Exibição do documentário sobre Mãe Raidalva encerra atividades do Novembro Negro

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A exibição do documentário ‘Igi Obá Nile – Memórias de Mãe Raidalva’, seguido de um bate-papo com a protagonista, encerrou, nesta segunda-feira (1º), a primeira Mostra de Cinema Negro, realizada desde a semana passada na sala Walter da Silveira, instalada na Biblioteca Pública dos Barris, em Salvador. Esta foi a última atividade da campanha Novembro Negro 2014, organizada pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), com o objetivo de promover a reflexão sobre as políticas públicas, na perspectiva de consolidar e aprofundar o enfrentamento das desigualdades raciais na Bahia.

Resultado de articulação da comunidade do Ilê Axé Oyá Tolá, localizado no município de Candeias, a produção surgiu como um presente para Mãe Raidalva, ialorixá do terreiro, pelos seus 60 anos de iniciação no candomblé. Além de conhecer um pouco sobre esta religião de matriz africana, quem assiste ao documentário tem a oportunidade de ouvir as histórias e ensinamentos da protagonista, que não apenas dedicou sua vida para servir aos orixás e cuidar dos seus filhos espirituais, mas também às causas sociais. Entre as ações, vale destacar a construção de uma creche, que chegou a atender 170 crianças da região, e um ambulatório pediátrico.

“Eu tinha saído de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) quando, de surpresa, me levaram para o lançamento do documentário, em junho deste ano, o que até me incentivou a me restabelecer mais rápido, porque quando cheguei e vi a comunidade em peso, pessoas amigas, fiquei e estou muito feliz”, disse Mãe Raidalva. Para a estudante Alessandra Rita de Almeida, 21 anos, de Goiás, que está na Bahia há um mês, a Mostra é uma oportunidade de aprender sobre as diversas manifestações da cultura negra. “Esta é a primeira vez que ouço falar de Mãe Raidalva. Isto é muito importante para mim, porque me traz memórias da minha ancestralidade”. Na ocasião, também foi apresentada a 3ª edição da revista eletrônica ‘Acho Digno’.

Apoio ao projeto

Todos os membros do terreiro contribuíram para o desenvolvimento do projeto, que foi aprovado em edital do governo baiano, por meio do Fundo de Cultura do Estado. Segundo o filho biológico da protagonista, Maurício Reis, o documentário contribui para a execução da lei nº 10.639/03, que traz a cultura afro-brasileira para os currículos escolares, e deixa registrada a memória do candomblé para as futuras gerações. “Por conta do processo histórico, a trajetória da população negra foi apresentada mais por meio da oralidade. Logo, este é um instrumento para perpetuamos esse conhecimento e incentivarmos outros religiosos a participarem de editais e outros mecanismos disponíveis”.

Ele participou da coordenação do projeto e destacou ainda a importância de “reconhecer a ativista religiosa e social ainda em vida, quebrar paradigmas e desmistificar que terreiro é só coisa negativa”. Sob a direção de Chico Soares e Diosmar Filho, o documentário deve ser apresentado em salas de cinema, escolas e comunidades de terreiros da Bahia e em outros estados do país, “para que as pessoas valorizem e respeitem nossa história afro-brasileira, que está na memória de personalidades como Mãe Raidalva”, afirmou Diosmar.

Mostra de Cinema

A primeira Mostra de Cinema Negro foi realizada de 26 de novembro a 1º de dezembro deste ano, em Salvador. Foram exibidos, como parte das atividades do Novembro Negro, Tango Negro: As raízes africanas do tango’, ‘Atlântico Negro – Na rota dos orixás’, ‘O Dia de Jerusa’, que integrou a programação da 7ª edição do Festival de Cannes, em maio deste ano na França, ‘Serra do Queimadão’, ‘Igi Obá Nile – Memórias de Mãe Raidalva’ e ‘A Boca do Mundo – Exu no Candomblé’, alguns seguidos de debates com diretores.

Presente em todas as exibições, exceto ‘Tango Negro’, Tiago Vianez, 20 anos, sugeriu que a iniciativa fosse ampliada. “Achei muito bacana este projeto, realizado por meio de uma parceria entre as secretarias estaduais de Promoção da Igualdade Racial e da Cultura, para difundir o conhecimento da cultura afro-brasileira, a partir do cinema. Espero que isso se expanda cada vez mais, pois é uma boa oportunidade”.

Mãe Raidalva

A liderança religiosa nasceu no Rio de Janeiro e foi criada no bairro do Engenho Velho de Brotas, em Salvador, sendo iniciada no candomblé pelo babalorixá Raimundo da Cruz, em seu terreiro, Ilê Axé Babá Olufandey, no bairro de Pernambués, na capital baiana. Raidalva contribui para a luta do povo de terreiro, população negra e mulheres negras com base na fé nos orixás, além de realizar trabalhos sociais na sua comunidade e fora dela.

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