Sul da Bahia: Povos indígenas participam da I Conferência Nacional dos Jovens Advogados

Foi realizada entre os dias 19 e 20 de março de 2015, no Centro de Convenções de Porto Seguro – BA, a I Conferência Nacional do Jovem Advogado.  O evento realizado pelo Conselho Federal da OAB com o apoio da Seccional baiana, e a participação das demais seccionais do País teve como tema: “Empreendedorismo Jurídico e Cidadania”. O objetivo do evento foi debater os principais temas do universo do advogado em início de carreira, a fim de orientá-los e prepará-los para o mercado de trabalho.

A conferência contou com a dinâmica de workshop de oratória jurídica, palestras e debates sobre temas relevantes para a advocacia, como o sistema carcerário nacional, novo código de ética e publicidade na advocacia, prerrogativas, sociedade de advogados, a importância da mulher advogada, entre outros.

A presença dos povos indígenas Pataxó e Tupinambá da Serra do Padeiro, se deu em vários momentos do evento. Na mesa de abertura com a presença da jovem liderança Juari Pataxó atual superintendente de assuntos dos povos indígenas de Porto Seguro e ainda na abertura do evento houve um momento de apresentação do ritual do Toré do povo Pataxó para todos os presentes.

Foto: Eugenio Novaes
Foto: Eugenio Novaes

Houve um momento especial onde diversas lideranças indígenas do sul da Bahia, entre elas o cacique Babau Tupinambá, puderam relatar toda a situação vivenciada pelos povos indígenas da Bahia ao presidente nacional da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho e a diversos presidentes de seccionais regionais da OAB presentes no evento. As lideranças destacaram o intenso processo de criminalização das suas lutas e as diversas violações de direitos, muitas destas violações cometidas pelo próprio governo brasileiro. Os instrumentos legislativos que retiram e ameaças seus direitos, tais como as PECs 21/2000, 00071/2001 e o PL 1610. Os indígenas entregaram uma carta contendo muitas destas violações e solicitando apoio da OAB as suas reivindicações. (Ver carta em anexo)

O presidente Marcus Vinicius se mostrou muito receptivo as reivindicações dos indígenas e relatou que dentro da OAB recentemente foi instituída a Comissão Especial de Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, que tem como objetivo ser um canal permanente de interlocução para a sistematização de uma pauta nacional voltada para as causas indígenas. Foi designada como presidente da Comissão a advogada indígena Joênia Batista de Carvalho, da etnia wapichana.

Ainda sobre as denúncias contra a PEC 215/2000, feita pelas lideranças Pataxó e Tupinambá o presidente da OAB disse que vai aguardar o parecer a ser apresentado pela Comissão, mas, numa avaliação preliminar, entende que há sinais de que a PEC 215 é inconstitucional. Não se pode reduzir direitos fundamentais da pessoa humana por meio de PEC e o direito à terra é um direito dos índios previsto na Constituição de 88. O artigo 60 da Carta Magna, em seu parágrafo 4º, prevê que não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir direitos e garantias individuais.

Quanto as demais denúncias e solicitações Marcus Vinicius sugeriu as lideranças encaminharem um dossiê contendo todas as demandas dos povos indígenas da Bahia a Comissão Especial de Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas e a Comissão de Direitos Humanos da OAB, para que eles possam analisar e apresentar propostas de enfrentamentos a estas situações de violações de direitos e ao mesmo tempo se comprometeu com as lideranças de somar esforços junto as autoridades para resolver as demandas apresentadas pelas lideranças.

Imagem destacada: Eugenio Novaes.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Haroldo Heleno.

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