Precisamos falar sobre religião

Por Jean Souza dos Anjos, Em Outro Hemisfério

Semana passada as redes sociais foram tomadas por imagens de jovens marchando na Igreja Universal do Reino de Deus. Eles formariam um exército e se denominariam “gladiadores do altar”. Algumas questões são levantadas nesse caso. Quem são esses jovens que querem ser chamados de “gladiadores”? Trabalham? Moram onde? Quem são as pessoas que treinam esses jovens? Serão militares ou pastores da igreja? Ou os dois? Se a IURD está formando um exército, quem ela vai combater? Que tipo de doutrina essa igreja tem propagado? Quais são as ideias suscitadas por essa instituição religiosa?

Mas a minha pergunta maior, a que me fez escrever esse artigo é: será que a sociedade civil está ciente do que acontece na IURD ou ainda existe aquele velho chavão de que sobre religião ninguém discute? Será que a sociedade civil faz vista grossa a esses fatos assim como faz vista grossa para as construções de santas em espaços públicos com dinheiro público? Ou será que esse é um assunto que não interessa à sociedade civil? Política, futebol e religião são assuntos que devem ser discutidos, refletidos e debatidos sim. E amplamente. Há uma urgência em se discutir sobre religião, fé e política.

Se não basta a presença de Bolsonaros, Felicianos, Eduardos Cunhas, Doutoras Silvanas entre outros inúmeros representantes de igrejas cristãs fundamentalistas, ainda temos também pastores donos de televisões e horários na tv aberta brasileira. Tudo isso misturando poder público e privado. Quem toma conta de isso? Quem pode fazer uma profunda reflexão sobre esse fenômeno que ocorre no Brasil? Será o nosso país um novo nicho formador de seguidores religiosos sem criticidade e autonomia ou todo mundo sabe muito bem o que está acontecendo por aqui?

Precisamos falar sobre religião sim. E isso urge. Precisamos entender o que significa essa larga ampliação das igrejas neopentecostais e o que elas querem formando exércitos de gladiadores. Precisamos saber como operam seus pastores e administradores. Precisamos entender o que querem e o que combatem esses políticos/religiosos fundamentalistas e como eles usam o dinheiro público. E cabe a todos nós da sociedade brasileira um olhar crítico no cenário que ora temos.

Na história recente da humanidade, encontramos as mais cruéis atrocidades. Entre fascismos, nazismos, racismos, intolerâncias religiosas, homofobias, lesbofobias, transfobias, violência contra a mulher e negação de direitos básicos às populações mais carentes vivemos em tempos duros onde a garantia dos Direitos Humanos é uma luta diária. A atenção ao movimento entre as diversas políticas partidárias e as igrejas fundamentalistas nos interpela a preocupação por aqueles e aquelas que vivem em grupos marginalizados pela nossa sociedade. Em tempos duros toda a vigilância é bem vinda. Sigamos.

*Jean Souza dos Anjos, Teólogo e graduando em Ciências Sociais/UFC.

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