Criança indígena morre vítima de desnutrição em Mato Grosso do Sul – [mais uma!]

Nota: pensei bastante antes de decidir postar esta matéria. Culpar a mãe (ou a família) é sempre o caminho mais fácil e já naturalizado nesses circunstâncias. A Sesai pode e deve ser responsabilizada por negligência, em mais esta morte de uma criança indígena. E não só ela, na verdade, se considerarmos o quadro maior de não cumprimento da Constituição de 1988. Não podemos continuar omissos quanto a essa realidade! (Tania Pacheco) 

Por Valéria Araújo, no Dourados Agora

O fantasma da desnutrição volta a “assombrar” o território indígena em Mato Grosso do Sul. No último dia 19, uma criança da etnia Kaiowá, de apenas um ano e um mês, morreu no Hospital Regional de Amambai com grave quadro de desnutrição, desidratação e diarreia. O bebê, do sexo masculino, pesava 4,9 quilos com mais de um ano de vida.

Trazido pela mãe, o indiozinho deu entrada no hospital no último dia 18, às 20h20. Ficou no balão de oxigênio, mas não resistiu ao grave quadro de desnutrição e morreu. A criança já esteve internada por outras vezes naquele hospital. No dia 20 de novembro do ano passado, foi tratada de fraturas depois que caiu do carrinho. Na ocasião, o menino de 8 meses pesava 6,3 quilos, dois quilos a mais do que se encontrava com pouco mais de um ano.

No dia 10 de abril deste ano, a criança deu entrada no hospital com lesão por assaduras. A mãe do menino não esperou o término dos atendimentos médicos e teria fugido do hospital, levando o bebê. Segundo informações apuradas pelo Dourados Agora, a mãe não tinha paradeiro certo dentro das aldeias daquela região. Até março deste ano ela teria vivido na Aldeia Amambai. Depois migrou para a Aldeia Limão Verde, onde vive hoje.

Para o Conselho Local de Saúde Indígena, houve negligência por parte da família e por parte da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Conforme membros do Conselho, as equipes de Saúde deveriam ter detectado a doença do menino e tomado providências em relação ao quadro. “A mãe mudou de lugar, mas estava dentro das reservas. É o que eu falo, não tem ambulâncias, medicamentos e atendimento adequado dentro das aldeias aqui. Queremos que as autoridades descubram onde está a falha e que a corrijam para evitar mais mortes. Este ano uma gestante morreu por falta de socorro. Precisamos de ajuda”, clama liderança que preferiu não ter o nome revelado por medo de represarias.

Protestos

No ano passado a comunidade indígena de Amambai, formada por 13 mil índios, protestou contra o que eles chamam de “sucateamento” do polo regional da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), com sede em Amambai.

Além da falta de medicamentos, os indígenas denunciaram que profissionais de saúde trabalham com equipamentos obsoletos e são obrigados a usarem viaturas e transportar pacientes em ambulâncias sucateadas, entre outros problemas de ordem administrativa.

Outro lado

A assessoria de comunicação da Secretaria Especial de Saúde Indígena informou ao Dourados Agora que a morte da criança é um caso isolado. Ressaltou que a criança não ficou sem assistência das equipes de Saúde e que a mãe da criança fez a retirada dela do hospital antes mesmo de receber alta. A Sesai informou ainda que a família mudou de aldeia por 5 vezes, o que dificultou a localização. As equipes também enfrentavam resistência da mãe, segundo a Sesai. A Secretaria informou que este é o segundo filho deste casal que morre por desnutrição por falta de cuidados da família. Informou ainda que um dos grandes avanços da Secretaria foi a redução da desnutrição em MS. Em 2007 centenas de crianças indígenas morreram por desnutrição nas aldeias de MS.

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