Doença em peixes preocupa a população e levanta suspeita de contaminação das águas do Rio Jequitinhonha

Maria Eliza Cota e Francy Eide Leal*, ASA

Quem vive com ou do rio vem percebendo mudanças na qualidade da água e o desaparecimento de espécies nativas de peixes após a construção das Barragens de Irapé e Itapebi, em Minas Gerais. Recentemente alguns peixes têm apresentado feridas e infecções, o que preocupa muito toda a população do Vale do Jequitinhonha, e levanta a suspeita de que as águas do rio também estejam contaminadas. Para debater e encaminhar propostas sobre assunto, no dia 08 de maio, Sociedade Civil e Poder Público do Baixo Jequitinhonha se reuniram em Almenara.

Na reunião discutiu-se o laudo do Laboratório de Doenças de Animais Aquáticos da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que analisou dois peixes adultos capturados no lago de Irapé, no município de Grão Mongol. Os peixes foram submetidos à necropsia sistemática, exame bacteriológico e exame virológico.

Segundo o Laudo “Os resultados dos exames laboratoriais indicam a infecção dos animais avaliados pelas bactérias Edwardsiella tarda (peixe 1) e Aeromonas hydrophila (peixe 1 e 2). Esses microrganismos são patógenos clássicos de peixes, mas também frequentemente encontrados no trato gastrointestinal de animais sadios e na água. Em geral, para que animais de vida livre sejam acometidos por esses patógenos é necessária a presença de fatores de risco como má qualidade da água (grande quantidade de matéria orgânica, redução de oxigênio dissolvido, compostos nitrogenados em excesso, contaminantes na água, amplitude térmica elevada na água etc.), bem como, situações de estresse por problemas ambientais ou ação antrópica. Esses fatores de risco podem estar ocorrendo no local de origem dos animais e predispondo a infecção e as lesões, devendo ser avaliados. Em casos de infecção pelos patógenos mencionados é recomendada a realização da antibioticoterapia oral dos peixes. Porém, essa prática é inviável para animais de vida livre”.

Segundo Aline Ruas do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), desde o início dos trabalhos do Movimento na região do Médio Jequitinhonha há três anos foram relatados problemas de má qualidade da água, pessoas com doenças de pele, abandono das comunidades por falta de água potável, peixes contaminados dentre outros problemas. A partir deste ano começaram a trabalhar com os pescadores e pescadoras do Baixo e viram que os problemas são os mesmos. “Onde tem a barragem está acontecendo esse problema, o que levanta a suspeita que Irapé seja a causadora desses efeitos no rio”, disse Aline.

Para o MAB outro ponto importante é a realização de um laudo dos impactos de Irapé em toda a Bacia Hidrográfica do Rio Jequitinhonha, não só a contaminação da água, como também questões produtivas que forçam o êxodo para as grandes cidades.

Segundo participantes da reunião a Cemig nega que seja a barragem a causadora da contaminação dos peixes. Para Ariosvaldo Teixeira, presidente da Colônia de Pescadores Z13, é do rio que os pescadores tiram o sustento, se não tiver peixe com qualidade não há condições de sobreviver, alguns já estão passando necessidade, quando pega o peixe não querem comprar. “A má qualidade da água está afetando também a saúde das pessoas que dependem do rio. Os pescadores estão com manchas no corpo, coceira e outros problemas de pele. Todo dia que toma banho tem coceira no corpo”.

Faz-se urgente a realização da análise da composição física, química e biológica da água do Rio Jequitinhonha, com ela identificam-se os contaminadores e os riscos à saúde da população que depende do Rio Jequitinhonha.

Encaminhamentos Coletivos

Na reunião os representantes das organizações da sociedade civil e do poder público de nove municípios do Baixo Jequitinhonha encaminharam a realização de Audiências Públicas Locais convocadas pelas Câmaras dos Vereadores para conscientização nos municípios; realização de Audiência Pública Regional convocada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais; e ação conjunta no Ministério Público pedindo investigação do caso. As datas ainda não foram informadas. Espera-se que as autoridades tomem conhecimento da situação e se posicionem, muitas famílias dependem direta ou indiretamente do rio para sua sobrevivência.

Clique aqui e acesse o resultado completo do exame laboratorial dos peixes.

*Maria Eliza Cota é comunicadora popular da Cáritas Diocesana de Almenara/Baixo Jequitinhonha; Francy Eide Lea, comunicadora popular da ASA.

Imagem: Reunião discutiu resultado do laudo sobre contaminação. | Foto: Imagem retiradas do vídeo de Ariosvaldo Texeira

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