Removidos, ocupantes de Nova Tuffy no Alemão não têm para onde ir

Nicole Froio – Rio On Watch

Centenas de famílias foram expulsas da ocupação favela Nova Tuffy no Complexo do Alemão, no dia 16 de dezembro. Mais de 2.000 pessoas estavam vivendo na fábrica abandonada, propriedade do empresário Tuffy Habib, a sete meses, pois não tinham condições de pagar o aluguel após o aumento dos custos na região.

A Polícia Militar chegou no edifício ocupado às 6h e iniciou o processo de retirada das pessoas do prédio às 8h. Os ocupantes saíram do prédio pacificamente, embarcando em seis ônibus com destino ao Olaria Atlético Clube para serem registrados pela Secretaria Municipal de Habitação (SMH) para receberem subsídio de habitação social ou serem colocados na lista de espera do programa habitacional Minha Casa Minha Vida (MCMV).

Gizele Martins, jornalista d’O Cidadão, relatou: “Mesmo sem truculência policial, o grande número de policiais era assustador, é questionável como a questão habitacional na favela é tratada como um caso de polícia”.

Gizele também falou com um ocupante que lhe disse: “Depois da entrada do PAC as casas valorizaram muito, o aluguel aumentou muito, está R$800 uma casa pequena. Eu ganho um salário mínimo, como eu vou pagar? Não posso!”.

As mídias comunitárias do Complexo do Alemão cobriram a desocupação o dia todo, relatando que o cotidiano de muitos moradores foi interrompido pois a polícia bloqueou a Avenida Itaoca durante a maior parte do dia. Nenhum ônibus, moto-táxis ou carros eram autorizados a passar.

O Coletivo Papo Reto relatou que muitos dos ocupantes não foram autorizados a entrar para se cadastrar ao chegar no Olaria Atlético Clube.

Eles relataram: “E a saga dos moradores da Tuffy continuam. Só que agora eles estão sendo impedidos de entrar no Olaria Atlético Club pra onde foram levados para serem cadastrados pela Secretária de Habitação. Clima tenso no local. Batalhão de choque já esta presente e dentro do local”.

Após os ocupantes conseguirem se inscrever, eram mandados para um abrigo próximo, chamado Centro de Recuperação Rio Acolhedor, em Paciência. O RioOnWatch falou com a ocupante Marlene por telefone, que disse que a maioria das pessoas foram recusadas, já que o Centro Rio Acolhedor é um abrigo para viciados em drogas: “A polícia nos deixou no final de uma estrada e falou para andar em linha reta até o abrigo. Quando chegamos lá, eles nem sabiam que a gente tava chegando e nós não poderíamos ficar porque era um abrigo para viciados. Eles foram bons e nos deram comida, mas as mães com crianças pequenas não puderam ficar”.

Marlene estava na ocupação com dois de seus filhos e agora irá ficar com seu irmão até que uma solução apareça.

“Por causa do teleférico, o aluguel agora é muito caro e eu não posso pagar”, explicou ela. Ela também disse que ela não poderia ter ficado no abrigo em Paciência, pois trabalha em um hospital perto da ocupação e se mostrou preocupada com as pessoas que não têm parentes para abrigá-las após a remoção.

O RioOnWatch contatou o abrigo Rio Acolhedor, que esclareceu que eles não foram capazes de abrigar a maior parte das famílias porque o abrigo é para adultos, e crianças não estão autorizadas a permanecer lá de acordo com a lei. Eles também disseram que cerca de 36 famílias foram trazidas a eles, mas foram mandadas para o abrigo Família Maria Teresa, em Jacarepaguá na Zona Oeste.

O Coletivo Papo Reto relatou mais tarde que, após a remoção, habitações e lojas construídas por residentes de Nova Tuffy foram destruídas (veja as fotos aqui).

“Depois de construir comércio, casas e vidas na Tuffy, moradores assistem tudo ser destruído em frente de seus olhos “, eles relataram.

Foto: Os moradores de Nova Tuffy são forçados a deixar a ocupação de sete meses. Foto cortesia do Jornal de Notícias do Alemão.

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