Liberdade para plantar: sementes crioulas e seus benefícios para a vida no sertão

Projeto Semear, na ASA Brasil

Na propriedade do agricultor experimentador Carlos Soares de Menezes, conhecido como Seu Carlinhos, tem semente de feijão, milho, fava, alface, coentro, entre outras. Sementes da liberdade, ele diz. Assim denomina as sementes crioulas que armazena em sua casa, na comunidade de Lagoa das Areias, em Monte Alegre, região semiárida de Sergipe. “Ninguém vive sem semente. Coloquei esse nome porque se eu tiver semente dentro de casa, planto quando quiser. Choveu, eu planto”, conta, com orgulho. A ideia surgiu depois de participar de um intercâmbio promovido pela ASA- Articulação no Semiárido, em Minas Gerais. Sempre que pode, seu Carlinhos participa de encontros. Gosta de trocar experiências e, também, de adquirir novas sementes e ampliar a variedade de alimentos que produz.

As sementes crioulas, conhecidas como sementes da paixão ou da resistência, são nativas da Caatinga e adaptadas às características do bioma. Elas costumam passar de geração em geração, contribuindo com a vida de quem mora no campo e, também, com a agrobiodiversidade. Essas sementes reforçam aspectos culturais e identitários do Semiárido e permitem variedades na hora do plantio.

Seu Carlinhos não está sozinho. Também no sertão sergipano, no município de Nossa Senhora da Glória, o agricultor José Augusto da Costa armazena sementes para ter mais qualidade de vida no dia a dia do Semiárido. As vantagens dessa prática ele conhece muito bem, pois há mais de 15 anos faz a estocagem. Entre elas, cita o custo reduzido e a adaptabilidade às caraterísticas da região.

“As sementes crioulas trazem vida, preservam a nossa cultura”, diz o agricultor Alcides Ferreira, que, assim como Seu Carlinhos e José Augusto, não abre mão de estocá-las. Em sua propriedade é possível encontrar muitas variedades, todas armazenadas em recipientes lacrados, para que não entre ar, a maioria, em garrafas plásticas.

Só de feijão, por exemplo, são 15 tipos diferentes. Quatro de alface, três de couve, seis de milho. Isso sem dizer das sementes de cenoura, beterraba, abóbora, chia, gergelim, quiabo, vagem e fava. O que planta, dá, garante.

Essas experiências foram sistematizadas por jovens integrantes do Projeto ComJovens – Formação de jovens comunicadores(as) e sistematizadores(as) do Alto Sertão Sergipano, realizado pelo Centro Dom José Brandão de Castro em parceria com o Programa Semear.

Por que estocar

Entre outros benefícios das sementes crioulas, vale destacar a contribuição para a soberania e para a segurança alimentar de famílias agricultoras do Semiárido nordestino. Com as sementes em mãos, a mulher e o homem do campo podem produzir uma variedade enorme de alimentos para consumo e, também, para comercialização. Adaptada às características da Caatinga, essas sementes costumam atravessar gerações, contribuindo para conservar a história e a cultura locais. E mais: reforçam a necessidade de cuidar da terra.

Quer saber mais sobre a importância das sementes crioulas para a convivência com o Semiárido? Assista ao vídeo Sementes Crioulas – Tecnologias e Inovações, que traz depoimentos que ajudam a compreender a importância dos bancos comunitários de sementes para o desenvolvimento de comunidades sertanejas.

Foto: Seu Carlinhos é um guardião de sementes crioulas | Foto: Projeto Semear – Manuela Cavadas.

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