Juiz rejeita pedido de condenação de professor da Ufes por racismo

Manoel Luiz Malaguti foi acusado de ter dito frases racistas em uma aula. Para juiz, opinião de professor foi ‘fracassada’, mas não constituiu crime.

G1 ES

A Justiça Federal do Espírito Santo rejeitou a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal no Espírito Santo (MPF-ES), que pediu a condenação do professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Manoel Luiz Malaguti, por racismo. A decisão, assinada pelo juiz federal Americo Bede Freire Junior, afirma que a conduta do professor não foi criminosa e que o ato não deve repercutir na esfera criminal. O MPF-ES informou que vai recorrer da decisão.

No mês de novembro de 2014, Manoel Luiz Malaguti foi denunciado por alunos por ter dito frases de caráter racista e preconceituoso durante uma aula. O professor teria dito que “detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro”, por exemplo.

Nesta quarta-feira (18), o MPF-ES pediu a condenação do professor pelo crime de rascismo. Além disso, o órgão também queria o exoneramento do cargo público que ele ocupa e reparação de danos causados aos alunos.

Mas a denúncia foi rejeitada pelo juiz federal Americo Bede Freire Junior. Na decisão, ele afirmou que o discurso feito pelo professor em sala de aula, que foi considerado racista por alunos, representa uma manifestação de um pensamento pessoal do mesmo, e que não ficou provado que ele praticou, concretamente, qualquer ato de discriminação contra determinados alunos.

“O discurso proferido pelo denunciado demonstra o seu pensamento pessoal. Por outro lado, o mesmo discurso não é capaz de demonstrar qualquer fato criminoso que possa ser atribuído ao denunciado”, diz a sentença.

O juiz chamou a opinião do professor de “fracassada”, mas afirmou que não verificou, em nenhum momento, “a real intenção do acusado em menosprezar a cor negra”. Para o magistrado, o professor “Em nenhum momento incitou a classe ou ficou demonstrado que ele conclamava os alunos a concordar ou a praticar determinados atos. Restou demonstrado apenas pelo depoimento dos alunos que estavam presentes na aula do dia 03 de novembro de 2014 que o denunciado não ‘estava aberto’ para discussões”, diz a decisão.

O documento traz, ainda, que “O âmbito da presente discussão é no âmbito administrativo e/ou cível, mas não criminal”.

Volta e protestos

Após ficar suspenso por 30 dias, o educador voltou ao trabalho na Ufes no início do ano letivo. Em protesto, um grupo de alunos que participa de movimentos sociais e coletivos entrou na sala onde o professor dava aula, na noite desta terça-feira (17), usando mordaças e cantaram músicas caraterísticas [sic] do movimento negro. (Veja o vídeo AQUI)

“O objetivo central desse vídeo é que a gente não esqueceu o fato racista. Nós vamos acertar o Malaguti aí, pedindo a expulsão dele, a exoneração, e tirar ele dessa universidade”, contou o universitário João Victor Santos.

Preconceito

Alunos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) denunciaram um professor de Economia por ter dito frases de caráter racista e preconceituoso durante uma aula, no dia 3 de novembro. De acordo com uma publicação feita pelo Centro Acadêmico Livre de Ciências Sociais da Ufes em uma rede social, o professor teria dito que “detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro”, por exemplo.

Na época, cartazes com a foto do mestre e com o título “Professor Racista” foram espalhadas pelo campus. “Ele disse que os negros e pobres não tinham acesso à cultura, deixando claro que eles não atingiram o nível cultural dos brancos. Em seguida afirmou: ‘Estudantes cotistas diminuem a qualidade da universidade. Eu detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro”, relatou uma aluna de 19 anos, na época.

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Nota do Núcleo de Estudos afro-brasileiros sobre o caso de Racismo na UFES

Nota de repúdio do Centro de Ciências Humanas e Naturais da UFES sobre as atitudes do Professor Manoel Luiz Malaguti

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Destaque: foto capturada de vídeo disponível na internet.

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