Dois dias após ataque paramilitar, crianças Guarani e Kaiowá seguem desaparecidas em Mato Grosso do Sul

Nota: segundo a Procuradoria da República em Ponta Porã, haveria apenas uma criança desaparecida, Diego Pereira, de dez anos. Matias Rempel aponta outras duas crianças, entretanto. Em meio à angústia e à revolta, as informações continuam contraditórias. (TP)

Por Matias Rempel, Cimi Regional Mato Grosso do Sul

Passadas mais de 48 horas após um ataque violento, em ação paramilitar, contra um acampamento instalado pelos indígenas Guarani e Kaiowá na fazenda Madama, incidente sobre a terra indígena de Kurusu Ambá, as duas crianças indígenas seguem desaparecidas.

G.L.G, de 11 anos, e T.V.B, de 10 anos, sumiram sem deixar rastros em meio a chuva de tiros disparada pelos agressores, ao mesmo tempo em que era ateado fogo no acampamento indígena, queimando todos os pertences da comunidade. Os Guarani e Kaiowá não descartam a hipótese das crianças terem sido sequestradas. No ataque, por muito pouco uma criança não acabou carbonizada, como relatou nota do Ministério Público Federal, publicada no fim da tarde desta sexta-feira, dia 26.

Tape Rendy, indígena Guarani e Kaiowá desabafou: “Estas crianças se criaram aqui, conhecem bem este terreno, já deviam ter voltado. A comunidade está revoltada. Não aguenta mais a dor pelos pequenos que sumiram. Se eles levaram não será a primeira vez. Perguntem nas aldeias, sempre levam crianças”.

Após o incidente, o deputado Paulo Pimenta, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, que veio pessoalmente ao Mato Grosso do Sul apurar os danos e violações causados pelos ataques e garantir a proteção dos indígenas, solicitou uma equipe de busca para encontrar os meninos. Em ação conjunta com o Procurador da República, Ricardo Pael, também garantiram a presença de aproximadamente 30 soldados da Força Nacional que passaram a atuar na segurança dos indígenas nas retomadas.

Na manhã de hoje, após a confirmação do desaparecimento e tendo-se passado mais de 48 horas do ataque cometido contra os indígenas, iniciou-se as buscas pelos dois pequenos Kaiowá. Uma equipe formada por membros da Operação Guarani da Funai e soldados da Força Nacional, buscou durante toda a manhã pelos meninos. Vasculhou todo o território compreendido como Kurusu Ambá sem, porém, obter nenhum sucesso. A equipe esteve em todas as casas, dispostas ao longo de três núcleos familiares (acampamentos) indígenas e posteriormente percorreu todo o entorno, entrando inclusive na sede reocupada pelos produtores, mais uma vez sem ter nenhum sinal das crianças.

O grupo partiu no início desta tarde para outras terras indígenas da região com esperança de que os pequenos, apavorados após o ataque, possam ter se dirigido para algumas delas procurando abrigo. A terra indígena mais próxima é Taquapery, que fica a mais de 20 km do local dos incidentes. Após Taquapery, as distâncias ganham quilômetros consideráveis.

Informações sobre as crianças desaparecidas

G.L.G, 11 anos, é filho de Mario Lescano e Eliane Gomes. T.V.B, 10 anos, e é filho de Lenivaldo Vasques e Maria Lucia Martins. Ambos da etnia Guarani e Kaiowá.

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