atingidos fazem protesto contra a mineradora Belo Sun

MAB

Dezenas de famílias da Volta Grande do Xingu ocuparam o escritório e o alojamento da mineradora transnacional canadense Belo Sun na Vila da Ressaca e porto do Itatá na manhã de ontem (30 novembro). Eles exigem a saída da empresa da região e o retorno da atividade garimpeira, que sustenta os moradores do local e está impedida pela Belo Sun.

O morador Francisco “Piauí” denuncia que a Belo Sun já está comprando terra na região a mais de três anos, no entanto, a transnacional não tem ainda nem a Licença de instalação (L.I). Com a Liberação da Licença de Operação (LO) da Barragem de Belo Monte, as comunidades que vivem naquela região temem que seja liberado a L.I da Belo Sun.

Segundo Valdemir do Nascimento, da cooperativa de garimpeiros (COOMGRIF), a Belo Sun nunca sentou para negociar a pauta de reivindicações. “No início, quando ela se instalou na região, a empresa falou que iria realocar as cerca de 500 famílias, no entanto, agora não fala em relocar mais ninguém”.

Para o morador Ideglam Cunha “essas empresas só conversam e negociam com o povo se a gente fizer greve, por isso, é importante nós estarmos organizados com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) pra fazer a Belo Sun e Norte Energia sentar com nós e resolver esses problemas.”

Segundo o morador José Pereira Cunha, “a Belo Sun veio do Canadá pra fazer o que bem quer aqui na região, e todos os governos aceitam isso, eu queria ver se fosse um de nós brasileiros ir minerar lá no Canadá pra ver não seriamos chutados de lá”.

Devido à mobilização, a empresa canadense chamou os atingidos para reunir-se no próximo dia 14. Até essa data, os veículos da Belo Sun deixarão de circular pelo local.

Duplamente atingidos

A situação das famílias da Volta Grande é preocupante, pois são duplamente atingidas pela construção da maior barragem nacional e maior projeto de exploração a céu aberto de ouro do Brasil. A região da Volta Grande do Xingu (cerca de 100 km de extensão) terá vazão reduzida para a água ser desviada ao canal que levará a água para as turbinas de Belo Monte.  Dessa forma, neste mês de dezembro já se prevê a redução de 75% da vazão do rio Xingu em relação ao mesmo mês no ano mais seco (98-99) registrado.

Já a Belo Sun irá aproveitar a redução da vazão do rio e a energia gerada por Belo Monte para espoliar cerca de 100 toneladas de ouro no período de 17 anos. Para isso, está tentando arrecadar na bolsa de valores cerca de U$ 300 milhões para poder iniciar a instalação e operação da mina de ouro. “Se a Belo Sun conseguir levantar esses recursos financeiros, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (órgão licenciador) irá liberar a L.I para a Belo Sun começar a lucrar bilhões e mandar o lucro para fora do país”, afirma Jackson Dias, militante do MAB na região do Xingu.

O militante também explica que nesse processo de exploração do ouro serão removidos cerca de 80 milhões de toneladas de rochas e a substância utilizada para separar o ouro das impurezas será o cianeto, com poder altamente destrutivo. “As famílias ficarão a menos de um quilômetro da barragem de rejeitos, com substância piores do que as que em tese estavam presentes na barragem da Samarco (Vale/BHP Billiton) [que rompeu em Minas Gerais] e com o nível de risco e dano maiores, pois na região amazônica a barragem de rejeitos (construída com rocha e barro) estará sujeita a todos os tipos de intempéries”, afirma Jackson.

Para o pescador e morador da Ilha da Fazenda, Chiquinho, não dá para as famílias ficarem na situação que estão, pois “nós somos duplamente atingidos”, seja pela redução da vazão do rio Xingu ocasionada pela barragem de Belo Monte seja por ficar há apenas 800 metros de onde se prevê instalar a barragem de rejeitos da Belo Sun.

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