Um mês depois da ação das mulheres, CTNBio pretende votar liberação de eucalipto transgênico

Votação anterior foi adiada após ações de mais de mil mulheres do MST, que ocuparam uma área da Suzano e destruíram as mudas de eucalipto

Por Maura Silva
Da Página do MST

Foi necessário pouco mais de um mês apenas para que a votação sobre a liberação de plantio comercial de eucalipto transgênico voltasse à pauta da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

A votação, que aconteceria no dia 05/03, mas adiada após 1000 mulheres do MST ocuparam a sede da Futuragene (empresa da Suzano Papel e Celulose), em Itapetininga (SP), e em paralelo, manifestantes interromperem a votação em Brasília no prédio da Agência Espacial Brasileira (AEB), está novamente marcada para o próximo dia 9 de abril.

Para Paulo Kageyama, integrante da CTNBio e professor da Universidade de São Paulo, o projeto continua sendo um erro. Para ele, velar a votação adiante significa um retrocesso ambiental para o nosso país.

“A primeira audiência foi adiada devido ações do MST, mas, infelizmente, o processo continua em andamento. No próximo dia 9, vou apresentar um documento de vistas do processo à comissão de votação. Nele estão contidos os quatro aspectos fundamentais que determinam que a negação do pedido de liberação é o mais acertado”, observa o professor.

Os quatro pontos a que Kageyama se refere são:

· A aceleração do processo de crescimento e amadurecimento de uma árvore de sete para quatro anos e meio. Segundo estudos, o maior consumo de água acontece nos primeiros quatro anos de plantio, cerca de 30 litros de água potável por dia. Com o processo natural esse consumo de água tende a ser triplicado.

· O prejuízo na produção de mel. Hoje, 80% do mel brasileiro é certificado como orgânico. A liberação do eucalipto transgênico tende a interromper essa lógica que vai afetar os 350 mil produtores de orgânico do país.

· O prejuízo na exportação de mel, afetando a economia do país. Os critérios do Forest Stewardship Council (FSC) não aceitam variedades transgênicas para certificação florestal. O Brasil é o maior produtor de mel orgânico, só no ano passado foram 16 mil toneladas de mel de eucalipto. Essa produção será contaminada após a liberação do transgênico.

· Contaminação do pólen transgênico, ninguém pode assegurar que, 20 ou 30 anos depois de plantada, uma entre milhares ou milhões de árvores transgênicas não possa florescer e contaminar árvores “normais” da mesma espécie, tornando sua descendência estéril.  Isso além do fato de que o pólen de árvores pode ser levado pelo vento a distâncias enormes, atravessando inclusive fronteiras entre países.

Com o documento em que esmiúça essas e outras negativas para liberação do eucalipto, Kageyama espera chamar a atenção dos votantes para os impactos que a liberação do eucalipto transgênico pode causar para o meio ambiente e as gerações futuras.

Foto: Ação das mulheres do MST na sede da Futuragene, que impediram a votação no dia 5 de março

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