Mais de duas semanas depois, descaso segue nas regiões afetadas pelo rompimento de barragens

Além de Bento Rodrigues, outras comunidades estão invadidas pela lama das barragens.

Por Joana Tavares, Brasil de Fato

Em Paracatu de Baixo, distrito de Mariana, quase todas as casas, a escola, bares, comércio, igreja, quadra estão cobertos ou soterrados pela lama, que chegou três horas depois do rompimento das barragens de rejeitos de Fundão e Santarém, da mineradora Samarco, no distrito de Bento Rodrigues. Mais de duas semanas depois do terror, a comunidade parece um cenário de guerra: o que sobrou, agora é um deserto. Há alguns caminhões que retiram parte dos rejeitos e os levam não se sabe pra onde. Os poucos homens que trabalham são de empresas terceirizadas da Samarco, como a Integral, a mesma para a qual prestavam serviço a maior parte dos trabalhadores que estavam dentro das barragens no momento do rompimento.

Diretores da Samarco, da Vale ou BHP Billiton, mega empresas que controlam a mineradora, não estão em Paracatu de Baixo. O Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar, a Assistência Social também não. Nenhum representante da prefeitura ou do estado acompanha o trabalho dos funcionários da Integral ou conversa com as poucas pessoas que permanecem na cidade fantasma.

“Aqui foi um lugar bom de viver. Tinha a igreja, que a gente vinha todo domingo. Deus protegeu que minha casa não foi atingida. Essa propriedade é minha e eu não vou embora e largar ela não. A gente é pobre, lutou muito pra conseguir”, diz seu Divino dos Passos, um dos poucos que permaneceu, apesar da falta de água, de luz e de informação.

A mulher e filhos foram para “hotéis” e pousadas na cidade de Mariana, assim como a maior parte dos atingidos de lá e de Bento Rodrigues. Outros foram ainda para casas de parentes na região.

O roteiro de Paracatu de Baixo se repete ao longo das dezenas de cidades e distritos diretamente afetados na região: falta de informação, falta de suporte, descaso, medo.

Lama segue contaminando tudo pela frente

A lama que destruiu o povoado de Bento Rodrigues e matou dezenas de pessoas (o número oficial por enquanto é 11, mas estima-se em muito mais), arrasou Paracatu de Baixo, inundou a praça de Barra Longa, chegou a dezenas de comunidades rurais e comunidades como Gesteira, Paracatu de Cima, Ponte do Gama, Pedras, Campinas e outras.

A lama deixou Governador Valadares, a 300 km, sem água por mais de uma semana. Atingiu Colatina, no Espírito Santo. E segue em direção ao mar, onde vai impactar muito.

Eduardo Barcelos, professor da Escola Politécnica Joaquim Venâncio/Fiocruz e engenheiro ambiental formado pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), destaca que a lama, além de seus componentes tóxicos, arrastou tudo pela frente. “Esse material é uma mistura de água com lama do processamento do ferro. Essa lama contém outros metais, de componentes tóxicos e cancerígenos. Esses metais no corpo humano, no solo, nas águas, nos animais, pode gerar consequências graves. A reação do metal no metabolismo não é imediata, mas de médio e longo prazo”, destaca.

Imagem: “Não vou largar o que tenho. A gente é pobre e lutou para conseguir” | Foto: Joana Tavares

Comments (1)

  1. Tânia por causa das minhas postagens sobre a tragédia de Mariana , e quase toda MG , enviaram virus para meu computador e até mesmo para o meu moldem . Não me impediram de postar esta matéria do seu Blog , então copiei e usei outra foto….Querem me calar….mas não conseguiram!!!!

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